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Slowdive
When the sun hits


Os Slowdive não tiveram vida fácil ao longo da sua primeira existência. Mal-amados por uns, visceralmente odiados por outros (como Richie Edwards, o desaparecido vocalista dos Manic Street Preachers), os britânicos até começaram por ter boas críticas na imprensa, mas depressa tudo mudou - por causa, e apesar de, Souvlaki, disco editado em 1993 hoje considerado como um clássico do shoegaze, epíteto que, como o krautrock, até começou por ser algo pejorativo - e é agora usado como um símbolo de orgulho.

Na mesma semana em que os britânicos regressaram a Portugal para apresentar o seu último, homónimo e óptimo álbum, o Bodyspace falou com o baixista Nick Chaplin para tentar perceber em que ponto estão, atualmente, os Slowdive.
O fã senta-se nos degraus da escada que une o sexto ao sétimo andar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, folheando 24 Hour Party People, livro inspirado pelo filme e vice-versa. O fã sente-se ansioso, o coração palpita, a língua parece querer saltar para boca da boca e emudecer o seu dono para sempre; a ânsia de um cigarro é ignorada em nome do medo - quem sabe se um simples trago de fumo não despoletará um ataque cardíaco ou coisa que o valha, e de repente lá vai a entrevista para o beleléu? Sim, que o fã é sobretudo um amador profissional, e não pode deixar que uma coisinha tão simples como a morte se interponha entre si e a sua vontade de conversar, in loco, com a banda que fez um dos seus discos preferidos de todo o sempre.

O fã desiste das suas leituras e apanha cedo o comboio para Braço de Prata, demasiado cedo até, esperando que aqueles dez minutos, mais coisa ou menos coisa, da estação até ao Lisboa Ao Vivo sirvam para amenizar a sua ansiedade (e orando para que não caia um daqueles torós que nos fazem odiar profundamente a vida, especialmente a não-ociosa). Percorre aquelas ruas decrépitas e entra num café para um curto lanche, para fazer tempo até às dezassete horas e vinte minutos, a hora acordada para a entrevista. O fã posiciona-se à porta da sala de espectáculos e espera pelo pessoal da editora, que lá chega de Uber ou lá o que foi, e aguarda mais um pouco para, finalmente, entrar na sala e chegar então à conversa com a banda.

O manager dos Slowdive, tipo impecável com delicioso sotaque britânico, cumprimenta o fã e desculpa-se por este só poder falar com Nick Chaplin, o baixista da banda (irrelevante, pensa o fã, que só quer poder fazer o seu trabalho para uma webzine que ninguém lê). Cumprimentos feitos, encontra todos os Slowdive nos bastidores, incluindo o camarada Nick, homem de óculos e ar simpático que mais parece um técnico informático do que o baixista de uma das bandas que marcou o rock alternativo dos anos 90 - horas mais tarde, em palco e sem óculos, Nick Chaplin transformar-se-ia num gajo tão cool e dotado de riffs tão deliciosos na ponta dos dedos quantos os de Simon Raymonde, dos Cocteau Twins, também ele dono de um incontornável grau de fixeza. A malta do noise pop deve influenciar-se uns a outros.

Nick oferece uma cerveja ao fã, que timidamente recusa e liga de imediato o gravador, esperando que o soundcheck ruidoso dos Dead Sea não se sobreponha ao que quer que seja uma conversa amena. Quebrando o gelo, o fã pede desculpa pelo mau tempo, como se todos os portugueses tivessem de se penitenciar por por vezes o seu país não parecer, de todo, a Califórnia da Europa. Mas, bem, Nick Chaplin é inglês, de certeza que gosta de chuva. "É precisamente por ser inglês que odeio a chuva!", diz ele. Ao menos riu-se. Deve correr bem.

© Ingrid Pop

Em 1995, os Slowdive poriam fim a sua primeira encarnação, após uma série de problemas internos e críticas menos simpáticas por parte da imprensa. Pygmalion, então o seu último álbum, marcou um ponto de viragem no som da banda, que deixou de ser menos influenciado por guitarras e mais por ambientes electrónicos - o que não caiu bem, de todo, entre alguns dos membros da banda, ou sequer da sua editora, a Creation - que, por esta altura, estava mais preocupada com a britpop do que com quem de facto sabia fazer música. Eis então a pergunta da praxe: alguma vez os Slowdive pensariam que a banda poderia regressar?

