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A Revolução Vai Ser Amplificada - Diego Armés
· 28 Abr 2011 · 00:03 ·
© Cheila da Cunha

O vocalista da Feromona deverá lançar o álbum a solo Canções Para Senhorasdepois da silly season. Aqui manifesta as suas opiniões como um Homem que pensa pela sua cabeça.

Consideras que a música desempenha algum papel nas transformações sociais e políticas? Porquê e que papel desempenha na tua perspectiva?

Claro que sim. A música é uma maneira de comunicar e, se falarmos de música "para as massas", é uma maneira de comunicar com muita gente. Só isto já justifica a importância que tem. Qualquer manifestação criativa, cultural ou artística no seio de uma sociedade é o reflexo de qualquer coisa. Aliás, nem tem de ser necessariamente um "reflexo", pode antes ser um "resultado" - e usemos o termo de forma generosa, porque há muita maneira de ser um "resultado". Basicamente, a música é feita por pessoas, cidadãos, logo a música é parte da sociedade e intervém (e resulta, também) nas/das suas transformações.

O que te levou a participar na manifestação de Sábado e qual é a tua opinião sobre o eventual impacto da mesma?

O que me levou a participar foi um enorme descontentamento com uma série de situações do contexto português actual, por um lado; por outro, uma necessidade muito simples de dizer que "estou aqui, estamos todos juntos" e acredito que podemos fazer melhor. Participei, também, por ser uma manifestação livre de partidos (embora não absolutamente desinfestada, porque há pragas muito difíceis) e na qual as palavras de ordem eram as de cada um. Cada pessoa tinha qualquer coisa para dizer - ou não. Agradou-me muito essa "liberdade de manifestante". Houve ainda, em assuntos mais específicos - a precariedade laboral, a injustiça no emprego, os salários vergonhosos, os falsos recibos verdes, os estágios infinitos, etc. -, uma necessidade de me mostrar solidário com as pessoas que sofrem com isso. Até porque também eu sofri durante muitos anos, sei bem o que é e o que uma pessoa sente. Depois ainda havia outro motivo, mas não fui bem sucedido. Fui para o Marquês determinado a mudar o nome da minha geração porque "à rasca" é muito feio. Mas ninguém me ligou nenhuma, preferiram os Homens da Luta. Eu entendo.

O que que achaste de ver músicos de diversas gerações (Vitorino; Fernando Tordo; Blasted Mechanism; Kumpania Algazarra...) unidos na mesma manifestação?

Achei bonito, claro. E foi importante ver uma manifestação que começou por ser de uma geração mas que não se confinou a ela, foi uma manifestação de todos, de um povo, de uma nação - o que se reflectiu nesse tal mix de gerações de músicos. O facto de alguns deles serem cantores e músicos que, de alguma forma, estiveram ligados à revolução de Abril de 74, enobrece-lhes ainda mais a presença. Mas não deixa de ser normal que quem sempre lutou por um país melhor, mais justo e mais feliz, continue a lutar pelo mesmo a vida toda, seja em que momento for. Não me surpreendeu, nada mesmo, ver o Vitorino no carro dos Homens da Luta, por exemplo.

Qual é a tua opinião sobre os cidadãos de vários países, não só na Europa como em África, Médio Oriente, etc, estarem a vir para a rua gritar contra os respectivos regimes políticos?

Não tenho uma opinião bem formada sobre o assunto. A única coisa que posso dizer é o que é absolutamente óbvio: há muita gente descontente, insatisfeita; há uma realidade que privilegia uns e maltrata a maioria; no caso dos países do Norte de África, o contexto é ainda mais específico, já que se trata de regimes fechados com o poder nas mesmas mãos há já muito tempo.

Hugo Rocha Pereira
hrochapereira@bodyspace.net

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