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Bárbara Eugenia
A essência continua a mesma


Bárbara Eugénia chega a Frou Frou, novo trabalho de estúdio, depois de Journal de BAD (2010) e É o que temos (2013). A brasileira, de 35 anos, aposta no indie como estilo, com recurso à guitarra acústica e ao ukulele como suportes para uma voz que começa a impor-se no panorama musical brasileiro. Em entrevista ao Bodyspace, a ainda jovem artista repassa as inspirações por detrás do álbum, o processo criativo, a tournée europeia em preparação e como se vê, depois de sete anos de carreira (achávamos que eram dez, mas a brasileira, natural de Niterói e a viver em São Paulo desde 2005, corrigiu-nos a tempo), a fazer música “ad eternum”. "A vida muda o tempo todo, a gente muda o tempo todo", refere a brasileira, só que agora está "dando mais risada", num álbum que mantém a essência e que fala do que Bárbara "vive e sente", e que "o povo tem gostado", algo reflectido na campanha de crowdfunding de Frou Frou no Embolacha, onde conseguiu 8% a mais do necessário.
Quais as inspirações por detrás de Frou Frou?

Esse disco tá um pouco mais leve e divertido, tentamos captar um lance da disco music, tem um pouco de anos 80, 90 também. Tem os Beatles, sempre. Isso da parte musical. Mas para a ideia geral, a arte, a parte mais estética, eu quis fazer uma história um pouco dadá. Que tivesse um impacto visual forte mas sem querer dizer muita coisa. Sem grandes significados por trás. Simplesmente algo botado pra fora.

Podemos esperar um disco diferente ou na mesma linha dos anteriores?

É a mesma linha, só que com mudanças. A vida muda o tempo todo, a gente muda o tempo todo. Meus processos todos viram música. Mas a essência continua a mesma. Só que agora eu tô dando mais risada.

© Haroldo Saboia

A narrativa vai continuar a ser um elemento importante neste álbum?

Sim, eu gosto muito de letra, preciso e gosto de escrever. Apesar da narrativa às vezes ser subvertida ou até sublimada como no caso do mantra "Para curar o coração" e da canção-tema do disco "Frou Frou". Para mim é muito importante a letra, e se escrevo, faço uma música disso e gravo, é porque realmente faz sentido pra mim. E apesar de tentar passar uma mensagem, as pessoas normalmente entendem mal. Mas não importa. O entendimento é de cada um. Mas acho que a narrativa sempre será importante no meu trabalho. Ao menos pra mim.

São dez anos de carreira. Que balanço fazes?

São sete! [ups...] Tá quase lá… Acho lindo, sou muito feliz com tudo que fiz e faço. Três discos a solo, um de projeto paralelo, uns três outros shows com amigos, muitos encontros maravilhosos, parcerias, muita aprendizagem. Desde que comecei, não parei de fazer música, tenho tido experiências enriquecedoras, aprendi muito nesse tempo. Acho que isso é o mais importante. E tem sido um crescimento estável, sem altos e baixos, simplesmente um fluxo natural.

Nas redes sociais, disseste que a pré venda tinha sido um sucesso. Estavas à espera destes números?

Sim…Se não, nem tentava. Não é fácil nesses tempos, mas o pessoal faz um esforço e todos se ajudam!

Qual a reação do público ao que já foi possível ouvir do álbum?

Só tenho lido/ouvido coisas boas. Acho que o povo tá gostando.

© Haroldo Saboia

Vês-te a fazer música para sempre?

Ad eternum! Não importa como, com quem, ou onde. Música é livre. Então, pretendo sim, continuar fazendo isso até acabar esse corpinho falível.

Disseste numa entrevista que a Bárbara Eugenia estava nos dois álbuns anteriores. Este novo álbum continua pessoal?

Sim, continuo falando muito das coisas que vivo e sinto. Mas mesmo que fale na terceira pessoa, será o meu ponto de vista ou uma história criada pela minha mente. Então, acho que de certa forma sempre será pessoal. Mas detalhes, isso fica por conta da imaginação de cada um.

Vais passar pela Europa para apresentar este disco? Portugal?

Espero que sim! Estamos trabalhando para isso. Esse ano fiz minha primeira incursão pela Europa, toquei em alguns países mas geralmente só voz e violão. Só em Lisboa é que fiz show com formação completa, e foi demais! Da próxima vez, espero poder levar o Frou Frou para todos os cantos, como ele merece!

O ambiente de São Paulo também se nota presente na música?

Acho que nosso ambiente sempre nos impacta e inspira, interfere. Não tem como não. Somos feitos disso tudo. Só não posso te dar um exemplo pois não tenho ideia. Mas que está lá, certamente está. Acho que o que mais está presente do ambiente de São Paulo na minha música são as pessoas que trabalham comigo. Todas as parcerias, os músicos. Se for ver, cada um é de um lugar do Brasil! Isso é muito São Paulo.

A Bárbara Eugénia é indissociável da música que faz?

Tudo é uma coisa só. Existe uma personagem, uma pessoa jurídica, uma catarse, existe. Mas isso é tão ilusão que nem importa.

Já pensas no próximo álbum?

Sim! Já tenho uns três na cabeça! O próximo será uma parceria com o Tatá Aeroplano. Tá ficando lindo! Ano que vem gravaremos.


Simão Freitas
spfreitas25@gmail.com
29/10/2015