Trips Ă moda do Porto
Passos Manuel / Maus Hábitos, Porto
08 Nov 2008
As expectativas eram muitas para esta noite. Tantas que até a televisão decidiu dar um ar da sua graça. O festim, com nome inventado por colaborador cá da casa após concurso lançado em jeito de passatempo, assumia a Rua Passos Manuel como ponto de encontro de sonoridades distintas e algo periféricas. O Passos Manuel recebia a folk ou a folk do passado e o Maus Hábitos recebiam o rock. Tudo o que a organização pedia era que os possuidores do bilhete passassem a rua assim que as celebrações terminassem num lado – com o cuidado necessário, claro está – para que a festa continuasse no outro. O Porto com gente na rua – e é cada vez mais – é algo bonito de se ver.
As expectativas eram tambĂ©m muitas para o concerto de Six Organs of Admittance, a entidade conduzida por Ben Chasny. Ele que era o senhor acĂşstico – apesar da experiĂŞncia Comets on Fire – Ă© agora o senhor elĂ©ctrico, e para isso contou com um baterista e com Elisa Ambrogio dos Magic Markers para tentar levar o barco a bom porto, mas com resultados bastante negativos. NĂŁo Ă© pelo facto de Ben Chasny soar tĂŁo elĂ©ctrico – algo totalmente legĂtimo; mas sim porque a coisa raramente pareceu resultar, ao contrário daquilo que acontece em disco.
Só em raras ocasiões toda aquela electricidade funcionou e para isso muito contribuiu a poderosa forma de tocar guitarra de Elisa Ambrogio, já que o baterista pareceu muitas vezes estar noutro local. Six Organs of Admittance no Porto esteve sempre muito longe de bem explorar todas as suas potencialidades.
Seguiu-se o britânico James Blackshaw na sua guitarra de 12 cordas a mostrar classe em todos os cantos. Encurtou a sua actuação por motivos de saĂşde – algo lhe terá caĂdo mal no estĂ´mago durante a estadia em Portugal – mas aqueles minutos em que esteve em palco valeram e muito. A forma melancĂłlica como percorre a sua guitarra pode – e deve – dizer muito a um pĂşblico como o portuguĂŞs. E de facto há algo em James Blackshaw, sobretudo em “Transient Life In Twilight”, que fez parte do set, que lembra bastante Carlos Paredes. A tĂ©cnica Ă© perto de perfeita mas Ă© sobretudo a sensibilidade e escrita que impressionam. E quem ainda nĂŁo escutou Litany of Echoes nĂŁo sabe realmente o que está a perder: Ă© um dos discos mais bonitos do ano.
Já no Maus Hábitos esperava-se canções curtas e cruas dos Sic Alps e assim foi. Rock rasgadinho e com poucas merdas, atirado para a frente e, muitas vezes, confrontacional. Matt Hartman e Mike Donovan sĂŁo os senhores que conduzem o acidentado veĂculo Sic Alps, pouco preocupados com o que rodeia as canções, o que as veste. A preocupação aqui Ă© ser duro e feio. Uma guitarra, uma voz e uma bateria e depois troca tudo e uma vez mais e uma vez mais e uma vez mais. Um está descalço e o outro parece improvisar mais do que o outro. E tudo vai acontecendo assim com a imprevisibilidade que falta a algum rock hoje em dia. E foi mesmo o rock que se celebrou naquele iniciar de festa no Maus Hábitos.
A fechar a noite erguiam-se os Wooden Shjips. Erguiam-se porque o que se levantava era construções longas regadas a um psicadelismo assente nas guitarras, no baixo e na bateria. A voz poderia ir aparecendo mas nĂŁo era um factor essencial no processo. O importante era a edificação de estruturas poderosas que tinham na repetição a chave para o sucesso. Volumes elevados e muitas guitarras, espĂ©cies de loops que se foram perfilando, a certa altura, um tanto ou quanto para alĂ©m do razoável. As explorações, muitas vezes nascidas dos mesmos acordes e sons, foram-se repetindo em demasiado e diminuĂram o impacto inicial. Apesar disso, o balanço Ă© positivo: os Wooden Shjips portaram-se bem numa noite de trips acima da mĂ©dia. Espera-se repetição para 2009.
