ETC.
DVD
Soldier of the Road: A portrait of Peter Brötzmann
Bernard Josse
· 05 Out 2011 · 00:14 ·
Soldier of the Road: A portrait of Peter Brötzmann
Bernard Josse
2011
Cinésolo
Soldier of the Road: A portrait of Peter Brötzmann
Bernard Josse
2011
Cinésolo
Tranquilo documentário sobre o saxofonista incendiário.
O filme arranca com um excerto de um concerto. A secção rítmica que faz o acompanhamento é medíocre (Marino Pliakas e Michael Wertmüller, do trio Full Blast, que passou pelo Parque Mayer há poucos anos), mas o saxofone incendiário do velho Peter Brötzmann faz esquecer tudo o resto. Ficamos especados perante aquele incrível saxofonista, perante a fogosidade daquele sopro, perante aquela energia incandescente, perante aquele som infernal. Lembremos: aquele veterano é um dos músicos que desde meados dos anos ´60 definiu a improvisação europeia, que transformou a herança do jazz americano numa música ainda mais aberta e explosiva. Voltamos ao início do filme: aquele saxofonista que celebrou em Março deste ano os seus 70 anos de idade ataca o seu instrumento com uma ferocidade inigualável.

Realizado por Bernard Josse, com o apoio do crítico francês Gérard Rouy (entrevistas e fotografias), este Soldier of the Road nunca foge a uma estrutura linear típica de documentário: entrevistas alternadas com excertos de actuações musicais. Mas apesar dessa permanente linearidade o filme nunca perde o interesse. O primeiro convidado a aparecer no ecran é o inglês Evan Parker, a par de Brötzmann o mais importante saxofonista pós-Coltrane. Há ainda contributos de músicos como Ken Vandermark, Han Bennink, Fred Van Hove, entre outros – tudo gente quem Brötzmann partilhou a carreira e muitos palcos. E chegam também as actuações ao vivo, registadas entre 2008 e 2009: Chicago Tentet (o incrível grupo “allstar”, que junta Joe McPhee, Paal Nilssen-Love, entre tantos outros), o quarteto (com McPhee, Kessler e Zerang) e o trio Sonore (três saxofones do inferno: Vandermark, Gustaffson e Brötz) – atenção, além dos momentos no próprio filme, nos extras há ainda mais música.

À medida que o filme vai passando ficamos com a ideia que a abordagem musical que poderia eventualmente ser mais esmiuçada (e poderia abordar melhor a evolução da carreira, relação com outros músicos, revisitar discos e momentos marcantes, etc.). Ainda assim, não falta a referência a dois dos discos mais especiais: o explosivo Machine Gun (1968) e o mágico Schwarzwaldfahrt (1977), em duo com Han Benink, gravado (literalmente) no meio da Floresta Negra. Além da música o filme aborda diversas facetas da vida de Brotzmann: a infância, a actividade de pintor, a vida privada, a relação difícil com o pai. Pelo meio disso tudo, o velho Brötzmann tenta encontrar resposta para a sua inspiração: “maybe it´s the blues that everybody has inside”. Aqueles “blues” parecem não ter fim.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

Parceiros