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Cícero


Cícero Rosa Lins nasceu e cresceu no Rio de Janeiro, e logo apaixonou-se por música. Como a inspiração não foi pouca, lançou em 2011 Canções de Apartamento. Em 2013, veio um Sábado um bocado diferente do disco anterior. E agora está a apresentar o belíssimo A Praia. No meio das doces melodias, há também neblina e melancolia para se ouvir. Cícero tem um estilo muito próprio, resultado de uma mistura infinita de influências e amores, os quais encontrou pelo caminho durante toda a vida. Com canções de riso frouxo e ritmos leves, o carioca se consolida no grupo de ouro da nova MPB. No próximo mês, vem trazer a sua brisa à Portugal, pela primeira vez acompanhado da sua banda completa. A 2 de março, Cícero estará no Estúdio Time Out (Mercado da Ribeira). Segue para Ovar (3 de março), Braga (4 de Março) e Castelo Branco (5 de março). Para além destas datas de encontro, ainda o encontram agora mesmo no vosso Spotify. Ou, claro, cá nesta entrevista.
Cícero, pelos meus cálculos esta será a tua quarta passagem por Portugal. O que sentes de diferente quando estás neste outro país que compreende as tuas músicas?

A leitura é outra. Acontece a compreensão, mas de um outro ponto de vista, diferente.

Se o português é o mesmo, achas que a poesia também é?

Acho que a poesia escrita é uma mensagem humana mais individual. Nossas afinidades maiores são humanas, de povos ligados, com naturezas, sentimentos partilhados, então a poesia se comunica, mesmo não sendo a mesma. Não acredito que seja a mesma.

Nos últimos meses, Portugal tem recebido vários novos nomes da música brasileira, como: Castello Branco, Do Amor, Mahmundi, Boogarins e outros. Achas que este oceano que nos separa está a diminuir, no sentido musical?

Com certeza...

© Mariana Caldas

Então sobre estas diferenças, o que o público português pode esperar de novidade no Cícero? Em relação ao concerto do teu novo álbum A Praia...

Vai ser a primeira vez que vou tocar em Portugal com a banda completa do Brasil. São músicos que participaram também da construção dos discos, com o entrosamento que a estrada vai dando ao grupo. Vão ser as primeiras vezes que apresento o mesmo show que estou fazendo no Brasil.

Eu sinto este disco mais maduro e intenso. De que forma achas que isto é o reflexo do teu "eu"?

Foi um disco que eu fiz intencionalmente num momento de mudança do Rio de Janeiro para São Paulo, estava com esse distanciamento do que havia sido e criando perspectivas sobre o que poderia vir a ser. Queria que o disco carregasse esse sentimento que eu estava experimentando na época.

Os arranjos de A praia são um bocado diferentes dos outros discos, até por utilizares alguns instrumentos novos. O que mudou no processo de produção?

Acrescentei ao que já fazia de forma caseira arranjos gravados em estúdio. Do ponto de vista da produção, essa foi a maior diferença.

Eu diria que chegaste exactamente na faixa de transição entre os tons quentes e frios. No caso, um meio termo entre Canções de Apartamento e Sábado. Achas que A Praia é uma realmente uma mistura dos teus trabalhos ou tentas te reinventar do zero a cada disco?

Tento me reinventar do zero, mas por ser a mesma pessoa fazendo as músicas, repito padrões, óticas. Quis que a Praia dialogasse com os outros dois discos, mas que apontasse numa nova direção.

A propósito, há algum motivo especial para o álbum ter o nome de A praia? Tal como o canções de apartamento foi uma descrição do que ele era...

Sim, o nome A Praia foi uma forma de amarrar a temática do disco junto com a capa. No Sábado e no Canções de Apartamento busquei fazer a mesma coisa.

Agora sobre o teu processo de criação, costumas fazer uma radiografia da tua alma ou pegas histórias que não necessariamente são tuas?

Tento criar sem foco e depois identificar as potencialidades da ideia. Acho que essas duas coisas, e outras tantas, acontecem no processo de criação.

Gostava de saber também um pouco das tuas influências. Digo, não só de bandas e cantores, mas também das pessoas que te inspiraram nas tuas canções. Num sentido mais pessoal do teu trabalho...

Sou bem influenciado pelo meio, acho que por isso me mudo tanto. Os lugares por onde passei, morei, influenciam bastante.



E quais são os teus espelhos musicais, tanto brasileiros quanto mundiais?

Ouvi e ouço muita música, não consigo mais apontar um espelho. Cada disco tem sua personalidade e referências. No canções de apartamento as referências eram explícitas, citadas, fazia parte do conceito do disco, então era mais fácil apontar, no Sábado e n`A Praia acho mais difícil.

Eu li uma declaração tua a dizer que tinhas vontade de escrever um livro de poesia. Isto pode ser uma realidade não tão distante?

Está cada vez mais distante. Reli poemas meus de dois, três anos atrás e não gostei. Acho que com o tempo a gente vai ficando mais exigente com tudo, então acho que um livro de Poemas é um projeto pra um futuro distante.

Sobre a tua relação com música, gostava de saber quando foi que começaste a compor?

Comecei garoto, com 13, 14 anos. Comecei a compor ao mesmo tempo que comecei a tocar e comecei a gravar também ao mesmo tempo. Num gravador de fita do meu pai. Tocar, compor e gravar foram apresentados pra mim como um processo único, desde cedo. Por isso tenho certa dificuldade de diferenciar composição de produção, hoje em dia.

Claro que ainda estás apresentar o teu novo disco, mas sinto-me ansioso por perguntar: já tens planos para um novo trabalho?

Sim, mas não para esse ano.

Portugal está à tua espera. Há algo que já possas revelar sobre o formato do teu concerto cá?

Primeira vez com a banda do Brasil. Bruno Schulz, Gabriel Ventura, Cairê Rego e Uirá Bueno


Matheus Maneschy
matheusmaneschy@gmail.com
05/02/2016