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Mai Kino
Ela quer, ela sonha, a obra nasce


O nome pode enganar mas Mai Kino Ă© o alterego que a portuguesa Catarina Moreno escolheu para explorar o som. Dizemos isto assim porque Catarina Moreno tem vindo a explorar um sem nĂșmero de ĂĄreas artĂ­sticas, como a dança, o vĂ­deo, entre outras. Depois de algumas cançÔes que saltaram para a internet, a portuguesa prepara-se para lançar um EP com trĂȘs temas que explicam de uma forma muito convincente o som que procura e ambiciona: uma espĂ©cie de pop sofisticada, digital, com sabor a presente e olhar no futuro.

Sobre o resto, sobre Mai Kino, sobre o que Catarina Moreno pensou para este projecto. sabe-se ainda muito pouco. Até agora, pelo menos. Numa entrevista suculenta ao Bodyspace, Catarina Moreno contou-nos como chegou aqui, o que quer a fazer e alguns planos para o futuro. Convém decorar esta nome: Mai Kino. Parece-nos que vão ouvir falar muito dele nos próximos tempos.
És formada em dança, performance, artes visuais e multimédia. Conta-nos um pouco desse percurso.

Queria experimentar tudo. Estudei design e artes visuais em Lisboa, arte multimédia na Áustria e depois vim para Londres fazer performing arts... que no fundo me deu a liberdade para explorar dança e performance de forma bastante experimental e misturar todas as áreas pelas quais me fui apaixonando pelo caminho.

E como é que entra a música na tua vida?

Sempre cantei desde que me lembro de existir, mas tinha um medo enorme de o fazer em frente a outras pessoas, então tocava guitarra e cantava no quarto às escondidas. Há cerca de três anos atrás, por brincadeira, fiz upload de duas músicas minhas no Soundcloud, demos muito cruas gravadas em casa, só para mostrar a amigos e como exercício anti-timidez. Inesperadamente, as canções espalharam-se pela internet...os emails e propostas começaram a chegar...e o amor pela música a falar mais alto que o medo.



És boa a gerir expectativas?

Tento.

O tema com os Octa Push foi um empurrão essencial para o nascimento de Mai Kino?

Não, não houve influencia directa, são universos sónicos muito diferentes... Eles entraram em contacto comigo logo a seguir a ter posto as minhas demos online, numa altura em que ainda não pensava cantar profissionalmente ou ter uma carreira em música... achei piada à ideia de colaborar com outros músicos e pensei “porque não”. A canção acabou por ter imenso sucesso em Portugal e fui em tour com eles, foi uma experiência boa. Ficamos grandes amigos.

Vives em Londres neste momento. A cidade tem impulsionado igualmente esse trabalho na música?

Definitivamente, sim. Já moro aqui há 10 anos, foi a cidade onde fiz a maior parte da minha experimentação artística, onde cantei em frente a pessoas pela primeira vez e onde me foram abertas portas de todos os tipos. Londres é uma grande salada cultural, respira-se música e energia por todo o lado, sente-se que aqui tudo é possível e isso mantém-me inspirada.

Está nos teus planos futuros apresentar o teu trabalho em Portugal?

Sim! Gostava muito.



Concordas que muito mais facilmente damos valor a algo português a partir do momento em que, por exemplo, um artista é validado, digamos, ou tem sucesso fora de portas?

Quando vivia aí era assim...não sei se mudou muito entretanto, mas suspeito que não.

Está nos teus planos misturar intensamente a música com todas as tuas áreas de estudo, digamos? Sei que realizaste o vídeo da “The Waves”…

Sim, muito… Vejo isto como um projecto de arte interdisciplinar, através do qual me posso ir expressando de todas essas formas, tendo a música como principal fio condutor. Sou altamente sinesteta, ou seja, quando oiço sons vejo cores, movimento e texturas, então quero tentar materializar essas atmosferas num universo comum. Foi o que aconteceu com o vídeo de The Waves.

O que é que te inspira nos dias que correm? Na música, na arte em geral…

Inspira-me a genuinidade, quando consegues ver ou ouvir a pessoa atrás da obra, ou da conversa que tens com ela. Quando sabes que há ali verdade, uma coisa viva, sentes-te menos sozinho. Inspira-me a liberdade de experimentação Londrina, onde tudo vale...as letras do Elliott Smith, os beats de Mount Kimbie, a alma da Billie Holiday, a arte da Laurie Anderson, os shoots do Nick Knight, as seascapes do Sugimoto... " podíamos ficar aqui o dia todo a enumerar coisas. As minhas experiências, memórias e especialmente os sonhos intensos que tenho de noite (tenho um sonho recorrente com ondas gigantes que deu nome ao meu ultimo single, "The Waves").

Permites regularmente deixar que essas influências penetrem na tua música ou tentas deixar essas referências o mais fora possível no teu processo criativo?

Depende, não sei se tenho muito controlo sobre isso. Muitas vezes a inspiração vem de um impulso ou instinto e não tanto de uma referencia especifica...acho que as coisas que vamos vendo e vivendo se misturam todas cá por dentro e acabam por ter influencia de forma inconsciente.



Tanto quanto sei vem aí um EP ainda em Setembro. O que nos podes contar acerca dele?

São os meus primeiros passos. A "Burn" é classic pop, cheia de luz, a "June" é um momento mais melancólico, para ouvir de headphones, e a "The Waves" um mergulho em águas mais escuras.

Como foi trabalhar com o Luke Smith?

Muito bom. O Luke ouviu a minha demo para The Waves e convidou-me para ir ao estúdio dele. Passamos os dois primeiros dias perdidos em conversa e a mostrar musica e vídeos de dança e arte um ao outro... Ele tirou tempo para me conhecer e perceber, o que é essencial neste tipo de relação. Ele é apaixonado por arte em geral, não só música especificamente, então houve logo cumplicidade e fluidez nesse sentido. Acho que ele percebeu exactamente a atmosfera sónica que eu queria criar. Aprendi muito no processo, principalmente nos momentos de divergência. Aprendi a não ter medo da palavra Pop nem de melodias simples e letras directas e que há um grande poder nos “lugares-comuns”,se usados na altura certa e de forma genuína.

Para quando o disco? Tens já tudo imaginado na tua cabeça?

Ainda não há planos concretos...mas sim, já ando a sonhar com ele.

Qual é a percentagem de sonho que deve ser utilizada nestas coisas da música e da arte?

Toda.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
06/09/2016