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Playlist de Pedro Gomes | Filho Único
· 30 Set 2010 · 11:48 ·
Sun Ra "Space Loneliness" (Interstellar Low Ways, 1960)

Descoberta recente de uma das mais bonitas e mágicas peças do Sr. Ra. Todo um groove brutalmente mellow, cabisbaixo, alterado, e como tal perfeito para momentos de sintonização ao fim dos dias mais longos.

John Coltrane & Johnny Hartman "Lush Life" (s/t, 1963)

Das minhas canções favoritas que redescobri em toda a sua glória numa interpretação para guardar até ao fim dos dias do Dave Burrell, no concerto que organizámos dele na Culturgest da Av. dos Aliados. Aqui uma outra versão de mestre, com o quarteto clássico do Coltrane e a voz magnífica do senhor Hartman.

Abner Jay "I'm So Depressed" (The True Story of Abner Jay, Mississipi Records, 2009)

Rei tardio dos últimos minstrel shows norte-americanos (já entrou nesse jogo nos anos 30) reapareceu no ano passado numa edição - mais uma - maravilhosa da Mississipi Records. Esta canção é um berro celeste na cara de tudo o que não é verdade - que quando dói é bom que se saiba que vai fogo na alma.

SRC "Black Sheep" (s/t, 1968)

Hoje em dia já dei para o peditório da maior parte do garage psicadélico americano dos anos 60. Mas apesar das letras estúpidas de todo o disco e dos tiques que tantas vezes foram repetidos naquela época, este som tem um fuzz (de que normalmente também já estou farto) demasiado atrofiante, e um trabalho de melodia e encaixe harmónico demasiado aparte para não ficar encantando - como vocês também vão ficar.

Nicodemus "Me and Suzie" (What For?, 1980)

Disco bastante estúpido de biker rock pseudo-profético/apocalíptico com dois bons instrumentais e este boogie sulista heroinómano na espantosa linhagem dos Stackwaddy e dos melhores momentos pós-jug bands dos 13th Floor Elevators. Perfeito para momentos Bonnie & Clyde no vosso Mercedes de 1990 em 2ª mão.

Peter Green, Mick Green & mais gente "Rosy" (The Enemy Within, 1986)

Depois de dar a volta ao catálogo caótico e infinitamente fascinante do Peter Green (criador dos Fleetwood Mac e de muitas outras coisas no que à história da guitarra eléctrica concerne) encontrei este disco com o Mick Green e mais uns quantos gajos. A capa tem um mânfio com um casaco comprido de cabedal e uma cabeça de raposa a fumar um cigarro. Penso que isto pode explicar muita coisa. A maior parte do álbum é sonicamente fascinante e perde por ter uns Beefheartismos demasiado fetichistas/armados ao pingarelho na voz. Mas na última faixa, a "Rosy" leva com toda a perversão de guitarras desta banda digital nos dias mais cocaínados da alta fidelidade. Bastante incrível.

Rigo Star & Josky Kaimbukuta "Jatongo" (Jatongo, 1986)

A única coisa boa de todos os Vampire Weekends deste mundo foi que puseram o mundo blogger ainda mais histérico com as pérolas da música eléctrica africana dos anos 50 até à década de 80. Recentemente apanhei esta que vem com o brilho pós-colonialista do reverb digital utilizado de forma subsariana e monocromática, e que me ajudou a lidar novamente com o facto de que todo o Verão tem que ter um fim.

James 'Blood' Ulmer "Where Did All The Girls Come From?" (Free Lancing, 1981)

Um disco que sempre me tinha escapado de um dos grandes mestres de sempre e que me foi fortemente recomendado pelo meu guitarrista favorito dos últimos anos, Bill Orcutt. Este som afectou-me particularmente no seu harmolodismo discordante (que já é mais Ulmer que o que o Ornette Coleman lhe havia dado), e é um poema épico amador e desconcertado, centrado na inexplicável, gloriosa, imparável torrente de mulheres que andam por aí.

Cecil Taylor "Abyss - Petals & Filaments" (Silent Tongues, 1974)

Outra recomendação do Bill Orcutt. Não consigo imaginar nenhum músico mais impressionante e intocável do que o Taylor neste solo (de piano, claro). Nem consigo pensar em nada para dizer.

Lightnin' Hopkins "Goin' to Louisiana" (Lightnin' Hopkins, 1966)

A última vez que fui ter com o Vítor à Discolecção levei uma catrefada de música incrível para casa, mas o que me bateu mais foi este álbum tardio do Lightnin' Hopkins, que ouvimos juntos de uma ponta a outra a despachar cerveja num dia irrespirável de Agosto. Para os padrões do blues eléctrico ele quase que nem toca, mas cada nota é um mundo de sentimento e realidade sem filtros. Um trio seco e sem tempo para brincadeiras. O homem e a sua guitarra - dois dos bens mais preciosos da história do blues.

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