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Jófríður Ákadóttir
Emancipação


O seu nome, considerando até a sua dificuldade, pode não dizer muito por agora mas Jófríður Ákadóttir é uma das maiores esperanças da música islandesa actual. Não fosse ela parte integrante de dois dos projectos mais interessantes nascidos recentemente no país do gelo, Pascal Pinon e Samaris. Com o  disco de estreia a solo já gravado, as suas expectativas estão em alta - e as nossas também. O resultado propriamente dito é ainda uma caixa de surpresa - mas não durante muitomais tempo. Falamos com a islandesa sobre o processo recente mas seguro da sua emancipação musical, do seu novo disco e inspirações. Jófríður Ákadóttir apresenta-se este domingo no Café au Lait, no Porto, num concerto com selo do Bodyspace. A entrada é livre.
Vamos começar pelo princípio. Como é que começou a tua relação com a música, o que te lembras desses dias?

A minha primeira recordação de fazer música é de quando eu tinha 4 anos, altura em que escrevi uma música no teclado do meu pai. Os meus pais estudaram música até eu fazer seis anos e a minha mãe tocava clarinete enquanto eu e a minha irmã estávamos ainda no útero. Mais tarde, o meu pai tocou essa música num concerto na sua escola de música.

Entretanto fazes parte de duas bandas, Pascal Pinon e Samaris. O que aprendeste com estes dois projectos? Suponho que tenhas duas experiências muito diferentes nesses dois projectos...

Muito muito diferentes. Pascal Pinon foi a minha primeira banda. Aprendi tudo acerca de digressões, dar pequenos concertos e grandes concertos e cobrar dinheiro para dar concertos. O meu pai ensinou-me a colocar altos padrões – padrões de gente adulta, embora eu tivesse apenas 14 anos quando a banda começou. Essa experiência foi muito querida para mim quando comecei a trabalhar com Samaris. Nessa altura era mais velha e o ambiente menos protector.



Como e quando decidiste que estavas pronta para iniciar uma carreira solo?

Comecei a formar o projeto a solo quando os meus projetos de banda estavam inactivos ou não estavam a ir ao encontro das minhas expectativas. É o começo de algo a longo prazo, algo a que não terei de amarrar a ninguém para além de mim.

Foi difícil encontrar o caminho certo para as tuas canções a solo? Foi difícil conduzir o processo sozinha?

Muito. Quando crias e gravas e produzes música por ti própria não podes atirar a culpa para cima de ninguém. Se a música cair tu cais com ela. Mas eu gosto de ser capaz de decidir completamente o ritmo e a direcção. Simplifica muito as coisas. Se eu quiser atrasar faço isso mesmo, se eu quiser acelerar dou tudo ao projecto e não preciso de pedir a outras pessoas para as ter a bordo.

Sei que estás a preparar o teu disco de estreia a solo. O que é que nos podes dizer acerca disso?

Eu quero que seja fácil mas ambicioso e bem feito. Não gosto da maneira como as pessoas gastam mais tempo e pensamento na capa do disco do que na música propriamente dita. A música é, em última análise, o principal.

O que mais você pode nos dizer sobre disco? A obra de arte, colaborações, a produção, etc...

O disco está quase terminado neste momento. Foi gravado em Brooklyn em Abril e Agosto por mim e pelo Shahzad Ismaily. Ele é o músico mais intuitivo e misterioso e mais incrível que eu já conheci e é um privilégio e inspiração para mim trabalhar com ele. Estou muito entusiasmada para lançar o disco e trabalhar no artwork, ainda não me aventurei nessa parte. Há uma outra colaboração no disco com o Greg Fox, o baterista de Liturgy e do Bem Frost. O tema é uma exploração improvisada de percussão e do meu piano e voz que mais tarde o Shahzad cortou e colou, criando uma espécie de drum and bass inspirado em Squarepusher com um padrão de bateria que soa muito natural.

A Islândia ainda é uma fonte infinita de inspiração ou isto é apenas um lugar comum e algo que adoramos repetir eternamente?

A Islândia tem a sua própria vibração, o seu tamanho, o isolamento, a meteorologia, os egos grandes que temos por lá, tudo isto é uma fonte inesgotável de inspiração…



Podes dar-nos algumas sugestões de nomes actuais que consideres entusiasmantes no cenário musical islandês?

Eu gosto muito de GKR e Gervisykur!

Já que estamos a falar de lugares inspiradores, sei que acabaste de chegar do Vietname, onde também tocaste ao vivo. Como foi?

O Vietname foi qualquer coisa. Acabei de chegar à Europa hoje, por isso é difícil falar muito sobre isso ainda. É um país de pessoas extremamente humildes e trabalhadoras, uma mistura impressionante de arquitectura e comida francesa e asiática, café intenso e bebidas de coco! Adorei a comida de rua mágica e as frutas frescas.

É a tua primeira vez em Portugal? O que você sabe sobre o país ou sobre o Porto?

Sim! É a minha primeira vez! Eu ouvi sobre o sol e as ondas e sabia no meu coração que eu tinha que ir.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
14/10/2015