João Hasselberg & Pedro Branco
SMUP, Parede
24- Mar 2017
No final de Outubro do ano passado a dupla João Hasselberg e Pedro Branco apresentou ao mundo um belíssimo disco Dancing Our Way to Death. Nesse disco de estreia da parceria, uma edição de autor, eram apresentadas composições originais, interpretadas com elegância por dois músicos em topo de forma, apoiadas por um conjunto de convidados especiais. Poucos meses depois, é agora apresentada a sequela, From Order to Chaos, agora numa edição da reputada Clean Feed.

A dupla assinalou o lançamento do novo disco com actuações na SMUP, na Parede, a 24 de Março e no Portalegre Jazzfest, no dia seguinte. O concerto na SMUP teve lugar no sótão, com os músicos colocados no centro do espaço, ficando rodeados pelo público a toda a volta. O espaço estava cheio, também com muita gente sentada no chão e outra tanta gente em pé, criando um ambiente acolhedor e intimista - também apoiado pela decoração cuidada e pela luz ténue.

Apesar do pequeno intervalo entre a edição dos dois discos, a música tem diferenças significativas: este novo disco é mais aberto à improvisação e à exploração, há menos melodias sentimentais (que marcaram o primeiro), agora a música é mais rugosa. Na SMUP, na Parede, a dupla começou por recordar a música do primeiro disco, conquistando rapidamente o público. O material do segundo disco acabou por ficar para segundo plano, até pela ausência de dois convidados que mais contribuem para a música do segundo disco - Albert Cirera (saxofone) e João Paulo Esteves da Silva (piano).

A guitarra de Branco e o contrabaixo de Hasselberg entrelaçam ritmo e melodia, construindo temas memoráveis a partir de pequenos elementos melódicos. A dupla arrancou a performance com a colaboração do baterista João Lencastre, figura presente em quase todos os temas. Os momentos de maior envolvimento musical aconteceram com a entrada do guitarrista Afonso Pais - as conversas entre guitarras de Branco e Pais foram notáveis, com as frases de cada um a sobreporem-se, num perfeito diálogo. Especialmente memorável foi a interpretação do tema “The Heart is a Lonely Hunter”, com a dupla de guitarras a alimentar a ternura sonora do tema.

O grupo passou por momentos mais abrasivos, atravessando a actuação com momentos de maior tensão e energia. Para fechar, a dupla repescou um dos momentos mais marcantes do primeiro disco, “Eyes from Above”. Se na versão gravada a voz de Afonso Cabral rouba o protagonismo, esta versão despida de voz não deixou de ser arrepiante, na sua simplicidade e eficácia. Já no encore, a dupla interpretou uma breve cover instrumental do clássico “My Girl”, fechando o concerto com descontracção. Ficamos agora a aguardar mais actuações do grupo, para que possam apresentar a música do novo disco na sua plenitude, com a participação de todos os convidados.
· 29 Mar 2017 · 20:25 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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