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Porque o rap também é queer
· 26 Abr 2012 · 17:56 ·


Carregada de elogios por gente tão influente como o ?uestlove, a Azealia Banks ou o estilista Rick Owens, "Ima Read" é a primeira canção inequivocamente brilhante nascida no seio da cena de rap queer de Nova Iorque. Emergindo lentamente para fora do circuito de clubes vogue e encabeçada por nomes como Mykki Blanco, House of LaDosha ou Cakes da Killa, teve recentemente direito a um muito recomendável artigo na Pitchfork, numa altura em que o swag está cada vez menos refém de atitudes homofóbicas deploráveis. E embora tudo isto esteja ainda num plano mais idealmente interessante do que efectivamente grandioso, coisas como "Betty Rubble (I Got the Midas Touch)" de Mykki Blanco ou a - recentemente editada - mixtape do Le1f começam já a pavimentar o caminho para um futuro prenhe de pérolas, sobre as quais se eleva, para já, esta "Ima Read".

Lançada de modo gratuito através da Jeffres de Mad Decent, "Ima Read" amplifica o minimalismo da produção ao ponto de se cingir à tensão do baixo e da batida sem qualquer apetrecho melódico. A voz profunda do Zebra Katz - serei o único a lembrar-me do flow narcótico do Maxi Jazz dos Faithless? - a repetir continuamente "Ima read that bitch" como um mantra dialogante com a coolness sleazy da Njena Reddd Foxxx, a serem tudo aquilo que alimenta a malha sem nunca se desvincular do tom ameaçador que paira sobre isto. Uma desolação replicada de modo perfeito no vídeo da canção, numa simbiose retorcida de um sistema educacional que é afinal palco simbólico para uma batalha verbal tão abstracta no conteúdo como incisiva na forma. Como bónus, Ima Read vem também acompanhado de uma interessante "Hey Ladies" e de várias remixes, com destaque para a leitura house desviante de Mike Q e B. Ames e para a visão contida do kuduro mais espectral do J-Wow dos Buraka Som Sistema.

Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com

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