"Não creio. Eu, pelo menos nunca o pensei", diz Nick Chaplin. "Pensava que já tínhamos dado tudo o que tínhamos para dar. Naquela altura, ninguém gostava da banda; ninguém nos comprava os discos, as críticas eram terríveis, a nossa editora despediu-nos... O Neil [Halstead, vocalista, guitarrista, co-fundador dos Slowdive e homem que também soube fazer magia com a sua banda seguinte, os Mojave 3] estava a começar a seguir um caminho musical diferente, o Simon [baterista, também dos Inner Sleeve/Televise e Lowgold] já tinha saído da banda... Acho que toda a gente pensou que tinha acabado em definitivo".

Esta é, portanto, a segunda vida da banda - que após a viragem para o século XXI, e assim que a juventude indie se fartou de dar tanta atenção ao pós-punk, começou a ganhar um público novo. "À medida que os anos passaram, começámos a perceber que as pessoas estavam a ficar novamente interessadas nos Slowdive. Eu e o Christian [Savill, guitarrista, fã de Jesus & Mary Chain] trabalhávamos no mesmo escritório, e costumávamos brincar com isso - a Rachel [Goswell, vocalista, co-fundadora, amiga de infância de Neil Halstead, dona de uma voz capaz de derreter corações de pedra] dizia-nos que alguém tinha pedido uma reunião da banda e nós pensávamos que era uma piada. Porque tudo aquilo de que nos lembrávamos era de como tinha sido em 1995...".

Em 2013, tudo começou a ficar mais sério. E no ano seguinte os Slowdive anunciaram mesmo a reunião e o seu regresso aos palcos, à semelhança de compatriotas shoegaze como os My Bloody Valentine ou os Swervedriver, anos antes, ou os Ride, nesse mesmo ano. Três anos depois, a banda decidiu, até, lançar um novo álbum: Slowdive, tal como a banda, tal como a canção que lhe deu nome, da autoria de Siouxsie Sioux. É como se eles tivessem voltado para reclamar algo que é seu por direito, como que quisessem espalhar o seu nome pelo mundo todo, rock ou não. Mas Nick diz que não, que não tem nada a ver com isso. "Voltámos porque tivemos boas ofertas para o fazer, e porque sentimos que era a altura certa para voltar. Não queremos reclamar absolutamente nada", explica, admitindo que o título do álbum possa ser um statement: "Não sentimos que as letras, ou os títulos das faixas [de Slowdive], pudessem dar nome ao disco. [Mas] Pensámos: isto é um novo começo. O nosso primeiro EP também foi homónimo. Foi como o fechar de um círculo".



Desde a reunião que os Slowdive têm, sobretudo, chegado até fãs mais novos, que encontram nas melodias de Souvlaki um escape para um mundo em alta velocidade. Mas haverá, ainda, fãs da velha guarda? "Depende; em alguns países, a maioria das pessoas que vão aos nossos concertos são fãs mais velhos, e há poucos jovens. E noutros países acontece exactamente o contrário", comenta. E é aqui que esta conversa com Nick Chaplin começa a ganhar outros contornos, mais Nardwuarianos; o fã saca da biografia dos Spacemen 3, uma das influências dos Slowdive, e autores de um bootleg não oficial intitulado Taking Drugs To Make Music To Take Drugs To.

E porquê? Não porque os Slowdive alguma vez tenham sido uma banda para junkies (o que não quer dizer que não tenham fumado umas brocas, quando eram mais novos), mas porque a sua sonoridade, melodia entrelaçada em ruído, desgosto amoroso tornado sonho lisérgico, pode ser essencialmente descrita como "psicadélica". E porque na capa do primeiro álbum dos Slowdive, Just For A Day, foi colado um autocolante que dizia, cite-se, like a mind altering substance, without the risk. O objectivo da música dos Slowdive é induzir uma espécie de trance? Nick ri-se: "Acho que esse autocolante foi imposto pela editora norte-americana... Lembro-me de a banda o ver e sentir um bocado vergonha alheia", confessa. "O que tentámos à altura - e que ainda tentamos hoje em dia - foi fazer música que gerasse um determinado estado de espírito, que não necessariamente réplica daquele que se sente ao consumir drogas. É psicadélico, sim; mas hoje em dia estamos todos mais velhos, amadurecemos, temos famílias... já não há drogas no seio da banda, e mesmo assim, nos primeiros tempos, [só] havia alguma erva".

