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Snoop Dogg e R. Kelly juntam-se mais uma vez para criar mel auditivo
· 22 Mar 2010 · 00:59 ·
A identificação é algo maravilhoso. Não pode haver nada mais bonito do que quando as canções falam do teu dia-a-dia e daquilo que sentes todos os dias desde o momento em que acordas de manhã e encaras o dia que aí vem até ao momento em que adormeces a pensar sobre o que é que aprendeste no dia que acabou de passar. É como o Twilight: conheces outro filme que fale tão bem dos teus sentimentos e daquilo por que estás a passar? Eu não. Essa identificação extrema acontece-me com tudo o que o Snoop Dogg faz. A obra dele é, para mim, como um espelho. Reflecte a minha existência e a minha história e tudo aquilo que eu fiz na vida.

Repara: há aquele dia em que fui julgado por homicídio ("Murder was the Case"); todos os dias em que tenho de largar a droga porque a polícia vem aí ("Drop it Like it's Hot"); ou aquela vez em que saí da prisão e o meu primo mais novo estava a comer a minha hoe ("Bitches ain't Shit", o clássico do Dr. Dre). Se alguém me quiser conhecer, basta ouvir as canções do Snoop e aí terá a minha biografia – não tenhas medo, vou escrever uma autobiografia na mesma e vai ser um best-seller, um gajo tem de comer, não? –, sem tirar nem pôr. Há mais uma cantiga para adicionar a esse cânone.

O dicionário – o online da Priberam, achas que eu ainda tenho livros? – define "mel" como "suco doce que as abelhas depositam no favo". Também o define como "doçura, suavidade". Proponho uma adição a esta entrada: "a combinação entre Snoop Dogg e R. Kelly". É mais ou menos esta a operação matemática: "Snoop+Kells=mel". Foi assim com "That's That" (samplar a banda sonora da cena do "The royal penis is clean, your highness" do Coming to America – melhor filme de sempre? – é de génio) e é assim agora, com "Move Them Ropes". É sobre quando estás na discoteca e queres que o segurança deixe entrar na área VIP que estás a dominar totalmente todas as hoes a que tens direito. Não odeias quando não te deixam fazer isso naturalmente e tens mesmo de dizer "Move them ropes and let the bitches in"?

É isso mesmo, porra, só faltava transformar isto em canção. É o teu direito natural, vem na constituição, é preciso honrá-lo. E o resultado é mel. Ou não fossem estes dois mestres da linha ténue entre o cantar e o rappar (aqui os papéis estão bem definidos: o Snoop rima, o Kells canta, mas nem sempre é assim). Pessoas reais, problemas reais. Tal como eu e tu, baby, tal como eu e tu.
Rodrigo Nogueira
rodrigo.nogueira@bodyspace.net

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