DISCOS
PAUS
PAUS
· 22 Nov 2011 · 19:41 ·
PAUS
PAUS
2011
Arthouse / Valentim de Carvalho


Sítios oficiais:
- PAUS
- Arthouse
PAUS
PAUS
2011
Arthouse / Valentim de Carvalho


Sítios oficiais:
- PAUS
- Arthouse
Lenha para queimar os ouvidos.
A maior dificuldade em escrever sobre o álbum de estreia dos PAUS é evitar a repetição. Embora este seja apenas o primeiro LP que editam, já muito se disse e escreveu – desde o impacto do EP É Uma Água aos concertos explosivos – sobre a banda formada por quatro letras e outros tantos elementos: Joaquim Albergaria, Makoto Yagu, João “Shela” e Hélio Morais. Podem estabelecer-se comparações com outros grupos ou rebuscar-se referências e influências musicais, mas o que importa, sobretudo, é referir que escutar este disco é um pouco como assistir à combustão de lenha numa enorme fogueira: um acto hipnótico, ao mesmo tempo voraz e criador, que se renova constantemente e dá vontade de voltar a aquecer as mãos nas suas labaredas, isto é, de carregarmos outra vez no play ou de vê-los transpor para os palcos a criatividade capturada em estúdio.

O baixo está ainda maior do que o défice dos PIGS; as baterias soam mesmo como duas gémeas siamesas, unidas nos despiques rítmicos e nos silêncios; e as teclas produzem efeitos especiais que causam reacções em cadeia. Replicam-se também algumas frases (poucas, mas que por vezes dizem muito, como em “Ouve Só” ou num “Malhão” que dança ao sabor dum jogo de desejo e sedução) além dos característicos cânticos. “Tronco Nu” – a última faixa – composta por ritmo, melodia e densidade nas medidas certas, sobreposição de palavras e coros, serve bem de súmula ao que se ouviu atrás. Dos teclados incandescentes de “Ouve Só” à trovoada que martela a cabeça em “Ocre”, há espaço para ambientes entre o psicadélico e o free – "Descruzada" – e músicas (como “Muito Mais Gente”) que ora nos mostram paisagens abertas e luminosas ora nos transportam para horizontes estreitos e sombrios.

Se é nos concertos, sem rede nem truques, que as bandas provam o que valem a sério, tal aplica-se a dobrar (pelo menos) aos PAUS – será ao vivo que este fogo mais crescerá, para chamuscar os ouvidos, numa constante reinvenção sonora. Se eles perguntam «O que queres que diga que estes tambores não digam já?», podemos responder de uma forma tão simples como sincera: o que queremos ouvir é o que estas músicas nos fazem sentir.
Hugo Rocha Pereira
hrochapereira@bodyspace.net
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