Jacinta
Hot Five, Porto
19 Jan 2007
O Hot Five chegou em Abril do ano passado para preencher um vazio incompreensível na cidade do Porto: clubes de jazz. Juntou-se ao B Flat (que parece andar um tanto ou quanto desaparecido), em Matosinhos, e tem marcado presença na cidade portuense com jam sessions à quinta-feira e concertos regulares à sexta e ao sábado. Por ali já passaram nomes como Carlos Bica e Rui Azul Index. O espaço, situado no Largo Actor Dias, é deveras agradável. Há imagens de grandes cidades e de músicos jazz, há vinho e música a condizer com o lugar. O Hot Five anda nestes dias a procurar atrair os amantes de jazz que se sabe que existem no Porto mas que parecem estar adormecidos. Espera-se portanto que o surgir do Hot Five acompanhe e apoie o tão esperado acordar da cidade.

Jacinta © Joana Pinho

Os dias 19 e 20 de Janeiro estavam reservados para um grande nome: Jacinta, que depois de ter terminado em Dezembro a sua digressão de promoção de Day Dream no Batalha, regressava à cidade do Porto para a estreia no Hot Five. Em palco está um piano e um microfone, apenas. Jacinta surge bonita e acompanhada do seu pianista e parte para um alinhamento que se fez necessariamente de Day Dream, o disco com selo da Blue Note. Não tardou nada até que os seus dotes vocais ficassem em suspenso no palco do Hot Five.

Como reflexo de uma actuação com ponto de partida de Day Dream, a actuação de Jacinta foi-se fazendo do balanço entre canções assinadas por músicos como Duke Ellington e Cole Porter e pelo universo da bossa nova, em regime seriamente intimista. Jacinta a certa altura comentou mesmo já não actuava para uma plateia tão reduzida e tão atenta há muito tempo; confessou que o concerto ganhou por isso uma dimensão quase familiar, apesar de ter afirmado que não existe nada pior do que cantar para a família. Jacinta manteve-se sempre simpática, mesmo quando, repetidas vezes, alguns espectadores numa das mesas tornavam difícil a continuação da actuação. Acerca disso, Jacinta disse que tinha aprendido com Miles Davis as virtudes do silêncio; aquele que tentou visivelmente tocar ao de leve numa determinada ocasião mas não conseguiu – e não foi por culpa sua.

Jacinta © Joana Pinho

O formato em que apresentou as suas canções – algumas delas em versão adaptada ao português no que diz respeito a letras – caiu então especialmente bem naquele intimismo que o Hot Five cria subtilmente. A voz de Jacinta parece ter versatilidade e aquela capacidade de se instalar e adaptar às situações. Foi isso que mostrou num concerto que serviu para apoiar o Hot Five na sua afirmação na cidade do Porto – alguém dizia a certa altura na plateia que os amantes de jazz do Porto estavam sentados no sofá, de chinelos, a ver a telenovela da TVI. Apesar da sala não estar tão cheia quanto Jacinta esperava, a prova foi superada com sucesso.
· 19 Jan 2007 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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