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Supersonic
O mundo ainda precisa de Sun Ra


Sun Ra pode ter morrido em 1993, aos 79 anos, mas o seu espectro continua a pairar por aqui. O saxofonista francês Thomas de Pourquery lidera o sexteto Supersonic, que desde 2012 anda a recriar a música do alienígena de Saturno que se encontrava em missão na Terra para pregar a paz. No penúltimo dia da edição deste ano do Jazz em Agosto, a partir das 21h30, o free jazz e a música improvisada e retratada de Sun Ra vão encher o Anfiteatro ao Ar Livre da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Antes da actuação, Thomas de Pourquery falou com o Bodyspace sobre a influência do músico cósmico, a sua filosofia pacífica e os projectos em que se encontra actualmente envolvido. No final da entrevista, o saxofonista deixa ao público do festival um convite que não fica nada a dever às palavras de Sun Ra.
O que há de tão fascinante em Sun Ra que sentiram que deviam formar um sexteto para prestar homenagem à música dele?

Eu não tinha a intenção de “prestar homenagem” a Sun Ra, ainda que evidentemente adore a música e os textos dele. Com os Supersonic, abordamos a música dele simplesmente como standards que tocamos com paixão. As suas peças são material que permite que nós os seis nos exprimamos.

Quando e como é que a música de Sun Ra começou a ressoar em ti?

A partir da adolescência, quando encontrei os meus irmãos e irmãs da música. Tocávamos juntos na nossa arrecadação todas as noites.



O que é que preferes: ser o líder dos Supersonic ou ser um saxofonista que também toca para lá do repertório de Sun Ra?

Já quase não sou sideman hoje em dia, ainda que adore tocar a música dos outros. Toco quase exclusivamente com os meus dois grupos, que me ocupam o tempo todo: os Supersonic (acabámos de gravar um novo álbum com música composta por mim) e o grupo de pop VKNG (em que eu canto e componho as canções com o meu amigo e co-líder Maxime Delpierre). Sinto imenso prazer a tocar e a cantar nestes meus dois projectos, que são muito complementares.

Como é que as pessoas aderem aos vossos concertos? Encontram um grande número de curiosos de Sun Ra ou o público é composto essencialmente por conhecedores?

Encontramos regularmente grandes conhecedores ou fãs de Sun Ra, que, em geral, estão contentes de ouvir os seus temas preferidos. Mas diria que o essencial do nosso público não conhece (ou conhece pouco) Sun Ra antes de nos ir ouvir. Se conseguirmos ajudar a que esta música seja descoberta, tanto melhor! A música e as palavras de Sun Ra falam de amor, de felicidade, do absoluto e do universo. Tudo de que o mundo precisa em particular hoje em dia.



Também pregas a filosofia cósmica como ele fazia?

Absolutamente! Não prego senão o amor e a fé na nossa natureza e no nosso universo, única fonte possível da nossa felicidade. A música tem o poder de fazer escutar estas frequências. E como dizia Prince, outro génio, um outro filho de Sun Ra, “a música é o melhor psiquiatra do mundo”. O nosso mundo precisa de música.

O que se pode esperar da vossa passagem pelo Jazz em Agosto?

Sentimo-nos muito honrados com o convite para tocar neste festival e num sítio tão prestigiante! Será o nosso primeiro concerto em Portugal. Estamos impacientes. Preparem-se para ziguezaguear entre estrelas e galáxias no nosso navio. Nós seremos os vossos cavaleiros e estaremos ao vosso serviço.


Hélder Gomes
hefgomes@gmail.com
12/08/2016