DISCOS
Mount Kimbie
Crooks & Lovers
· 23 Set 2010 · 10:56 ·
Mount Kimbie
Crooks & Lovers
2010
Hotflush


Sítios oficiais:
- Mount Kimbie
- Hotflush
Mount Kimbie
Crooks & Lovers
2010
Hotflush


Sítios oficiais:
- Mount Kimbie
- Hotflush
Ementa pós-dubstep para todos.
Encalhado numa fenda que tem de um lado um dubstep possuído pelo charme de uma pop abstracta e vadia e um hip-hop alucinado e meio alheado da sua realidade, a música de Crooks & Lovers, álbum de estreia dos britânicos Mount Kimbie, é, por assim dizer, desprovida de destino e de destinatários. Nómada e bastarda, esta música vagueia ao sabor das marés simplesmente porque tem aspiração de se deixar surpreender pelo destino. Não se quererá dizer com isto que seja um disco solitário e sem propósito, até porque com a emergência das sonoridades conotadas com o chamado pós-dubstep, não será o único a flutuar nessas águas, mas o facto de ser um curto disco de longa duração permite aos Mount Kimbie distinguirem-se numa área onde muitos ainda estão lentamente a procurar um espaço próprio que lhes permita a exposição coerente dos seus desígnios.

Assim, Crooks & Lovers pode ser considerado uma toada formal de legitimação de um som que tem tido no lado mais errático alguma da sua maior atracção e encanto – aprecie-se, por exemplo, as diferentes deambulações de Darkstar, de James Blake ou Joy Orbison para perceber que há algo a tomar forma para além do dubstep ou do UK funky. Não será com este disco que se atinge o zénite da concretização pós-dubstep, mas com ele estão garantidos para o futuro momentos sóbrios e realistas que limitam as ilusões de magnificência de determinadas facções ligadas advento do dubstep.

Crooks & Lovers garante passos frugais em frente mesmo não sabendo para onde vai. Tal como afiança de forma lacónica vários contrastes melódicos e rítmicos para diversas fases do dia, ilustrando-as eloquentemente, sem artilharia inútil. Dos instantes mais luminosos da manhã aos momentos sombrios da noite, as guitarras folk que se encontram com o clamor vocal r&b de Burial, as reminiscências do 2 step a raspar o cu no tapete do hip-hop enviesado de Flying Lotus, corais melodiosos em nevralgia house ou os riffs sujos de uma guitarra em tons rock depois de um preludio trance pincelam uma imagem minimamente definida de um sonho bastardo onde o nomadismo é mais importante que um destino especifico para um qualquer lugar. Música de ninguém feita para todos. Para variar, também sabe bem.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
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