DISCOS
Rodrigo Leão
O Mundo (1993-2006)
· 12 Jan 2007 · 08:00 ·
Rodrigo Leão
O Mundo (1993-2006)
2006
Sony BMG
Sítios oficiais:
- Rodrigo Leão
O Mundo (1993-2006)
2006
Sony BMG
Sítios oficiais:
- Rodrigo Leão
Rodrigo Leão
O Mundo (1993-2006)
2006
Sony BMG
Sítios oficiais:
- Rodrigo Leão
O Mundo (1993-2006)
2006
Sony BMG
Sítios oficiais:
- Rodrigo Leão
Compilação dupla convida a retrospectiva da carreira de Rodrigo Leão. São 13 anos passados e alguns inéditos. O que diz o futuro?
O mundo com que Rodrigo Leão aqui se debate é o seu próprio. Aquele que tem vindo a construir a solo nos últimos treze anos depois das experiências com os Sétima Legião e com os Madredeus. O Mundo (1993-2006) é então uma compilação dupla que se propõe a fazer uma retrospectiva desses treze anos mas não se limita a isso. Avança com cinco temas inéditos (alguns gravados imediatamente depois de Cinema e outros resultado de gravações antigas com update sonoro - alguns deles já com expressão ao vivo), com temas originais regravados e de "Tardes de Bolonha" (Madredeus) e "Ascensão" (Sétima Legião). É um disco que abraça o passado e confronta-o com o presente, ficando por saber se funcionará como uma espécie de fechar de um ciclo de mais de uma década.
O Mundo (1993-2006) é resultado de uma escolha pessoal. Estes são os temas que mais tocaram o próprio Rodrigo Leão. Há o lado mais intimista e minimalista dos seus temas por um lado; e há os temas mais “canção”, mais pop por outro. Há pela primeira vez uma canção em português sem sotaque (“Voltar”), interpretada por Ana Vieira, habitual presença nos palcos que Rodrigo Leão pisa. As vozes são aliás uma parte essencial do disco: além de Ana Vieira temos Ângela Silva, Adriana Calcanhotto, Beth Gibbons, Lula Pena, Rosa Passos e Verónica Silva e até dois coros.
O primeiro inédito é o instrumental “Rua da Atalaia” alimentado a acordeão e a cordas, com perfeito andamento colorido. “Voltar” apanha a boleia e recebe a voz de Ana Vieira num carrossel vagaroso e cuidadosamente arrastado. Daí até ao instrumental “À espera de Sofia” é um passo, teclas e cordas, e outro passo curto (não chega a dois minutos) para terminar. “Solitude” é elegante e nocturna. Chega devagar e rapidamente se instala. Fá-lo em francês mas até o poderia fazer em qualquer outra língua – o desejo de universalidade de Rodrigo Leão aparece a cada canto. Em “Noche” já estamos noutro território e depois de terminados os inéditos visitamos os Madredeus com os sons familiares de “Tardes de Bolonha” – os momentos finais ainda têm a capacidade de espantar.
Ainda no lado A da retrospectiva há que dar devido destaque a um trio sempre presente: “Pasión”, à mais que delicada “Rosa” e a taciturna “A Casa” – existem frases por entre estes três temas que nem todos ousariam dizer em voz alta. São i indubitavelmente algumas das maiores marcas de água de Rodrigo Leão, ainda hoje reconhecíveis nos seus primeiros momentos. Por falar em melodramatismo, Beth Gibbons surge em “Lonely Carousel” da mesma forma como já havia surgido em Cinema: inconfundível. Não será demais repetir que Rodrigo Leão criou um cenário ideal para a diva noir.
No segundo lado da compilação surgem quatro temas que pela sua temática e ambiência fazem todo o sentido apresentados juntos: “Carpe Diem” (numa intocável regravação), “Amatorius”, a sempre perfeita “Alma Mater” e “Ave Mundi”. Todas lançam para o ar uma realidade que se nota nesta segunda metade até ao seu final: a predominância, ainda mais do que na primeira parte, das cordas e das teclas, da composição ligada a vozes líricas - a pop parece ficar para trás aqui. Mas quer na primeira quer na segunda parte desta retrospectiva de Rodrigo Leão, músico singular na música portuguesa, salta à vista a coerência das escolhas e do alinhamento. Embora não o sejam, todos os 27 temas parecem ter sido compostos para esta compilação. E essa ideia de coerência aqui expressa tem as suas raízes em local seguro: na riquíssima carreira de Rodrigo Leão até aos dias de hoje.
André GomesO Mundo (1993-2006) é resultado de uma escolha pessoal. Estes são os temas que mais tocaram o próprio Rodrigo Leão. Há o lado mais intimista e minimalista dos seus temas por um lado; e há os temas mais “canção”, mais pop por outro. Há pela primeira vez uma canção em português sem sotaque (“Voltar”), interpretada por Ana Vieira, habitual presença nos palcos que Rodrigo Leão pisa. As vozes são aliás uma parte essencial do disco: além de Ana Vieira temos Ângela Silva, Adriana Calcanhotto, Beth Gibbons, Lula Pena, Rosa Passos e Verónica Silva e até dois coros.
O primeiro inédito é o instrumental “Rua da Atalaia” alimentado a acordeão e a cordas, com perfeito andamento colorido. “Voltar” apanha a boleia e recebe a voz de Ana Vieira num carrossel vagaroso e cuidadosamente arrastado. Daí até ao instrumental “À espera de Sofia” é um passo, teclas e cordas, e outro passo curto (não chega a dois minutos) para terminar. “Solitude” é elegante e nocturna. Chega devagar e rapidamente se instala. Fá-lo em francês mas até o poderia fazer em qualquer outra língua – o desejo de universalidade de Rodrigo Leão aparece a cada canto. Em “Noche” já estamos noutro território e depois de terminados os inéditos visitamos os Madredeus com os sons familiares de “Tardes de Bolonha” – os momentos finais ainda têm a capacidade de espantar.
Ainda no lado A da retrospectiva há que dar devido destaque a um trio sempre presente: “Pasión”, à mais que delicada “Rosa” e a taciturna “A Casa” – existem frases por entre estes três temas que nem todos ousariam dizer em voz alta. São i indubitavelmente algumas das maiores marcas de água de Rodrigo Leão, ainda hoje reconhecíveis nos seus primeiros momentos. Por falar em melodramatismo, Beth Gibbons surge em “Lonely Carousel” da mesma forma como já havia surgido em Cinema: inconfundível. Não será demais repetir que Rodrigo Leão criou um cenário ideal para a diva noir.
No segundo lado da compilação surgem quatro temas que pela sua temática e ambiência fazem todo o sentido apresentados juntos: “Carpe Diem” (numa intocável regravação), “Amatorius”, a sempre perfeita “Alma Mater” e “Ave Mundi”. Todas lançam para o ar uma realidade que se nota nesta segunda metade até ao seu final: a predominância, ainda mais do que na primeira parte, das cordas e das teclas, da composição ligada a vozes líricas - a pop parece ficar para trás aqui. Mas quer na primeira quer na segunda parte desta retrospectiva de Rodrigo Leão, músico singular na música portuguesa, salta à vista a coerência das escolhas e do alinhamento. Embora não o sejam, todos os 27 temas parecem ter sido compostos para esta compilação. E essa ideia de coerência aqui expressa tem as suas raízes em local seguro: na riquíssima carreira de Rodrigo Leão até aos dias de hoje.
andregomes@bodyspace.net
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