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A Revolução Vai Ser Amplificada - Cristina Branco
· 30 Abr 2011 · 00:14 ·


Costuma dizer-se que os últimos são os primeiros. Neste caso, trata-se duma voz feminina - e cada vez mais importante no panorama nacional - a falar sobre o papel da música nas transformações sociais e políticas.

Que papel considera que a música desempenha nas transformações sociais e políticas?

É um papel de extrema importância. A música estimula a tomada de consciência nas sociedades inertes e anestesiadas por valores políticos atávicos e disuasores.

Qual é a sua opinião sobre a manifestação de 12 de Março em Portugal e o seu impacto? Esteve presente?

Todos os movimentos desde que bem geridos e estruturados, são válidos para reivindicar os nossos direitos, para manifestar o descontentamento e exigir mudanças. Apenas tenho a apontar o medo, a timidez latente que existe em nós, como se depois da greve, do movimento contestatário, fosse quase obrigatório regressar a casa com "a cabeça entre as orelhas", como auto-punição, porque tens medo que te tirem o trabalho precário, que te apontem o dedo e sejas mais um na fila do desemprego, quando tens uma casa para pagar e filhos para nutrir. A título de exemplo o abuso do pequeno poder por parte das chefias ( os chefes disto ou daquilo proliferam! ) deste país e que criou o desalento que se dissemina como uma doença. E não não participei, mas estive bem representada, marido e filhos foram, imbuídos de um forte espírito contestatário.

O que achou ao ver músicos de diversas gerações (Vitorino; Fernando Tordo; Blasted Mechanism; Kumpania Algazarra...) unidos numa mesma manifestação?

Acho louvável que se unam gerações de músicos para manifestar os seus direitos, se repararmos, os problemas persistem desde a geração do Vitorino e do Tordo até hoje com as novas bandas e novos intérpretes, lidamos ainda com a mesma matéria. Que as vozes não se calem, o "turpor silencioso" faz mal às vísceras!

Teve conhecimento do que o músico Ikonoklasta fez em Angola, convocando durante um concerto uma manifestação contra o regime de Eduardo dos Santos, tendo sido detido nessa mesma manifestação? Qual a sua opinião sobre esses factos?

Não, desconhecia. Arriscaria dizer que a desinformação é mais engenhosa e que factos importantes como esse ficam sempre no "ângulo morto" dos noticiários. Mesmo sem conhecimentos aprofundados permito-me ter uma opinião, e essa é de profunda indignação e total solidariedade com quem rema contra o poder instituído e repressivo, castrador e tirano.

Qual é a sua opinião sobre o facto de cidadãos de vários países, não só na Europa como em África, Médio Oriente, etc, estarem a vir para a rua gritar contra os respectivos regimes políticos? E o que pensa de algumas dessas manifestações estarem a ser inspiradas ou convocadas por músicos?

A música tem reflexos em quem a ouve e é um guia, uma luz para lutar contra a falta de perspectiva. Os músicos sempre foram percursores de movimentos revolucionários _ quando disso tivemos necessidade e temos em Portugal muitos e gloriosos exemplos que nem preciso citar aqui_ de construções intelectuais inteligíveis pelo mais singelo cidadão. A mensagem passa em linha recta directamente ao espírito e ao coração de quem ouve, acorda os mais impedernidos. Formam-se ideias e vontades através de uma simples melodia, que nunca veriam a luz do dia se estivessem sustentados apenas numa ideologia, num espírito enciclopedista bafiento.



Hugo Rocha Pereira
hrochapereira@bodyspace.net

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