Tudo é melhor numa garagem portuense. Perguntem aos Sunflowers se não é verdade. O duo, formado o ano passado, lançou já dois EPs - um deles neste mesmo mês de Fevereiro - cujo conteúdo é coisa para nos fazer sorrir durante bastante tempo: canções com travo a punk, melodiosas como gostamos e capazes de abanar o esqueleto ao mais estático dos homens. Após um concerto em que as foram apresentar ao Sabotage, em Lisboa, apanhámo-los nas escadas junto ao Bicanela, para dez minutos de conversa alcoólica (sobretudo, ou exclusivamente, da parte do entrevistador), para os poder conhecer melhor. Estes são os Sunflowers e a vossa vida não vai voltar a ser a mesma.
Como correu a vossa primeira vez na capital?
Carlos de Jesus: Foi muito fixe. Tinha mais gente do que aquilo que estávamos à espera...
Carolina Brandão: ...E eram pessoas mais simpáticas do que o que eu estava à espera...
CdJ: Sim, estávamos à espera que um bocado do tipo "eh, eles são do Porto", e não sei quê... não sei, são aqueles regionalismos com os quais crescemos.
É verdade que tudo é melhor no Porto?
CdJ: Claro.
Quando é que se formaram? Melhor: quando é que vos deu a pica para começar a fazer música juntos?
CdJ: Começámos em Fevereiro com outro projecto, que depois mudámos para The Sunflowers, [na altura ainda] com três elementos. Um deles saiu, e ficámos só os dois...
CB: Achámos que os ensaios eram muito mais divertidos assim. Só com duas pessoas.
CdJ: Sim... em Maio ficámos os dois e, a partir daí, o resto é história.
CB: Ou biografia.
Quando dizem que gostam de trocadilhos com Jesus, falam do Messias ou do treinador?
CdJ: De mim. É mais por isso [risos]
Porque é que não tocaram na festa d'O Salgado?
CB: Porque ele não nos convidou. Senão tínhamos ido...
CdJ: Nós éramos para aparecer lá, só que depois disseram-nos que "ah, aquilo lá vai 'tar muita gente"...
CB: ...E afinal aquilo tinha pouca gente...
CdJ: Tínhamos levado as guitarras e fazíamos um concerto pirata.
Podiam perfeitamente ter dado um concerto pirata nas escadas.
CdJ: Mesmo.
CB: Pode ser que para o ano...
CdJ: ...Sim, para o ano. Mas é melhor não dizermos isso, que senão o Salgado depois tapa as escadas...
Eram capazes de dar um concerto pirata no metro? Sei que a Carolina já o fez...
CdJ: À vontade. Em qualquer sítio com praí com quatro metros quadrados.
CB: Sim, ele depois protege-me de pedras que venham no nosso caminho. Não me importo nada.
Vocês gostam tanto de punk como de psicadelismo, certo? Como é que encaram esta onda psych que se tem vivido em todo o lado, sendo que por cá já há bastantes eventos ligados ao género? Quem me apresentou a vossa banda até foi o Joca, dos 10 000 Russos, que também são um bocado essa onda...
CB: O Joca é muito fixe... acho que, às vezes, os eventos
psych estão a exagerar um bocado...
CdJ: São uma merda. É mesmo assim. As pessoas deviam pegar nas guitarras, fazer três acordes, [pôr] muita distorção, alguns
feedbacks, uns berros e já está no ponto. Não é preciso fazer melhor.
CB: Não lhe dês a nossa fórmula!
Portanto, a cena punk dos três acordes serem a verdade.
CdJ: Exacto. Os três acordes servem para muita coisa.
CB: Nós temos um acorde, só...
Se caísse agora à vossa frente uma daquelas aranhas enormes e peludas, o que fariam?
CdJ: Eu morria. Aracnofobia. Eu acho que mandava a Carolina para a aranha.
CB: Eu acho que essa é a melhor pergunta de sempre numa entrevista...
O Aracnofobia é o pior filme que já viste?
CdJ: Nunca vi! Só pelo nome já fiquei com medo... Nem vou ver.
Não gostam dos coninhas que não fazem mosh. De que forma querem que o público assista a um concerto dos Sunflowers?
CdJ: Eu gosto que as pessoas se estejam a envolver, e que quando eu carregue num pedal de distorção elas saltem todas umas por cima das outras e eu fique "eia, ó manos, vocês 'tão a exagerar um bocado, agora"...
CB: Mas sem ninguém se magoar.
CdJ: É a magoar, mesmo. Quero ver sangue nos nossos concertos. Tipo metal, mesmo...
Portanto odeiam o Cedric de At The Drive-In.
CB: Eu gosto muito dele, por acaso.
Mas ele insurgia-se contra o mosh...
CdJ: É um bocado coninhas, também. Uma banda chamada At The Drive-In é um bocado coninhas.
