Passei um período de
fascínio tanto pela tecnologia dos submergíveis
como pela sensação de se estar submerso.
A experiência de estar num submarino é
intrigante para mim. Nunca estive num debaixo de água,
mas deve ser uma experiência compensadora, ainda
que temerosa, estar-se rodeado pela pressão
daquela quantidade de água. Isto levou-me a
pesquisar um pouco sobre submarinos. Em certa medida,
foram essa tensão e o medo de se estar debaixo
de água num espaço exíguo com
muita pressão (tão bem retratados no
filme “Das Boot”) que me fizeram debruçar
sobre este assunto. Também a história
do Kursk. Ler sobre o Kursk teve um enorme impacto
sobre mim... o que poderá ter passado pela
cabeça daqueles tripulantes. É pavoroso,
mas emocionalmente despertou-me a atenção.
O
site pitchforkmedia.com afirmou que, com “Submers”,
praticaste a arte do útero auditivo. O que
pensas disso?
Bom, eu não estou familiarizado com essa prática.
(risos) Suponho que já ouvi descrições
semelhantes sobre a minha música estar relacionada
com o útero. Suponho que seja uma descrição
justa. Não irei necessariamente por aí,
apesar de me sentir atraído por sons mais escuros
que possam estar associados ao útero. Honestamente,
não tenho a certeza de me recordar como soa
o útero.
De
que forma surge a textura como inserção
na tua música?
A textura é, de longe, a qualidade mais importante
da música para mim. Sinto que é, muitas
vezes, negligenciada pelos músicos. A harmonia,
a melodia, o ritmo, etc. são, todos eles, elementos
da música muito bem documentados, estudados,
catalogados, descritos e experimentados. A textura
ou a densidade ou o verdadeiro volume (não
a altura) são mais difíceis de medir.
Alguns grandes compositores do século XX tentaram
explorá-los (Ligeti, Xenakis e semelhantes)
mas, no geral, é a música electrónica
que realmente abraça a textura. Recentemente,
concentrei-me nela porque descobri que toca algo emotivo
para mim. As texturas mais densas dão a impressão
de que estás, de alguma forma, mais imerso
no som... pelo menos, penso que é disto que
se trata.
Costumas
actuar com projecções de vídeo.
Como é que a componente visual se faz acompanhar
dos sons que crias?
Não sinto que tenha conseguido atingir verdadeiramente
o que pretendo das minhas performances visuais. Basicamente,
tento certificar-me de que, quando actuo com uma componente
visual, há uma relação tangível
entre a parte áudio e a visual. Tento mapear
certas partes da música por forma a fazê-las
corresponder a componentes da imagem, criando camadas
visuais que se relacionam com as camadas sonoras.
Em última instância, quero criar sistemas
verdadeiramente integrados e interactivos, e onde
o áudio e as imagens são criados a partir
do mesmo processo. Estou longe de conseguir isto na
actualidade, mas é algo com que espero gastar
algum tempo no futuro.
Alguns
dos samples que utilizas nas tuas criações
provêm da música clássica. Qual
é a importância desse legado?
Bom, tem importância para alguns e para outros
não. No que me diz respeito, estudei música
contemporânea na escola e fui inspirado por
essa linhagem. Aprendi muito ao estudar outros compositores.
Também aprendi muito a ouvir Clash. Em última
análise, toda a música é parte
de uma importante história e um legado, e aquilo
sobre que nos debruçamos mais depende do nosso
contexto social, o nosso background cultural, o nosso
ambiente político, etc. Gosto de samplar música
clássica porque se trata de trabalhar com material
rico e cheio de harmonia.
A
tua proposta lida com profundidade e lugares íntimos
na música. Por que é que te consideras
um minimalista?
Hmmm. Gosto de música despida. Acredito que
a complexidade pela complexidade, na verdade, simboliza
apenas uma quebra de atenção. Gosto
da essência da música, da resposta emotiva
que uma pessoa recebe dos elementos mais simples...
mesmo assim, também sou capaz de apreciar complexidade
e virtuosismo quando os escuto... Não estou
tão certo se me considero um minimalista num
sentido restrito. Mas aprecio minimalismo. A prática
de fazer música, para mim, tem tudo a ver com
as opções de edição. Quanto
mais eu consigo extrair de uma composição
e mantê-la com uma identidade própria,
melhor eu me sinto quanto a isso.
Como
é o teu processo criativo quando fazes música
para filmes e vídeo-jogos?
Profissional. Na maior parte dos casos, não
o faço pelo gozo criativo, mas pelo dinheiro
que me dá para pagar a renda!
Um
ouvinte ocasional de “Submers” sente-se
mergulhar num oceano profundo, mas quando emerge o
tom é abrasivo e nocturnal. Como agregas melodia
e ritmo?
Para além da textura, o pulsar é algo
em que estou muito interessado. Não considero
o que estou a fazer incrivelmente versado sobre o
ritmo, mas está certamente presente um sentido
de movimento e direcção na música
de “Submers”.
De
que consideras o teu som reminescente?
Noites tardias passadas no porto de Vancouver com
os ruídos da maquinaria distante, o subtil
bater das ondas contra as rochas e o metal, e uma
chuva miúda mas constante. Não sei.
“Submers”
sucede a “Triple Point”. O que mudou desde
então e o que pensas que irá mudar num
futuro próximo em relação a loscil?
Bom, a abordagem mudou consideravelmente. Passei de
utilizar sintetizadores e samplers em “Triple
Point” para usar software Max/MSP na composição
da música de “Submers”. Este disco
é um pouco mais sobre encontrar uma profundidade
no som, o que não estava presente em “Triple
Point”. Penso que no futuro desejo continuar
isto, mas também tentar adicionar momentos
mais esparsos e de claridade. Estou a trabalhar num
novo disco nesta altura, mas a sua direcção
ainda não é nada de concreto. Vou esperar
que ela venha de encontro a mim.