DISCOS
Brad Mehldau
Highway Rider
· 23 Mar 2011 · 10:43 ·
Brad Mehldau
Highway Rider
2010
Nonesuch


Sítios oficiais:
- Brad Mehldau
- Nonesuch
Brad Mehldau
Highway Rider
2010
Nonesuch


Sítios oficiais:
- Brad Mehldau
- Nonesuch
Um disco para regressar com fome de partir para a próxima jornada.
Ando há um tempo com este álbum na bagagem. Como se fosse um companheiro de viagem que não consigo abandonar. Sinto constantemente que preciso de voltar a escutá-lo antes de escrever sobre ele. Para distinguir as suas subtilezas e nuances. Como o facto de me parecer sempre que o disco só começa volvidos precisamente 1 minuto e 15 segundos da 2ª faixa (“Don’t Be Sad”), com o sax de Joshua Redman.

Este disco duplo (produzido por Jon Brion, responsável por bandas-sonoras de filmes como Magnólia ou O Despertar da Mente e com o qual Brad Mehldau não trabalhava desde Largo, já de 2002) foi considerado um dos melhores lançamentos do universo jazzístico de 2010 e revela-se, de facto, como o novo patamar que Brad Mehldau aspirava atingir. O pianista assume-o, no seu site, acrescentando, em notas ao disco, que procurou um casamento entre a composição e a espontaneidade, entre o não-arbitrário e o improviso. E, na verdade, a orquestra presente em alguns temas de Highway Rider constrói ambientes que permitem ao seu universo musical explanar-se por horizontes longínquos, com uma liberdade original.

Neste álbum, o seu piano (mais omnipresente noutras obras, especialmente na série Art Of The Trio) funciona como o GPS que dá as coordenadas das composições. Embora mais discreto, aglutina a miríade instrumental que nos leva a embarcar num percurso por paisagens sonoras em constante mutação. Ousa entrar por desertos hostis para depois matar a sede em rios e descer a pique por desfiladeiros antes de ascender, curva após contra-curva, a picos montanhosos de onde se alcança uma vista privilegiada. Embrenha-nos no frenesim citadino e os céus mudam de cor – a faixa nº 3 do 2º disco é para Elliott Smith –, numa navegação que deve ser desfrutada com tempo e de acordo com o itinerário proposto pelo seu autor. Não há lugar para audição de faixas isoladas ou em modo aleatório, pois não estamos perante uma sucessão de postais, mas sim diante da própria viagem. Afinal, como disse alguém, a parte mais valiosa da viagem não está no ponto de chegada, mas em tudo aquilo que é vivenciado durante o percurso.
Hugo Rocha Pereira
hrochapereira@bodyspace.net
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