Quando é que começou a cantar ou a fazer música? O que é que a fez escolher a música em primeiro lugar?
Para mim, cantar a ouvir rádio é fazer música. Isso leva directamente à quilo que estava à mão, ao xilofone, e a cantar na escola. É difÃcil marcar uma transição. Escolhi a música mas também escolhi desenhar, e fazer peças e escrever poemas e histórias. Por isso, gosto de fazer, todas estas coisas e ainda faço.
Canta muito acerca de árvores, e folhas e o Outono. Presumo que ache esses dias mais inspiradores que outros. A sua escrita depende disso, da natureza e das suas variações?
Fui recentemente mordida por uma aranha venenosa, e o veneno inchou-me as costas. Por isso é isso, estou cheia de veneno de aranha. O que poderia ser melhor que sentir uma onda de vida e medo da morte? As ideias batem na porta, é tão fácil como abrir os olhos.
Desistiu de estudar ópera há algum tempo atrás mas podemos ainda sentir um pouco dela nas suas canções. Qual é a sua relação com a ópera hoje em dia?
Sinto um amor/ódio pela ópera como é normal. Estava a cantar uma miscelânea de árias de ópera e canções hoje. Mas a minha voz de ópera é cada vez mais fraca, por causa de usar microfones. A música está ainda de certa forma entranhada em mim, e eu estou feliz por isso.
Procura novos instrumentos para tocar nos seus discos? Como é que o faz?
Bem, fiz em Hazel Eyes. Isso foi tipo o estilo de produção Carl Orff. Montes de instrumentos folk e adicionar camadas e adicionar camadas. O método prático de fazer as coisas é: utilizar aquilo que te é dado e aquilo que te cai no colo. Por isso, o meu grande amigo ofereceu uma sitar. Mas estava partida e os trastes mal se seguravam no sÃtio. Eu nunca tinha tocado uma sitar por isso tive de criar uma técnica para igualar a sitar partida. Agora sou uma virtuosa das sitars partidas.
Na primeira vez que veio a Portugal (na Páscoa), disse no concerto do Porto que tinha ficado espantada com a cidade. O que a fez gostar tanto de Portugal?
Em Lisboa e no Porto, fiquei realmente espantada com a paisagem arquitectural. Os americanos são inexplicavelmente fascinados pelos locais mais velhos, somos uma cultura tão nova. Mas mais do que simples ‘velhice’ é uma certa particularidade que eu não consigo sequer descrever que eu senti nas ruas e nos edifÃcios, o sentimento evocado era tão rico e inquietante. Por um lado, fiquei hipnotizada pelos passeios e pelas colinas, e acabei por me perder naquilo que acabei por descobrir tarde demais como sendo o bairro mais perigoso de Lisboa quando o sol se estava a por. A mim as ruas conduziam-me sem fim, sentia-me como se pudesse simplesmente rastejar nesta infinidade. Imagino que ouçam as pessoas descreverem isto acerca de Marrocos. Para mim, estas cidades grandes e antigas em Portugal foram mesmo como um sonho de experiência.
O James Blackshaw contou-me uma história engraçada sobre as ruas do Porto e uma coisa que comprou na cidade. Pode confirmar-nos isso?
Lembro-me que comprei uma peça verde de roupa comida pelas traças com uma lira bordada. Faz-me lembrar aquele café engraçado perto do coliseu com as paredes supernaturalmente verdes. Escrevi uma canção acerca desse dia… e eu chamo ‘Bashito’ ao James… porque a música dele é tão pura e adorável como os poemas do Basho ou a música do Robbie Basho.
Como é que foi ver uma das suas canções ser incluÃda em Golden Apples of the Sun? Sentiu-se de certa forma ligada aos outros artistas de alguma forma?
Senti uma curiosidade, “quem são estas pessoas� Apreciei tanta da música. Lentamente, tive a sorte de conhecer e ouvir muitos destes músicos nestes últimos dois anos.
Qual é a sua visão do suposto boom de folk que aconteceu em 2004?
Bem, não tenho consciência que tenha havido um boom de folk particular a um ano. Acho que musica criativa e a arte vai sendo feita a todo o tempo, e é bom celebra-la.
As pessoas vêem-na muitas vezes como uma espécie de Devendra Banhart no feminino. Isso incomoda-a?
Não acho que isso seja verdade. Ele é na sua essência inimitável, e talvez na minha própria forma, eu também. Acho que um ou dois crÃticos podem ter dito isso, e torna-se um chavão.
É assumidamente uma singer-songwriter que privilegia a tradição. Buffy Saint Marie e Vashti Bunyan são grandes influências para si?
Não, mas admiro-as muito a ambas.
A inspiração do P.G. Six’s na música folk balança entre as músicas tradicionais europeias e americanas. E no seu caso?
Eu retiro influencia da maior parte das eras da musica popular, todas as eras da folk, todas as eras da musica clássica. Sou influenciada por quase tudo e tudo na verdade, e música de muitas culturas e nações.
No seu último disco, Vashti Bunyan adiciona um toque moderno à sua folk com sabor a anos 60 – não sei se já teve a oportunidade de o ouvir. Vê-se a fazer isso, adicionar electrónica minimal e esse tipo de coisas às suas composições?
Não tanto. Adoro a guitarra eléctrica, no entanto.
O que é que anda a ouvir nestes dias?
Blondie, Ed Askew, Popul Vuh.
Em que ponto está o seu trabalho como o duo Born Heller? Tem intenções de o continuar?
Acabamos de ter uma belÃssima digressão pela costa oeste… Born Heller irá crescer e diminuir a seu próprio acordo.
All the leaves are gone foi gravado com uma banda e depois Hazel Eyes abandonou os elementos psicadélicos e dedicou-se à quietude e aos elementos acústicos. Como é que reagiu a essa mudança súbita?
Como é que eu reagi? Não acho que tenha sido uma mudança súbita. Todos os dias eu tenho momentos calmos e ruidosos. É a minha experiência de dia-a-dia mudar de estado de espÃrito e pontos de convergência.
Ouvi dizer que tem um novo disco a sair em breve. O que é que nos pode contar sobre ele? Toca sozinha ou com uma banda?
Eu toco guitarra e o meu amigo Brian Goodman está no álbum e toca guitarra. Mas… a forma como tocamos é a distância entre a terra e a lua. O álbum é sete das minhas art songs alemãs favoritas do século XIX.