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Tulsa
Novos horizontes à vista


Os Tulsa foram começando nos finais de 2014. Devagar devagarinho, sem grandes pressões. Entre o Porto (onde a maior parte dos músicos reside) e Vila do Conde (onde ensaiam) Vítor Nuno Santos (Evols, ex-Bildmeister) na voz e guitarras, José Soares (artista plástico, ex-Oddawn e Calentura) no baixo, Cláudio Tavares (produtor nos Estúdios Sá da Bandeira, Duquesa e ex-Throes & The Shine) na bateria, Filipe Ferreira (Horselaughter, Cavalheiro, ex-Oddawn) na guitarra e teclados e Sérgio de Bastos (pianista de profissão) nos teclados e sintetizadores. Juntos, construiram um horizonte que é feito das influências de cada um. Na música dos Tulsa cabe uma vastíssima gama de inspirações de gente tão distinta como Velvet Underground, The Doors, Wilco, Slowdive, Tortoise, Bukowski, Bruce Springsteen, Stone Roses ou Primal Scream. Falamos com Filipe Ferreira sobre o passado, o presente e o futuro de Tulsa. Ainda sem disco e sem qualquer single, os Tulsa mostram o seu mundo no Café au Lait, na cidade do Porto, no próximo dia 9 de Julho num concerto com o selo Bodyspace.
Esta banda demorou um ano e meio até mostrar os dentes. Foi um processo com dores de parto? Ou quiseram apenas levar as coisas com a maior das calmas?

Acho que nunca tivemos pressa, porque nunca pensámos sobre até onde queríamos ir. Juntámo-nos porque antes deste projecto já éramos amigos há anos e de todas as longas conversas sobre música acabou por crescer a ideia de um dia fazer um ensaio, que depois deu noutro e depois deu em ano e meio de ensaios e a dada altura começou a surgir qualquer coisa em que acreditamos estar uma espécie de identidade colectiva. E foi nascendo assim.

Foi difícil chegar ao resultado que imaginaram no início? Se é que imaginaram alguma coisa ao inicio...

Não imaginámos nada. Acreditámos sempre que se alguma identidade se formasse, ela teria que ser natural e não projectámos nada em concreto a não ser tentar encontrar uma base que fosse comum a todos, porque apesar das nossas diferenças estéticas, sabíamos haver território compartilhado. Demorámos bastante mas creio que hoje em dia já distinguimos claramente o que pertence a este projecto e o que não.

Cada um dos membros dos Tulsa tem no seu passado e presente a colaboração com um sem fim de projectos. Cada músico trouxe a este projecto um pedacinho seu?

Acredito que sim, mas talvez seja mais fácil detectar esses traços para quem nos ouvir do que fazermos nós esse autodiagnóstico. No entanto a verdade é que todos participámos no processo de composição pelo que é natural que os universos pessoais acabem por estar lá.

© Rui Oliveira

Ao fim de tantos anos com bandas e projectos a solo, sentem que se perdeu alguma inocência no processo de criação? Sentiram que foram mais práticos e, se calhar, mais cínicos neste projecto?

Absolutamente não. Não fomos nada práticos e nada cínicos. Fomos criando sempre sem pensar muito, sem qualquer esforço para o fazer rapidamente e o trabalho mais denso até passou pela tentativa de criar coesão nos textos. Aqui é justo referir a colaboração do Filipe Lopes, que acabou por participar bastante no projecto, pela sua ajuda sistemática com as letras e com ideias para as mesmas.

Do que falam essas letras, esses textos? De que imaginários se constroem essas canções?

São diversificados, mas acabamos por abordar assuntos relativamente clássicos. Há um lado que toca no imaginário da beat generation e em outras coisas americanas, incluindo a adaptação de poemas de Stephen Dobyns e Charles Bukowski ou uma versão do Will Oldham, mas noutros casos também tentamos fugir em direcções diferentes.

Se tivesses que descrever como soam as canções dos Tulsa em quatro ou cinco linhas, o que é que dirias?

Variam bastante em torno de uma matriz folk que vai mudando de tonalidade. Temos sempre presentes referências bastante cinematográficas ao longo do processo de criação e creio que isso se nota no trabalho final. Tentamos fazer pequenas histórias ou episódios que acabam por integrar uma narrativa mais larga e com isso compor uma espécie de banda sonora para um filme imaginário que nos permite acertar contas com uma série de ídolos nossos, musicais ou não.

Ter uma banda parece-te o sítio ideal para prestar homenagem a certos músicos? Aprecias a ideia do músico-fã? Quem são as figuras de admiração entre os membros de Tulsa?

Prestar homenagem a alguém em particular não é um objectivo nosso. Concordo que tal pode acontecer facilmente numa banda, mas acho um pouco redutor como drive para o processo de criação haver uma tentativa deliberada de enaltecer um músico em particular. No nosso caso claro que há referências mas, como dizia há pouco, nem sequer sentimos que as musicais sejam mais importantes do que as de outros campos.

Os Tulsa sentem alguma proximidade com algum nicho da música portuguesa? Sentem-se parte de alguma coisa concreta?

Não temos de todo essa percepção. Nem sobre o sentido em que evolui a música portuguesa, num momento em que parece apontar para tantos caminhos distintos, nem sobre potencialmente integrarmos um nicho em particular. Dito isto, temos afinidade com diversos projectos portugueses e é natural que venham a surgir colaborações com alguns deles (o que aconteceu já por exemplo com o Manuel Justo dos Sensible Soccers, que trabalhou connosco durante algum tempo e nos ajudou com ideias para diversos temas).

© Rui Oliveira

Acham que Tulsa, o nome da banda, faz justiça ao vosso som? Quais foram as hipóteses que ficaram para trás?

A decisão sobre o nome da banda foi sendo adiada e adiada a ponto se ter tornado quase uma piada interna não termos essa identidade. Finalmente, já com a apresentação à porta, tivemos que fazer uma opção e do processo de discussão de alternativas acabámos por fazer esta escolha (no entanto o Sérgio Bastos lançou diversas boas alternativas que foram hipóteses reais até ao fim, como Pussy Palms of Lightning, Obscure Lobotomy ou Águias Flamejantes d'Azurara mas acho que não tivemos coragem suficiente para nenhum deles).

Há um disco no horizonte mais próximo? Já há canções para isso? É uma ideia que vos entusiasma?

Pessoalmente, e aqui falo apenas por mim próprio, nada me entusiasma mais do que gravar um disco. É essa a parte do processo de que mais gosto e creio que em termos de composição as coisas estão adiantadas. Vamos tentar começar a gravar ainda este ano de forma a ter o disco pronto em 2017.

Há mais alguma certeza sobre o disco? O estúdio, a editora, a comunicação, a capa? Ou vai ser coisa para demorar o seu tempo?

Absolutamente nada. Tudo o resto será visto após fazermos alguns concertos e termos oportunidade de testar estes temas.

O que podemos esperar do vosso concerto de estreia no dia 9 de Julho? O que é que seria uma boa estreia para os Tulsa?

Depois de tanto tempo a preparar estas canções, estamos com muita vontade de as testar ao vivo e partilhá-las com quem nos vier ver. Seria excelente que viesse muita gente e que no final fosse possível sentir que ali nasceu algo novo, para todos.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
01/07/2016