DISCOS
Frango
Nada Miles
· 20 Mai 2008 · 08:00 ·
CD-R confirma o lugar dos barreirenses na linha da frente do rock experimental português.
Se alguém se der ao trabalho de escrever uma história do rock feito em Portugal neste pedaço de século XXI já decorrido, seria de elementar justiça referir Whole Hit Bloomer, o CD-R dos Frango editado em 2005. Poderá fazê-lo pelo seu valor intrínseco (nele o então trio do Barreiro cavava mais fundo na arte de fazer música sem rédeas e gerava um maravilhoso disco, pleno de possibilidades) ou enquanto um dos melhores registos da fértil cena de rock experimental que Portugal viu nascer nos últimos anos.
Desde 2006 que os Frango - entretanto, reduzidos ao duo Vítor Lopes e Rui Dâmaso, devido à mudança de Jorge Martins para os Estados Unidos - não editavam um disco. A saída de Martins, que era o mais ruidoso dos três, levou a música do grupo para terrenos menos expansivos e mais próximos do minimalismo, mesmo que continue a tratar-se de rock (num concerto no Porto chegaram a estar longos minutos a explorar drones via pratos de bateria para maravilhamento das poucas pessoas presentes).
Esta via é visível em "Amigo da asa branca", a longuíssima faixa que fecha Nada Miles (é o seu momento mais belo) e um dos grandes pedaços de música de 2008. Um teclado aquático em curvas vagarosas, a bateria irrequieta, reduzida ao mínimo, em percursos free e camadas extra de drones formam um todo com o efeito pacificador do new age sem cair nas suas balelas. A mesma sensação é obtida na curta "Sol de placa", que lembra krautrock de sintetizadores.
Em "Morrer ao sol", o outro momento alto, sons encharcados em delay, quase dub, repetem-se infinitamente, sendo progressivamente engolidos por pratos de bateria e uma guitarra eléctrica com fúria contida. "Mesmôr", gravada em 2006 ainda com Jorge Martins, é a peça mais agressiva do álbum, pondo em diferentes níveis o feedback das guitarras e vozes encantatórias.
Nada Miles, notável disco meditativo, quebra o jejum de Frango, aguça o apetite para as várias edições que têm agendadas e confirma-os como, a par dos Loosers, o que de mais interessante se tem feito no rock experimental português.
Pedro RiosDesde 2006 que os Frango - entretanto, reduzidos ao duo Vítor Lopes e Rui Dâmaso, devido à mudança de Jorge Martins para os Estados Unidos - não editavam um disco. A saída de Martins, que era o mais ruidoso dos três, levou a música do grupo para terrenos menos expansivos e mais próximos do minimalismo, mesmo que continue a tratar-se de rock (num concerto no Porto chegaram a estar longos minutos a explorar drones via pratos de bateria para maravilhamento das poucas pessoas presentes).
Esta via é visível em "Amigo da asa branca", a longuíssima faixa que fecha Nada Miles (é o seu momento mais belo) e um dos grandes pedaços de música de 2008. Um teclado aquático em curvas vagarosas, a bateria irrequieta, reduzida ao mínimo, em percursos free e camadas extra de drones formam um todo com o efeito pacificador do new age sem cair nas suas balelas. A mesma sensação é obtida na curta "Sol de placa", que lembra krautrock de sintetizadores.
Em "Morrer ao sol", o outro momento alto, sons encharcados em delay, quase dub, repetem-se infinitamente, sendo progressivamente engolidos por pratos de bateria e uma guitarra eléctrica com fúria contida. "Mesmôr", gravada em 2006 ainda com Jorge Martins, é a peça mais agressiva do álbum, pondo em diferentes níveis o feedback das guitarras e vozes encantatórias.
Nada Miles, notável disco meditativo, quebra o jejum de Frango, aguça o apetite para as várias edições que têm agendadas e confirma-os como, a par dos Loosers, o que de mais interessante se tem feito no rock experimental português.
pedrosantosrios@gmail.com
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