É, portanto, possível fazer este tipo de música sem consumir? "Claro que sim! Pessoalmente, nunca sequer consumi... Gosto de cerveja, como podes ver", revela. E isto tendo em conta que o primeiro verso de "Alison", uma das suas canções mais bonitas, é precisamente listen close and don't be stoned. "Não posso falar pelo Neil e pelas letras que ele escreve, mas acho que nos identificamos bastante com aquela [música] meio drogada, psicadélica, como no caso dos Spacemen 3, dos My Bloody Valentine, dos Loop... Nunca fomos, no entanto, daquelas bandas que entravam em estúdio, metiam umas pastilhas e esperavam que daí viesse a sua inspiração", remata. "Tentámos ser uns Velvet Underground de garagem, expandir esse som, torná-lo mais orquestral. Foi essa a nossa visão".

O fã, no entanto, não pararia por aqui; vai daí, saca um print de um bilhete para um concerto da banda em Paris, em 1991, parte da primeira digressão europeia de sempre dos Slowdive. "Lembro-me vagamente disto", conta. "Foi muito desconfortável... Andávamos em carrinhas, autocarros que não eram realmente autocarros... Mas é isso que se faz quando se é jovem e se tem uma banda". Essa digressão acabou por ser, também, a primeira vez que qualquer um dos membros dos Slowdive pisou a Europa continental - e uma oportunidade para se divertirem, já que a vida é mais curta do que aquilo que por vezes parece.

"Diversão" é uma palavra que não se costuma associar ao shoegaze ou às bandas que formavam o inner circle do género nos anos 90; lembremo-nos de que estávamos em plena era grunge, e todo e qualquer adolescente tinha que ser (ou pelo menos parecer) deprimido. Mas é um estereótipo falso. E os Slowdive sabem-no melhor do que ninguém - já que Souvlaki foi buscar o seu título a um skit da dupla norte-americana Jerky Boys, conhecida pelas suas prank calls. Quão divertidos foram os tempos áureos dos Slowdive?

"Divertimo-nos imenso! E continuamos a fazê-lo", responde. "E tens razão, havia esta ideia de que o shoegaze era altamente depressivo, de que os músicos não tinham sentido de humor... Eu e o Christian éramos uns idiotas - e ainda somos! Se perguntares a qualquer pessoa da equipa, eles vão-to confirmar [o fã acabou por não o fazer]. O que é interessante é que quando voltámos, em 2013, e estivemos todos juntos na mesma sala pela primeira vez [em anos], portámo-nos todos muito bem, de uma forma muito 'adulta'; no dia seguinte voltámos a ser o que éramos. Eu e o Christian somos uns idiotas, o Neil e a Rachel também o conseguem ser, o Simon tenta não ser um idiota mas cai muitas vezes nessa armadilha...". O estereótipo, esse - que partiu sobretudo da imprensa - nunca os incomodou. "Achámos-lhe piada. A banda começou por ter boas críticas na imprensa, mas isso acabou rapidamente. Nunca os levámos muito a sério", pelo que nada mudou com o início das "bocas".

