DISCOS
Carlos Bica
Single
· 21 Out 2005 · 08:00 ·
Carlos Bica
Single
2005
Bor Land
Sítios oficiais:
- Carlos Bica
- Bor Land
Single
2005
Bor Land
Sítios oficiais:
- Carlos Bica
- Bor Land
Carlos Bica
Single
2005
Bor Land
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- Carlos Bica
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2005
Bor Land
Sítios oficiais:
- Carlos Bica
- Bor Land
O contrabaixista Carlos Bica, ponta-de-lança do jazz português, vem solidificando a carreira numa equipa chamada Azul. Este trio é composto por Jim Black, o defesa que na bateria contra-ataca com eficácia, e o médio tecnicista Frank Möbus, que dribla com a guitarra. É nesta equipa que Bica mais investe e neste contexto já editou três discos, três refrescantes momentos de jazz em trio: Azul (1997), Twist (1998) e Look What They've Done To My Song (2002). Pelo meio ainda editou o álbum Diz com a cantora Ana Brandão (2000) e colabora em vários outros projectos – com João Paulo, Paul Brody ou Gebhard Ullman, só para nomear alguns.
Em 2005, depois de muitas provas dadas, Carlos Bica apresenta a aventura mais arriscada. Junta-se à Bor Land, a editora independente que comemora neste momento cinco anos de actividade exemplar, e arrisca um disco a solo. O risco é assumido à partida, não há rede: em Single, Bica está sozinho, só há um músico e um contrabaixo. Bica escreve nas liner notes que gravou este disco para explorar a abrangência expressiva do contrabaixo, já que o contrabaixo ainda é relativamente desconhecido como instrumento solista. Na senda de álbuns como Music for Two Basses (ECM, 1971), histórico registo em duo de Dave Holland e Barre Phillips, este disco de Carlos Bica propõe que o estatuto do contrabaixo seja dignamente elevado.
Single é um objecto distante da restante discografia do músico, o afastamento do modelo jazz tradicional é muito claro. Alternando entre o pizzicato e o arco, Bica vai ao contrabaixo buscar os sons que mais se adequam à construção das suas melodias: o arco exponencia a envolvência sentimental; o pizzicato, a técnica mais comum, alimenta os temas com ritmo e harmonia. Entre as dezassete faixas do disco a diversidade é a palavra de ordem: há aproximações à pop, há bocadinhos de música antiga, que convive alegremente ao lado de música de matriz contemporânea – só o improviso é que agora mora longe. As composições são quase todas da autoria de Bica, a única excepção é o tema “Ay! Linda Amiga” (anónimo do século XVI), que já havia sido trabalhado no disco Twist. “Mr. Brody”, “California Is Waiting for Tom” e “Softly As…” são dos momentos mais “fáceis” do disco; “Chão e Bolero”, “Dança para um Folclore Imaginário” e “Canção para o Minho” acrescentam densidade. Em “E o Tempo Deixou de Existir”, a última faixa (e a única com overdubs), ouve-se em simultâneo o arco e o pizzicato, o jogo com os registos do contrabaixo é o final perfeito para o disco. Apesar da diversidade, sente-se no disco uma unidade luzente. Explorando todas as possibilidades do instrumento, sem descurar a atenção para o resultado final para o ouvinte, o objectivo proposto é claramente alcançado, traduzindo-se numa bonita homenagem ao contrabaixo.
Para nos situarmos, o objecto mais próximo que poderemos referenciar talvez seja o Solo Pictórico do seu “rival” Carlos Barretto (CBTM, 2002) - cada um destes músicos tem a sua voz própria, o que se confirma quando tocam em duo (e é um prazer ouvir estes dois talentos reunidos), e de certeza que estes dois discos não se importarão de ser arrumados na mesma prateleira. E já que se fala em “colegas” do jazz português é obrigatório chamar Bernardo Sassetti uma vez que, tal como acontece com o mais recente projecto de Sassetti (o disco Ascent), no Single há uma interligação preciosa da música com a imagem – o booklet recheado de nobre imagens reforça a importância do complemento visual. Mas, verdade seja dita, a música vale por si só. As notas sacadas ao contrabaixo produzem sozinhas imagens suficientes para encher um livro. Single é um marco. É uma declaração de independência sob a forma de poema. E é muito bonito.
Nuno CatarinoEm 2005, depois de muitas provas dadas, Carlos Bica apresenta a aventura mais arriscada. Junta-se à Bor Land, a editora independente que comemora neste momento cinco anos de actividade exemplar, e arrisca um disco a solo. O risco é assumido à partida, não há rede: em Single, Bica está sozinho, só há um músico e um contrabaixo. Bica escreve nas liner notes que gravou este disco para explorar a abrangência expressiva do contrabaixo, já que o contrabaixo ainda é relativamente desconhecido como instrumento solista. Na senda de álbuns como Music for Two Basses (ECM, 1971), histórico registo em duo de Dave Holland e Barre Phillips, este disco de Carlos Bica propõe que o estatuto do contrabaixo seja dignamente elevado.
Single é um objecto distante da restante discografia do músico, o afastamento do modelo jazz tradicional é muito claro. Alternando entre o pizzicato e o arco, Bica vai ao contrabaixo buscar os sons que mais se adequam à construção das suas melodias: o arco exponencia a envolvência sentimental; o pizzicato, a técnica mais comum, alimenta os temas com ritmo e harmonia. Entre as dezassete faixas do disco a diversidade é a palavra de ordem: há aproximações à pop, há bocadinhos de música antiga, que convive alegremente ao lado de música de matriz contemporânea – só o improviso é que agora mora longe. As composições são quase todas da autoria de Bica, a única excepção é o tema “Ay! Linda Amiga” (anónimo do século XVI), que já havia sido trabalhado no disco Twist. “Mr. Brody”, “California Is Waiting for Tom” e “Softly As…” são dos momentos mais “fáceis” do disco; “Chão e Bolero”, “Dança para um Folclore Imaginário” e “Canção para o Minho” acrescentam densidade. Em “E o Tempo Deixou de Existir”, a última faixa (e a única com overdubs), ouve-se em simultâneo o arco e o pizzicato, o jogo com os registos do contrabaixo é o final perfeito para o disco. Apesar da diversidade, sente-se no disco uma unidade luzente. Explorando todas as possibilidades do instrumento, sem descurar a atenção para o resultado final para o ouvinte, o objectivo proposto é claramente alcançado, traduzindo-se numa bonita homenagem ao contrabaixo.
Para nos situarmos, o objecto mais próximo que poderemos referenciar talvez seja o Solo Pictórico do seu “rival” Carlos Barretto (CBTM, 2002) - cada um destes músicos tem a sua voz própria, o que se confirma quando tocam em duo (e é um prazer ouvir estes dois talentos reunidos), e de certeza que estes dois discos não se importarão de ser arrumados na mesma prateleira. E já que se fala em “colegas” do jazz português é obrigatório chamar Bernardo Sassetti uma vez que, tal como acontece com o mais recente projecto de Sassetti (o disco Ascent), no Single há uma interligação preciosa da música com a imagem – o booklet recheado de nobre imagens reforça a importância do complemento visual. Mas, verdade seja dita, a música vale por si só. As notas sacadas ao contrabaixo produzem sozinhas imagens suficientes para encher um livro. Single é um marco. É uma declaração de independência sob a forma de poema. E é muito bonito.
nunocatarino@gmail.com
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