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Os Excepter levaram flautas e percussão para a praia e fizeram o seu disco mais louco
· 13 Out 2009 · 23:56 ·


Os Excepter estão de regresso para nosso contentamento. São uma das melhores coisas que surgiram na música que interessa: já fizeram de tudo um pouco, desde canções-fritanço ("Kill People" à cabeça) a jams de sintetizadores em slow motion dolentemente sensuais.

Agora, captando um certo espírito do tempo (a pop anda cheia de praia - Ducktails, Best Coast, Sun Araw - e este Outono está quente, quente, deus o tenha), voltam-se para a praia. Praia, mas marada, claro: Black Beach sai na próxima segunda-feira, dia 19, na Paw Tracks (edição única em vinil de 12"com um DVD, limitada a 500 exemplares).

John Fell Ryan, o líder do projecto, fez chegar o disco em mp3 ao Bodyspace e as primeiras impressões são felizes. "Sand Dollar" e "The Black Beach" lembram uns No-Neck Blues Band (NNCK), com água ao fundo a fornecer um drone natural, cíclico e eterno, e vontade de fazer música fracturada, sem princípio nem fim, pura invocação ritualística, sem deus. "Castle Morro" (que pode já ser ouvido na Fact, por exemplo) acrescenta à toada improv uma batida tecno alienígena, repetitiva e doentia – porreiro. Quando a coisa evolui, pensamos o quão bom termos os Excepter a fazer um disco voltado para a pista.

Contas feitas, este é o disco mais louco dos nova-iorquinos. O que diz muito da loucura que para aqui vai.

Mas ainda não vimos o DVD – e John Fell Ryan diz-nos que assim é que captaremos o impacte total de Black Beach. O filme foi realizado por Harrison Owen e capta performances ao ar livre na mítica praia californiana Big Sur. Os extras incluem um concerto no The Echo, em Los Angeles, alguns loops bónus ("Pismo Pool" e "(Waves)") e "outras surpresas", informa a Paw Tracks. A música foi gravada ao vivo (ouve-se o mar, flautas e instrumentos de percussão), com processamento electrónico e produção adicionados mais tarde.

Com base no que ouvimos, fizemos duas perguntas a John Fell Ryan utilizando um meio que ele muito preza: o Facebook (é muito porreiro segui-lo).

A começar no título e a acabar no que ouvimos: este é um disco mais negro do que o anterior?

Fizemos as gravações na nossa digressão na costa oeste americana no ano passado, que correu bastante mal e foi bastante "stressante": custou muito dinheiro, montes de concertos foram cancelados, pouca gente a ver-nos. Estávamos quase a ejectar-nos do negócio da música. Para nos sentirmos melhor, decidimo-nos focar em gravar música e vídeos. Mesmo assim, o ambiente negro domina.

Fomos para estas praias com muito pouco: alguns instrumentos de percussão e flautas. Eu estava no modo mute. Não tinha nada para dizer, sem canções, nem direcção. Estávamos "perdidos". A única coisa que fazíamos era observar os vastos e cósmicos movimentos do oceano e do sol.

Com uma audição apenas, noto que o disco que dispensa as canções e é totalmente improvisado. O tema "The Black Beach" lembrou-me até os NNCK, onde já militaste...

Há uma vibe próxima dos NNCK que se sente em mais coisas. Quando os NNCK iam em digressão eu procurava montar concertos no exterior no meio do nada. Tocávamos na mata ou no cume de montanhas do deserto. Não há grande diferença entre tocar para 50 pessoas ou para ninguém. Ao menos Deus está a ouvir.
Pedro Rios
pedrosantosrios@gmail.com

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