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Leslie Winer “Witch†(Transglobal, 1993)
· 20 Mar 2012 · 15:52 ·


Este foi um dos muitos discos que comprei ao longo da vida sem conhecer ou ouvir, apenas porque li ou me disseram algo que me deixou curioso. Arriscar na audição de música nova sempre foi uma das minhas actividades preferidas, arriscar e não desistir à primeira. Insistir e, muitas vezes, descobrir música que dificilmente descobriria sozinho ou música que precisa de tempo e audições repetidas para revelar a sua magia. Claro que as pistas vêm na maior parte das vezes de alguém cuja opinião musical respeito, seja um amigo, um músico ou alguém que escreve sobre música. E claro também que acontecem desilusões e discos dos quais acabo por me desfazer. Mas as descobertas compensam largamente. Este disco foi um desses casos.

Comprei-o na Contraverso do Zé Guedes, no Bairro Alto, numa altura em que eram poucos os sítios para se encontrar música fora do banal e quando o ouvi pela primeira vez estava longe de adivinhar a importância que esta música viria a ter para mim. Na altura soou-me minimal, sem grande história, mas houve algo que me fez guardá-lo. Ao longo dos anos fui voltando a ele regularmente, naquelas alturas em que nos apetece uma energia específica, um tipo de vibração ou sentimento. E fui descobrindo um dos mais extraordinários discos de white dub de sempre. Apesar de ser o baixo de Jah Wobble que mais está em destaque, é a voz hipnótica e a personalidade de Leslie Winer que fazem o disco. Spoken word, pequenas linhas de voz que flutuam na mistura, sintetizadores que por vezes mal se ouvem...há infinitos detalhes sónicos a descobrir em torno da pulsão dub, poderosa, de baixo e percussão que faz a linha da frente de “Witchâ€. Um som que poderá ter servido de inspiração aos Massive Attack de “Blue Lines†e que evoca referências tão distintas como “Zipless†de Vanessa Daou (pela sexualidade explícita), a vibração dub narcótica dos UB 40 em “Signing Offâ€, os datalhes sónicos dos Throbbing Gristle em “20 Jazz Funk Greats†ou o relentless rhythm de Sly & Robbie no genial “Aux Armes et Caetera†de Gainsbourg. Música intemporal que poderia ter sido gravada agora ou, imagino, em qualquer outro ano no futuro.
Rodrigo Amado

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