DISCOS
Emeralds
Does It Look Like I´m Here?
· 02 Set 2010 · 16:49 ·
Emeralds
Does It Look Like I´m Here?
2010
eMego


Sítios oficiais:
- Emeralds
- eMego
Emeralds
Does It Look Like I´m Here?
2010
eMego


Sítios oficiais:
- Emeralds
- eMego
Quando bonito passa a ser a palavra chave de algo anteriormente apelidado de experimental.
Quando pelos mais remotos buracos em terras do Tio Sam, populam ao longo desta década inúmeros projectos dados à investigação meta-composicional DIY sem que deles se dê conta (algumas vezes, com razão), não deixa de ser um sintoma de que algo de especial exista nos Emeralds para que em apenas quatro anos se viessem a tornar um dos seus nomes mais queridos. De modo tão subtil quanto a sua música se foi lapidando.

Dos tempos de Bullshit Boring Drone Band e consequentes registos roufenhos em cassete e CD-R de edição limitada à perfeição de “Geode” foi um trajecto sinuoso por entre de momentos de absoluto brilhantismo, exploração inconsequente e alguma alienação natural nestas coisas da música indefinível. Trajecto esse que, por entre altos e baixos, parecia vir a tomar uma forma (fórmula?) cujo objecto parece concluído em Does It Look Like I'm Here?. Aquando da saída de What Happened, especulei que parte do “sucesso” do trio de Ohio se devia a uma maior acessibilidade do seu som face à aspereza de alguns dos seus pares. Chegados a este seu quarto álbum per se, pode-se concluir que foi essa a via a seguir.

Tal não teria de ser necessariamente negativo, se os resultados estivessem próximos do nível da citada “Geode”, mas a verdade é que ao longo de grande parte da sua duração Does It Look Like I'm New Here incorre várias vezes na inocuidade. Cristalizando as longas viagens cósmicas de outrora em pequenos temas que se fazem valer de uma boa ideia mas nunca chegam a desenvolve-la em algo capaz daquela envolvência difusa que permeava algumas das suas peças mais essenciais. Miniaturas formatadas incapazes do poder catalisador dos Boards of Canada e muito longe de um aprumo melódico auto-suficiente. Se “Bocuma” do duo de Marcus Eoin e Marcus Sandison é uma vignette auto-suficiente, suspensa num tempo maior do que o seu real (como o são os seus melhores interlúdios), faixas como “Dual Helix” ou “Science Center” nunca chegam a lugar nenhum nem conseguem nos seus poucos minutos (quase nenhuma das faixas ultrapassa os cinco minutos) instaurar uma imagética premente. Ficam-se pela esfera do bonito.

Beleza não será, de todo, um elemento pejorativo à música dos Emeralds. Aliás, esta era até uma das características fulcrais da sua música, que assim nunca reincidia no drone estafado e de rosto fechado. Mas enquanto anteriormente essa resplandecia em formas mais voláteis de grande estímulo sensorial, hoje é uma característica banal, qual papel de parede meticulosamente estudado para a contemplação. Ainda assim, bem distante desse mastigar pernicioso a que se convencionou chamar de pós-rock.

Até porque Does It Look Like I'm Here? não deixa de ter as suas virtudes e seria de mau tom renegá-lo para a inconsequência. “Genetic”, a única peça longa do disco, é reveladora dessa mesma capacidade de imaginar o infinito. Mesmo que o miasma inescapável tenha dado origem a uma planificação demasiado estrutural dos seus elementos (os sintetizadores de Joh Elliot e Steve Hauschildt e a guitarra de Mark McGuire). Uma produção tão obcecada com a sua fidelidade que chega a um ponto quase asséptico. Problema menor tendo em conta tudo aquilo que a precedeu.

É essencialmente na segunda metade do discos que se revelam os melhores momentos de Does It Look Like I'm Here?. Casos de beleza em suspensão aos quais a pouca duração não retira qualquer valor. “Summerdata” é o mais glorioso exemplo disso mesmo desde “Geode”. Peça devedora da nostalgia de Endless Summer (o título não engana) imaginando-a em plena euforia sintética da Alemanha dos anos 70. Aquele “não chegar a lugar nenhum” que se justifica. A memória é toda ela reclusa de um espaço mental.

Tangencialmente, tanto “Now You See Me” como o final com “Acess Granted” pegam nesses resquícios veraneantes para os dotarem de uma sensibilidade quase pop. A guitarra de McGuire em melodias de praia, de encontro à degradação temporal evocada nos sintetizadores calorosos de Elliot e Hauschildt. Uma via bem mais exequível para evitar o óbvio sem cair na mera formulação de hipóteses, soam a momentos acabados, emocionalmente ressonantes sem ponta de chico-espertice pseudo-emocional à la Type.

Deixando espaço para a especulação, parece ser o caminho à estrutura pop que melhor assenta nos pressupostos enunciados em Does It Look Like I'm Here?. Dado que grande parte da suavidade deste álbum ficou refém de si mesma, devido a uma ausência flagrante de verdadeiros finais e um número excessivo de pontas soltas, a melodia congénita poderá vir-se a revelar primordial no futuro. Por ora, a esfera do agradável chega, mas está longe de saciar verdadeiramente.
Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com
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