B. Fleischmann + Christof Kurzmann - Escena Contemporánea
Circulo de Bellas Artes, Madrid
21 Fev 2007
Antes que se pudesse escutar qualquer tipo de som proveniente do palco, um homem de certa idade (presumivelmente da organização) colocou-se em frente da plateia a tratou de abrir a noite com apresentações e considerações sobre o festival Escena Contemporánea (do qual o concerto faz parte), sobre a música de vanguarda e sobre o cenário musical espanhol. Afirmou que as barreiras impostas por Espanha às músicas mais marginais levava a que muitos músicos do país passassem por dificuldades ou tivessem mesmo de sair com direcção a outros poisos na busca de melhores sortes.

O orador da noite contou até a triste sorte de Christof Kurzmann na última vez que esteve em Madrid: roubaram-lhe o computador na zona do Sol (previsível) e teve de trabalhar com o material de outros. Depois de um longo discurso que pareceu impacientar alguns presentes, os austríacos Bernhard Fleischmann (B. Fleischmann para os amigos, que se considera músico freelancer, autor de The humbucking coil e membro da família Morr Music) e Christof Kurzmann entraram na belíssima sala de colunas do Circulo de Bellas Artes (a pouco mais de meio gás); o primeiro sentou-se com um microfone em frente e com um saxofone no chão e o segundo assentou as mãos no laptop e restante parafernália electrónica.

Foi neste sistema que se desenvolveu toda a actuação. Bernhard Fleischmann foi criando as bases das “canções” e foi oferecendo-as a Christof Kurzmann que lhes emprestou a sua voz ou o seu saxofone. Se Bernhard Fleischmann foi exímio a servir electrónica maioritariamente cálida e interessante o mesmo já não se pode dizer de Christof Kurzmann, autor de uma voz bastantes vezes monótona (e monocórdica) e de um saxofone algo duvidoso – excepto quando se tornava mais livre e transgressor. Raras vezes foi possível ouvir uma voz suficientemente atraente para acompanhar as paisagens criadas por Bernhard Fleischmann.

A noite desinspirada de Christof Kurzmann não foi suficiente para estragar a actuação de B. Fleischmann mas não foram raras as vezes em que se imaginou que tudo estaria melhor se apenas B. Fleischmann fosse o único músico em palco. Apesar de tudo o resultado foi bastante positivo. B. Fleischmann foi responsável por algumas navegações de ida mas sem volta (elogio), tão interessantes como os discos que assina.
· 21 Fev 2007 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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