© Ingrid Pop

Souvlaki não é só o melhor álbum dos Slowdive; é também a "casa" para algumas das suas melhores canções, incluindo aquela que é por muitos considerada como a melhor da banda - a mesma que dá o título a este artigo. Curiosamente, "When The Sun Hits" quase esteve para ficar de fora do álbum. Choque, consternação, sacrilégio. "Não foi a única: a 'Alison' também ia ficando de fora", diz Nick, permitindo ao fã um a sério? em tons de QUÊ?!?!. "Se vires o documentário da Pitchfork, sobre as gravações do Souvlaki, lá falam de como todo o processo foi difícil e extenuante. O Neil sentia-se miserável, tinha acabado com a Rachel, foi sozinho para uma casinha durante duas semanas, ninguém gostava de nós... Foi tudo uma confusão. Pegámos numa série de canções desorganizadas, e o Ed Buller [produtor com bandas como os Suede e os Spiritualized no currículo] ajudou-nos dando-lhes o seu próprio cunho nas misturas - o que permitiu à 'When The Sun Hits' e à 'Alison' ficar [no álbum]. A primeira, ao início, soava a um lado B dos Pixies...", confessa.

Haverá certamente muito jovem de coração partido que se atirou de cabeça para a melancolia de Souvlaki, quer porque ele ou ela não retribuíram o romance, quer porque o romance acabou - e o fã, certamente, fê-lo. Pelo que o álbum poderá, até, ser visto como uma espécie de "momento Fleetwood Mac" no seio da banda. "Para mim, para o Christian e para o Simon não foi difícil" tocar estas canções ao vivo, graceja. "O Neil escreveu as letras, e disse em entrevistas que nalguns momentos foi difícil para ele [e para Rachel]. Acho até que não costumávamos tocar a 'Dagger' [por causa disso], mas agora fazemo-lo. Evitávamos canções tão cruas quanto essa", explica. "Foi um processo complicado - mas é do trauma emocional que nasce a criatividade".

Já se falou de como o jornalismo musical foi bastante cruel para com os Slowdive, mas hoje em dia essa animosidade parece ter-se esfumado por completo; Slowdive acolheu boas críticas por parte da imprensa especializada, e os seus espectáculos ao vivo têm colhido, também, bastantes elogios. Já Souvlaki conquistou o seu lugar no panteão do pop/rock. Terá sido editado à frente do seu tempo? "Não, nem por isso. Acho que foi um álbum nascido de uma experiência emocional particular, vivida por duas das pessoas da banda. Trabalhar com o Ed Buller deu-lhe uma sonoridade mais 'contemporânea', daquela época. Deu-lhe um lado mais pop". Independentemente disso, "fosse qual fosse o álbum que lançássemos, teria sido destruído pela imprensa, à altura. Até podia ter sido o melhor álbum de sempre...", diz. "Agora aprecia-se Souvlaki pelo que é - não como uma pedrada no charco, mas como um óptimo álbum que perdeu com a atitude da imprensa".

Na mesma semana em que os Slowdive se apresentaram em Portugal para dois concertos em nome próprio, em Lisboa e no Porto, o NME anunciou o fim da sua edição em papel. Seria difícil não perguntar a Nick Chaplin, assim como aos restantes membros, se não se estariam a rir por dentro com esta notícia. Por dentro e por fora, comprova ele com uma gargalhada. "De certa forma, ri-me porque tenho pessoas no meu Facebook com ligações ao NME, que trabalharam para o NME, e que têm postado algumas coisas bastante divertidas", diz.

"O NME e o Melody Maker foram, pessoalmente, muito importantes enquanto crescia, porque me levaram a ouvir música mais alternativa. Nós adorávamos ler as críticas deles, a rasgar nas bandas e nos discos, antes de nós próprios fazermos parte de uma banda com sucesso. Tinha piada! Mas quanto é contigo, é diferente...". Ainda assim, nenhum jornalista terá escrito algo tão vil quanto Richie Edwards, o desaparecido vocalista dos Manic Street Preachers, que confessou odiar mais os Slowdive que Adolf Hitler. "Ele era um bocado como o Liam Gallagher é agora. Não sei como ele era enquanto pessoa, ou como é o Liam, porque nunca os conheci. Mas nessa altura vivia-se de citações. [Essa frase] nunca me incomodou, só me ri, é uma boa citação!"