Six Organs of Admittance © Carlos Oliveira |
As expectativas eram tambĂ©m muitas para o concerto de Six Organs of Admittance, a entidade conduzida por Ben Chasny. Ele que era o senhor acĂşstico – apesar da experiĂŞncia Comets on Fire – Ă© agora o senhor elĂ©ctrico, e para isso contou com um baterista e com Elisa Ambrogio dos Magic Markers para tentar levar o barco a bom porto, mas com resultados bastante negativos. NĂŁo Ă© pelo facto de Ben Chasny soar tĂŁo elĂ©ctrico – algo totalmente legĂtimo; mas sim porque a coisa raramente pareceu resultar, ao contrário daquilo que acontece em disco.
Six Organs of Admittance © Carlos Oliveira |
Só em raras ocasiões toda aquela electricidade funcionou e para isso muito contribuiu a poderosa forma de tocar guitarra de Elisa Ambrogio, já que o baterista pareceu muitas vezes estar noutro local. Six Organs of Admittance no Porto esteve sempre muito longe de bem explorar todas as suas potencialidades.
James Blackshaw © Carlos Oliveira |
Seguiu-se o britânico James Blackshaw na sua guitarra de 12 cordas a mostrar classe em todos os cantos. Encurtou a sua actuação por motivos de saĂşde – algo lhe terá caĂdo mal no estĂ´mago durante a estadia em Portugal – mas aqueles minutos em que esteve em palco valeram e muito. A forma melancĂłlica como percorre a sua guitarra pode – e deve – dizer muito a um pĂşblico como o portuguĂŞs. E de facto há algo em James Blackshaw, sobretudo em “Transient Life In Twilight”, que fez parte do set, que lembra bastante Carlos Paredes. A tĂ©cnica Ă© perto de perfeita mas Ă© sobretudo a sensibilidade e escrita que impressionam. E quem ainda nĂŁo escutou Litany of Echoes nĂŁo sabe realmente o que está a perder: Ă© um dos discos mais bonitos do ano.
Sic Alps © Carlos Oliveira |
Já no Maus Hábitos esperava-se canções curtas e cruas dos Sic Alps e assim foi. Rock rasgadinho e com poucas merdas, atirado para a frente e, muitas vezes, confrontacional. Matt Hartman e Mike Donovan sĂŁo os senhores que conduzem o acidentado veĂculo Sic Alps, pouco preocupados com o que rodeia as canções, o que as veste. A preocupação aqui Ă© ser duro e feio. Uma guitarra, uma voz e uma bateria e depois troca tudo e uma vez mais e uma vez mais e uma vez mais. Um está descalço e o outro parece improvisar mais do que o outro. E tudo vai acontecendo assim com a imprevisibilidade que falta a algum rock hoje em dia. E foi mesmo o rock que se celebrou naquele iniciar de festa no Maus Hábitos.
Wooden Shjips © Carlos Oliveira |
A fechar a noite erguiam-se os Wooden Shjips. Erguiam-se porque o que se levantava era construções longas regadas a um psicadelismo assente nas guitarras, no baixo e na bateria. A voz poderia ir aparecendo mas nĂŁo era um factor essencial no processo. O importante era a edificação de estruturas poderosas que tinham na repetição a chave para o sucesso. Volumes elevados e muitas guitarras, espĂ©cies de loops que se foram perfilando, a certa altura, um tanto ou quanto para alĂ©m do razoável. As explorações, muitas vezes nascidas dos mesmos acordes e sons, foram-se repetindo em demasiado e diminuĂram o impacto inicial. Apesar disso, o balanço Ă© positivo: os Wooden Shjips portaram-se bem numa noite de trips acima da mĂ©dia. Espera-se repetição para 2009.
· 12 Nov 2008 · 00:58 ·
André Gomesandregomes@bodyspace.net
RELACIONADO / James Blackshaw