bodyspace.net


Big Red Panda
Panda panda panda panda pan


Primeiro foi um EP gostoso, daqueles de bater forte no cérebro e no coração, dado pulsar eléctrico que aqui se escuta. Depois foi uma actuação no Mexefest, mais música nova, mais concertos e, chegados a 2016, os Big Red Panda estão de volta com um single novo (falamos de "Arrival pt.II"), sendo que poderão apanhá-los ao vivo na próxima edição do festival Rodellus, em Braga, já no final deste mês. Três anos após o termos encontrado todo cego no campismo de Paredes de Coura, o guitarrista Kevin Pires respondeu às questões do Bodyspace e revelou *quase* tudo. Senhoras e senhores, eis a entrevista com os Big Red Panda, um dos orgulhos de Ponte de Lima.
Quantas vezes é que o Amílcar já vos fodeu a cabeça para tocarem Smiths?

É mais: quantas vezes é que os Smiths nos foderam a cabeça para tocarmos com o Amílcar?

Grand Orbiter é o vosso segundo EP. O que é que aprenderam com a composição e edição do primeiro que colocaram aqui em prática?

Acho que de tudo o que fomos aprendendo, ter especial atenção à composição para três guitarras é o mais importante - e por isso vamos invertendo papéis no decorrer das músicas. Sim, há momentos onde estamos todos a dar peso, fazendo o mesmo riff, mas eu por exemplo tomo um papel mais textural, por vezes, o Hugo faz momentos ritmados mais energéticos, o Pedro toma conta das frases de guitarra mais proeminentes. Mas a linha que separa os nossos papéis como guitarristas é muito ténue, por isso penso que já se torna característica nossa, essa troca constante.

Estas cinco canções – para além da Intro e do Outro – parecem-me bastante visuais, isto é, evocam certas e determinadas imagens através do som: o espaço, ou uma longa viagem pela estrada, por exemplo. Para não falar das bandas que vos influenciaram, o que é que vos inspira musicalmente?

Gostamos todos de conseguir criar uma atmosfera com a música. Sabermos que conseguimos fazer com que as pessoas construam uma imagem mental através da nossa música já é um elogio enorme, porque maior parte da música que nos inspira passa por esses caminhos. Temos muitas raízes em música mais crua e directa, mas nada bate uma atmosfera enorme, e isso inspira-nos mais do que o resto. Se querem nomes, Pink Floyd, Yes, e algo mais recente como King Gizzard são bandas que não saem das nossas playlists!



Há algum motivo especial para só a "Barefoot" ter voz? Consideram-se uma banda mais de "canções", ou sê-lo-ão mais de jams instrumentais?

Não há nenhum motivo especial, mas achámos que era um tema que iria beneficiar de umas boas linhas vocais, e assim o fizemos. É algo que não está muito explorado da nossa parte: em 15 músicas lançadas, até hoje, temos apenas quatro com voz. Ouvimos imensa música instrumental, e achamos que uma boa linha vocal envolve mais pensamento, mais cuidado para soar como nós idealizamos que deva soar. Talvez no próximo lançamento exploremos mais essa vertente. Gostamos sempre de mostrar algo fresco e diferente cada vez que metemos algo cá fora. O primeiro EP foi a estreia; no Grand Orbiter, introduzimos synths em peso. Talvez no LP haja voz em peso, esse poderá ser o caminho a seguir.

Recentemente, lançaram enquanto single a segunda parte de "Arrival". Sentiram que a peça completa não estava terminada? Porquê lançar a segunda parte em single em vez de a adicionar logo ao EP?

Desde o início que queríamos que uma peça suplementar aparecesse uns meses mais tarde, para ser ouvida após o Grand Orbiter estar enraizado na mente dos fãs. Faz tudo parte de um plano – onde o Grand Orbiter assinala a partida e chegada, e a "Arrival Pt. II" simboliza o desconforto de um novo destino ainda a ser explorado, que nos faz gerar mais perguntas do que as respostas que julgaríamos encontrar ao mudar para um sítio "melhor" que o anterior.

Porque é que não pediram ao hacker limiano para pôr um vídeo vosso em vez de pornografia?

Porque ele ainda não tinha acabado de o editar!



São uma banda com alguma experiência de estrada, mas tocaram muito poucas vezes por Lisboa. A culpa é da distância?

Sim, a distância é um factor determinante nestes casos. Fomos ao Sabotage com Astrodome e The Black Zebra há uns meses, e a experiência foi bastante positiva! Temos planos de o fazer brevemente, há muito público com potencial a explorar lá em baixo.

Do mesmo modo, já deram vários concertos pelo norte de Espanha. Quais são as diferenças entre o público galego e o português?

Quando tocamos fora, nem que seja só a umas dezenas de quilómetros cá de casa, é sempre tocar lá fora. O público recebe-nos com mais calor e entusiasmo, o que é sempre bom para nós, faz os concertos correrem melhor. Já os espanhóis dizem o mesmo quando cá vêm, por isso penso que é uma sensação geral, mas super positiva na mesma.

No ano passado actuaram em vários espaços e festivais já com algum culto, como o Liceo Mutante e o Sonicblast, em Moledo. Onde é que gostariam mesmo de tocar?

Há bastantes festivais no circuito europeu que nos cativam desde sempre. Liverpool Psych Fest é um exemplo, e já temos visto bandas tugas a passar por lá, como foi o caso de Equations e Dreamweapon. Ainda somos verdes, fazemos dois anos de existência este mês, por isso que venham os próximos.

Qual foi a sensação de ser finalista do Vodafone Band Scouting, em 2014?

Foi incrível! Tínhamos aparecido há tão pouco tempo que não esperávamos chegar tão longe num concurso desse género, e foi certamente um dos factores que mais nos popularizou no início do nosso percurso. Podemos não ter ganho, mas certamente que já colhemos os frutos que deu chegar à final.

De que forma olham para o despontar e disseminar de tantas boas bandas portuguesas de cariz psych e stoner?

É interessante ver como estes géneros se viralizaram por cá e pelo resto da Europa num tão curto espaço de tempo, e ainda continua a acontecer. Nós aproveitámos a corrente para nos introduzirmos na onda, e até agora tem estado a correr lindamente. Temos visto outros projectos tugas de amigos nossos a ganhar tanta fama ou mais, e isso só é bom para todos. É incrível ver como hoje em dia conseguimos fazer dezenas de festivais exclusivamente com bandas nacionais, todos a abordar géneros completamente diferentes. A música underground portuguesa está mais saudável que nunca, e é um orgulho podermos fazer parte do movimento. Esperemos que só melhore daqui para a frente!


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
25/07/2016