Mbye Ebrima nasceu na Gâmbia e aos dezasseis anos descobriu na kora uma espécie de forma de vida, de revelação, de verdade. A herança foi entregue em mãos pelos seus pais. Esta é inevitavelmente uma história de amor; uma história que Mbye Ebrima quer que seja conhecida pelo maior número possível de pessoas. Actualmente o músico encontra-se a viver em Lisboa e é por cá que tem vindo a mostrar a música e a história do instrumento, tanto a solo como com o seu quarteto, e ainda ensinando a kora com alguns grupos de alunos em workwhops de norte a sul do país. Em conversa com Mbye Ebrima, ficamos a saber mais acerca da sua missão, da sua ambição e da kora como a sua voz para a paz. Já dizia Sérgio Godinho: "armem por favor as armas do amor". Porque a kora também pode ser, afinal, ser, isso mesmo, uma arma do amor.
És natural da Gâmbia mas estás neste momento a viver em Portugal, mais precisamente em Lisboa. O que é que te fez mudar para cá durante algum tempo?
Eu adoro Portugal, as pessoas, o clima, a vida e a troca, uma vez que diferentes paises se encontram em Lisboa e existe uma grande partilha cultural e música.
Como era a vida na Gâmbia?
A vida na Gâmbia é boa. Podes viver em qualquer parte do mundo. Nem tudo pode ser possível mas a amizade está sempre lá e é muito importante. Assim como a cultura, boa comida, etc.
Como é que aprendeste a tocar kora? Quando é que te apercebeste que o instrumento iria mudar a tua vida?
Aprendi a tocar kora em casa uma vez que os meus pais são jalis e eu cresci a ouvir a kora. Comecei a tocar apenas quando tinha dezasseis anos.
O que é que nos podes dizer acerca do teu instrumentos, a sua história e aquilo que significa para ti?
O meu instrumento é a kora e foi fundado na Gâmbia. A kora é um instrumento muito importante na história da África ocidental. Existe muita história por detrás do instrumento. Não posso contar tudo aqui mas, para ser breve, uma parte do meu amor e da minha felicidade estão neste instrumento. É para mim essencial poder partilhar a minha cultura com a kora.
Há muitas pessoas a tocar kora na Gâmbia? Sentes que é um instrumento valorizado no teu país?
Existem pessoas especiais que aprendem e tocam a kora que são os jalis. Nem todos tocam a kora na África ocidental. A kora é um instrumento mandinka e existe um sobrenome específico na sociedade mandin que toca a kora. É algo especial. Não, não é um instrumento valorizado no meu país mas tem em si a história da nação. O nosso hino nacional era tocado pela kora por isso é muito importante no meu país, na Gâmbia.
Vi-te tocar ao vivo no outro dia e numa das canções pediste paz para a África, para a Síria, para o Iraque, e noutros locais que estão em conflito actualmente. És um optimista? Vês um conflito para todos estes conflitos, uma saída para tudo isto que se está a passar nos dias que correm?
Não, não sou um optimista. Mas acredito que um grande parte da solução para parar todas estas guerras é cantar e aconselhar as pessoas que estão a lutar para que parem. É algo que vai totalmente contra a humanidade e a maior razão para a existência da pobreza é precisamente a guerra. Por isso enquanto músicos temos um grande papel em chamar a atenção para este tipo de coisas.
Também estás a tocar com o teu quarteto neste momento. Como é essa experiência para ti? Quão diferente é essa experiência da tua carreira a solo?
Eu estou a viajar não só para tocar e para ter dinheiro mas também para partilhar a experiência por isso eu preciso de diferentes projectos. O quarteto é muito diferente da minha experiência a solo. Se dás um contrato a uma pessoa por dez dias ou a dez pessoas para dez dias é mais fácil encontrar as dez pessoas do que uma. Na música, quando são muitos é mais fácil partilhar mas quando estás sozinho tens de fazer tudo. Eu adoro tocar a solo, claro, porque envolve muito mais emoção e as pessoas sentem muito mais a kora do que quando toco no quarteto.
Tens planos para lançar um disco a solo ou com o quarteto nos próximos tempos? É um objectivo teu?
Sim, esou a tentar e constantemente a sonhar com isso mas não tenho o dinheiro para o fazer. Tenho de encontrar apoio para tornar o disco real. Vai demorar algum tempo mas a ideia é lançar um disco tanto para o projecto a solo como para o quarteto.
Também estás a ensinar a kora em Portugal em alguns workshops. Como é para ti transmitir a tua cultura na Europa?
Gosto muito apesar de ser um pouco difícil mas felizmente as coisas estão a acontecer. Eu tenho a certeza que as pessoas adoram este pequeno presente que lhes dou, que é a minha cultura. Vou continuar a promover cada vez mais essa cultura na Europa, Ásia, África, etc.
Como é que te sentes em Portugal? Quais são as melhores coisas no país - e as piores - quando comparado com o teu país?
Portugal é um óptimo país. Gosto muito, apesar de as coisas serem muito lentas. Mas vão acontecendo. Também sinto falta do meu país. Nada é mais doce que a tua própria casa, onde tu vives. Sinto saudades da comida, da cultura, sinto a falta de imensas coisas...
Tiveste oportunidade de ouvir alguma música portuguesa até agora? Podes dizer-nos alguns nomes?
Tenho ouvido alguns músicos portugueses famosos como o Carlos Paredes, David Costa, Maria S (Maria Dulce Soares da Silva), etc.
E a música da Gâmbia? Que artistas do teu país temos obrigatoriamente de conhecer?
Também temos muitos artistas na Gâmbia. Posso dizer alguns, Alagi Mbye, Jaliba Kuyateh, Foday Musa Suso, Tata Dindin.