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Descansa em paz, Jorge
· 10 Jul 2011 · 04:25 ·
© Nuno Martins

Morreu Jorge Lima Barreto. Musicólogo, músico, performer, activista, provocador, pioneiro da vanguarda, Barreto promoveu as músicas avançadas em Portugal desde 1967. Na qualidade de músico fundou em 1972 a Anar Band, projecto partilhado com Rui Reininho, e a partir de 1982 desenvolveu um percurso ímpar com o projecto Telectu, ao lado de Vítor Rua. Os Telectu transformaram-se na grande referência da música experimental portuguesa, ao trabalhar a improvisação e ao combinar princípios do jazz, experimentação e electrónica. Barreto desenvolveu ainda trabalhos a solo e em colaboração com músicos como Saheb Sarbib (Encounters, 1977) e Carlos Zíngaro (Kits de 1992 e Kits 2 de 2008). Mais recentemente Jorge Lima Barreto encontrava-se a trabalhar no projecto Zul Zelub, em parceria com Jonas Runa (tive o prazer de escrever a folha de sala para o seu concerto na Culturgest, no final do ano passado). Em paralelo com a actividade musical, Barreto desenvolveu uma intensa actividade não-performativa, especificamente no campo da musicologia. Fundou com Carlos Zíngaro a Associação de Música Conceptual (1973) e editou uma vastíssima bibliografia abordando uma lata diversidade de campos musicais: Revolução do Jazz (1972), Jazz-Off (1973), Rock Trip (1974), Rock & Droga (1982), Música Minimal Repetitiva (1990), JazzArte (1994), Música e Mass Media (1996), Musa Lusa (1997), b-boy (1998) e Zapp (2000), entre outros. Teve um percurso único, desbravou caminhos, foi precursor daquilo que hoje se poderá considerar a música de vanguarda em Portugal. No último email que trocámos, no início deste ano, despediu-se com "um fortíssimo abraço". Agora é minha vez de lhe retribuir: obrigado por teres acordado Portugal, obrigado pela obra imensa, obrigado pelas frequentes palavras de incentivo. Um fortíssimo abraço, Jorge.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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