João Dória / Sallim
Lounge, Lisboa
20- Nov 2014
Poucas coisas farão alguém sair de casa numa noite fria e chuvosa (fora, claro, as obrigatoriedades ditadas por um emprego merdoso). A perspectiva de poder ver, ao vivo, um nome que nos garantem estar a criar algo de muito interessante, musicalmente falando, será uma delas. Daí que ao Lounge, numa quinta-feira de Novembro, acorram uns quantos carolas com o objectivo de testemunhar como Sallim - o nome de nascimento é-nos desconhecido, mas pouco importa - transpõe para este contexto as suas canções, feitas em casa, no conforto de um quarto.

© Rita Sousa Vieira

Antes disso, João Dória, a personagem que dentro da Cafetra mais próxima está de a vermos como uma verdadeira rock star, toma de assalto os ouvidos dos presentes com vinte minutinhos mais ou menos de magia free em que a sua guitarra transforma o som em algo alucinado, disperso, fazendo do som electricidade qual Fahey ribombando por entre a noite escura, ou um Bill Orcutt eléctrico à procura de um lugar. O João já tinha os seus - Os Passos Em Volta, p. ex. - mas, como ser humano que se preze, não quer ficar preso a uma só coisa (ou coisas). Ainda bem para nós.

© Rita Sousa Vieira

A noite era sobretudo de Sallim, tantos elogios havíamos ouvido após o concerto dela com João Marcelo, ou Éme, há umas semanas, na Casa Independente. Se aí terá dado um ar da sua graça, esta noite apresentou-se verdadeiramente à cidade, levando-nos a indagar se alguém alguma vez lhe terá dito que ela é absolutamente incrível, quase a nossa Scout Niblett, amiga em Portugal de Vini Reilly através do tímido jangle que lhe sai das seis cordas, miúda que consegue transformar uma canção sobre uma laranja em algo simultaneamente triste e fascinante. Havemos ainda de escrever bastante sobre ela; para já elogiamos-lhe o trabalho e surripiamos-lhe a setlist, cuidadosamente escrita, disposta sob os pedais de efeitos. Assim dá gosto apanhar uma molha.

© Rita Sousa Vieira
· 23 Nov 2014 · 00:03 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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