CB: Eu mostrei-te, é fixe!
CdJ: É coninhas na mesma. É como uma banda chamada Sunflowers.
Nunca foram a um drive-in?
CB: Fomos a um do McDonald's e eu tentei passar por cima do canteiro para me ir embora...
Big Mac ou Big Tasty?
CdJ: McWrap. [risos]
Estão neste momento numa digressão que vos vai levar mais ou menos a todo o lado. Tocaram hoje em Lisboa. Quais são as expectativas para os restantes?
CB: Vender cassetes.
CdJ: Mais gente. Que compre as cassetes, sim.
CB: Nem é que compre, é que tenha a possibilidade de comprar.
CdJ: Eu quero é que comprem! Quero lá saber que depois passem fome...
CB: Nem é isso que 'tou a dizer, é que tenhamos as cassetes connosco [para as vendermos], não é 'tarem na Gare do Oriente...
Porquê cassetes e não CDs?
CB: Porque CDs ninguém compra.
CdJ: Os CDs... isto 'tá na net e depois o pessoal grava num CD.
Fazer em cassete é fetishizar um bocado a coisa?
CdJ: Acho que tanto dá para
merchandising como para ouvir.
CB: E têm o código para
download na Internet, por isso...
No Bandcamp têm dois EPs, um que saiu hoje [13 de Fevereiro], e mais um par de canções. O que se segue?
CdJ: Pá, até dizia "um álbum"... Nós demoramos, tipo, dois dias a gravar um álbum inteiro n'
O Cão da Garagem. E acho que se a Carolina conseguir tocar tudo direitinho, conseguimos fazer tudo num dia.
Que podem dizer acerca deste novo EP? O título parece saído do Adventure Time...
CdJ: [risos] É o melhor EP do mundo e toda a gente devia ouvir e comprar. São só 3€...
O facto de ter saído a uma sexta-feira 13 deixa-vos apreensivos?
CB: Foi uma sorte do caraças.
CdJ: Foi um bocado sorte e foi muito bom. Também podíamos ter lançado para o próximo mês, que também é sexta-feira 13...
CB: Nós estávamos à espera dele e, por acaso, ficou pronto...
Eu acho espectacular terem incluído um pacote de sementes de girassol...
CB: Sim, mas o crédito disso é das nossas amigas...
CdJ: Exacto. O crédito é da
MOOH, não é nosso.
CB: Muoh, ou Moo?
CdJ: Moo, Maa, Mó... Não sei como se diz.
Já alguém pagou os mil euros que pedem pela "Last Night I Saved Her From Vampires"?
CdJ: Três pessoas.
CB: Quem me dera!
CdJ: Nah, ninguém pagou...
CB: É melhor explicar isso: deriva do facto de não podermos pôr cem
downloads no Bandcamp, e então ele achou esperto pôr assim...
CdJ: "Ninguém vai dar mil euros"!
Que fariam com esses mil euros?
CB: Acho que devolvia à pessoa, porque se enganou.
CdJ: Acho que pagava um jantar à pessoa... Fazia um concerto só para ele. Isto é uma boa ideia, se alguém nos pagar mil euros fazemos isso...
CB: Eu faço. E tenho problemas de consciência depois.
De que maneira é que o Revolver, dos Beatles, mudou a vossa vida?
CdJ: O
Revolver é excelente. É um dos álbuns que nós ouvimos em viagens.
É para vocês o melhor deles?
CdJ: Para mim, é.
CB: Isso não consigo responder a esta hora...
Preferem os Beatles da fase fofinha ou os experimentais?
CB: Eu não consigo escolher. Gosto de todas as fases dos Beatles.
CdJ: Os mais experimentais, mas a fase mais fofinha também é fixe. Têm aquelas
covers todas maradas...
CB: Beatles é Beatles.
Que é que o Lopetegui tem de fazer para sermos campeões?
CdJ: Tem que SER PORTO!
A Coralline voltará algum dia?
CB: [risos] Duvido muito... Nunca ninguém sabia dizer o nome! Mas duvido muito que volte.
CdJ: Agora estamos mais divertidos com as distorções... Um dia, daqui a dez anos.
A distorção salva a vida das pessoas?
CdJ: Sim. E fode-te os ouvidos.
CB: Conselho que os Sunflowers vos deixam: levar sempre protecção para os ouvidos. Nós investimos bom dinheiro nisso.
CdJ: Sim, e antes de investir bom dinheiro, agora sempre que vou tentar dormir ouço assim: piiiiiiiiiii... e é um bocado irritante, a sério. Não é gozo. É mesmo irritante.
Querem mandar um abraço a alguém?
CB: Aos
800 Gondomar. Nossos amigos do peito.
CdJ: Um abraço também à minha mãe, um abraço à mãe da Carolina, e ao João por nos ter ajudado com este EP...