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LIVRO
Sedition and Alchemy – A Biography of John Cale
Tim Mitchell
· 31 Jul 2003 · 08:00 ·
Sedition and Alchemy – A Biography of John Cale
Tim Mitchell
2003
Peter Owen Publishers
Sedition and Alchemy – A Biography of John Cale
Tim Mitchell
2003
Peter Owen Publishers
Sedition and Alchemy é, após What’s Welsh for Zen, a segunda biografia dedicada à vida e obra do excelso e idiossincrático crazy welshman John Cale. O mesmo que um dia, Brian Eno – que, como se sabe, nunca foi reconhecido por ser dotado de estupidez nata - classificou como sendo “o maior intelecto no universo rock†capaz de em estúdio e simultaneamente: tocar piano - como que envergando luvas boxe, chegou a troçar Nico -, ler o The Guardian – alimentando o seu ávido apetite por questões de geopolítica e trama internacional, matéria-prima para excelentes registos como são Sabotage ou Honi Soit – e usar o telefone!

O autor segue com rigor e metódica e cronologicamente a vida de Cale. Revisitando a infância do pequeno prodígio que, em tenra idade, actuava com composição própria na BBC Radio, a formação clássica em Londres – prémio de “most hateful student†no Goldsmith’s College –, a inspiração e estudos com John Cage, de droner do colectivo Dream Syndicate (comandado por La Monte Young) a passageiro do bateau ivre Velvet Underground, que na companhia do eterno amor-ódio Lou Reed, transformou para sempre, em dois álbuns, a história da música moderna. Especial destaque para a recolha e acompanhamento da carreira pós Velvet, a solo e no papel de produtor e side-man. Apoiando-se na documentação dos processos criativos de obras como: a da lindíssima pop orquestral e barroca que é Paris 1919, a claustrofobia pessoal de Fear, o minimalismo de Church of Anthrax, o rock agonizante de Sabotage ou o testemunho de registo de obra arte suprema do niilismo de Music For A New Society, Tim Mitchell oferece uma perspectiva clara dos condicionalismos que rodearam tamanhas criações.

Não poderia deixar de ser – e não o é - descurado o papel de produtor e timoneiro de obras como as de Nico, Patti Smith, Stooges, Siouxie and the Banshees, Happy Mondays, Modern Lovers, entre outros. Ao longo de mais de duzentas páginas cruzamo-nos com nomes como os de Tony Conrad, Henry Flint, Richard Thompson, Nick Drake, Brian Eno, Bob Neuwirth David Byrne, John Boyd e Dylan Thomas. Da música, à poesia, ao teatro, ao bailado, às experiências cinematográficas e de soundtracker a recolha documental (no mínimo factual) é louvável, estando para o fim guardado um conjunto de mensagens de correio electrónico trocadas com o seu guitarrista e fotos tiradas pelo próprio Cale aquando dos acontecimentos de 11 de Setembro.

A única pecha acaba por ser a superficialidade com que aborda certos períodos da vida e obra de Cale; não se pode deixar de pensar que, só a título de exemplo, a colaboração com Eno, é apenas merecedora de pouco mais do que uma espécie de nota de rodapé. Ainda assim, leitura obrigatória e de satisfação garantida para todos os caleístas que, da obra e vida deste singular génio, são irmãos no desespero e companheiros no calvário de um destino em chamas, partilhando por entre a perda, a desolação e o caminhar no limbo sobre o abismo, o falhanço da existência humana. Nós que um dia sentámos a beleza nos nossos joelhos e a injuriámos.
Nuno Pereira

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