Antes de serem despedidos, os Slowdive faziam parte da equipa da Creation, editora co-fundada por Alan McGee que deu ao mundo não só o som shoegaze como também a britpop - que foi para o shoegaze o que o grunge foi para o hair metal nos anos 90. A sua relação com o escocês, e com os seus colegas de editora, foi sobretudo pacífica. Apesar de... "eles achavam que nós éramos um bocado estranhos, que éramos muito novos, que não pertencíamos ali. A onda das outras bandas, mais velhas, era as drogas, as festas, só se falava dos Primal Scream e do Screamadelica. Quando nos juntámos à editora havia uma espécie de dois lados da mesma moeda: o pessoal do shoegaze e aquele com um som mais 'comercial', mais rock. Sempre que íamos aos escritórios havia gente desmaiada nos corredores...", lembra.



A britpop matou o shoegaze, mas isso não quer dizer que haja algum sentimento de vingança. "Nós apoiámos a cena, à altura. Andámos em digressão com os Blur", banda que começou por ser influenciada pelo shoegaze e que acabou às turras com os Oasis. "Eles eram muito mais indie do que aquilo que acabaram por ser. E nós adorávamos os Blur, especialmente o Modern Life Is Rubbish [1993] e o Parklife [1994]. O Christian e eu ficávamos a vê-los tocar, todas essas noites. Eu ficava em frente ao Alex James [baixista dos Blur] e ficava admirado com a forma como ele fumava um cigarro, bebia um copo de vinho, não olhava sequer para o baixo e mesmo assim era o melhor baixista que eu tinha visto tocar! O Damon [Albarn] era empolgante, o Graham [Coxon] era um grande guitarrista, o Dave [Rowntree] um bom baterista. Apoiávamo-los imenso - e eles ajudaram a acabar com a parvoíce do rock americano", conta. "Nós gostávamos dos Nirvana, dos Pixies, desse tipo de bandas, mas havia tanto lixo grunge a surgir ao mesmo tempo... Pelo que quando os britânicos voltaram a ser populares, nós festejámos".

A conversa, por esta altura, estava prestes a terminar - mas isso não poderia acontecer sem uma questão mais actual. A música dos Slowdive, toda a sua melancolia, toda a sua emoção, todo o seu charme feminino, terá sido alvo de um revivalismo precisamente porque o mundo está a ficar cada vez menos macho? "Acho que o nosso público não é macho, de todo", responde. "Não quero que isto soe mal ou que pareça que os estou a criticar, mas quando fui ver os Ride, depois de se reunirem, fiquei admirado pelo público deles ser muito mais masculino. Porque estava acostumado com o nosso próprio público, onde havia um equilíbrio maior", explica.

"Não havia gente a pular, efusiva, eram muito mais respeitosos. No caso dos Ride, o público era igual àquele que se encontra num estádio de futebol, e eu não me lembro desse ser o tipo de público deles nos anos 90! Não sei se é por o Andy Bell [guitarrista] ter tocado nos Oasis, e ter trazido para os concertos dos Ride algum do público dos Oasis... Mas ajudou a perceber como o nosso próprio público é diferente. E nós gostamos disso - há muitas raparigas mais novas a vir aos nossos concertos, mulheres mais velhas que nos viram no passado, muitos rapazes... A pior coisa que acontece durante um concerto nosso é gente a desmaiar; nunca tivemos de parar a música por haver gente a ser esmagada. Eu sei que a música não ajuda", ainda que os Slowdive tenham um lado bastante mais aguçado, ao vivo, do que aquele que seria expectável. "Queremos ser ruidosos, talvez não como os My Bloody Valentine ou os Swans...".

O fã diz a Nick Chaplin que os Swans tocaram nesta mesma sala apenas há um par de meses - e que, como de costume, Michael Gira se insurgiu contra o técnico de som. "Ok, isso é interessante: que ainda façam isso...", comenta. "Os nossos técnicos de som tentam muitas vezes pôr-nos a soar bonitinho. Mas aqueles com quem trabalhamos mais vezes sabem que precisamos desse lado mais forte, ou algo se perderá". Não que, algum dia, os Slowdive venham a fazer como os My Bloody Valentine, e dar tampões para os ouvidos à entrada dos seus concertos. "Isso nunca!". É uma promessa. Os nervos acalmam, o fã agradece, cumprimenta o baixista e prepara-se para ver mais um concerto de uma das bandas que mais aprecia. À espera que o sol, e o som, o atinjam.


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
14/03/2018