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Boogarins
Ooga Booga


Com As Plantas Que Curam (2013) deram a conhecer ao mundo a sua tropicália adaptada ao século XXI, psicadelismo de jeitinho brasileiro que fez com que cá viessem para um par de concertos, no Milhões de Festa e no Musicbox, onde conquistaram uma boa parte dos nossos junkies do riff. Foi nessa altura que nos dispusemos a entrevistá-los, para os dar a conhecer a quem ainda não tinha cedido às inúmeras publicações online que os tinham como a melhor coisa a sair de Terras de Vera Cruz desde Os Mutantes. Sete meses depois, obtivemos finalmente as respostas por e-mail, as quais aqui reproduzimos. Benke Ferraz, guitarrista, foi quem as deu. Os Boogarins chegaram finalmente ao Bodyspace.
Admirável Mundo Novo ou As Portas Da Percepção?

Admirável Mundo Novo, por ser uma ficção. O As Portas sempre me deixou um tanto céptico.

Serem apelidados de "Tame Impala brasileiros" é para vocês um elogio, uma forma de se lamber a bota aos gringos, um insulto maquiavélico ou algo com o qual não se preocupam minimamente? Posso antes chamar-vos "Mutantes 2.0"?

Não nos preocupamos muito com isso. Quem escutar e acabar relacionando as coisas dessa maneira, provavelmente faz isso por bons motivos. Acho que Os Mutantes foram algo mais rico em intenção, muito mais corajoso. Ambas comparações são muito fáceis. Quero ver alguém apontando algo novo.



As Plantas Que Curam é o vosso primeiro disco, editado em 2013. Há quanto tempo vinham a trabalhar nele? Como decorreu o processo de composição e onde foi gravado?

Todas as músicas foram gravadas no meu quarto, durante o ano de 2012, em encontros esporádicos de domingo. Era algo bem solto, sem objectivo. Não éramos uma banda, nem nada.

Vou viver o hoje amor / Contigo ou sem / Esquecer de toda dor / Que a vida tem. Mas não é porém verdade que o amor só é bom se doer?

As coisas que dizemos não são muito pensadas.

Como fazem para transpor as canções do disco para um contexto de concerto ao vivo? Dão-se mais à improvisação ou fazem tudo certinho?

Como as canções no disco foram gravadas num ambiente totalmente de experimentação, não estávamos preocupados em reproduzir nada ao vivo. Foi um trabalho de tornar as canções mais completas com os quatro instrumentos acontecendo. O show é muito guitarrento se comparado ao disco.

Cantar em português era algo que estava planeado desde o início? No mar gigante que é a música psicadélica hoje em dia, acham que pode ser um factor importante para que se destaquem das demais bandas por via da "diferença" ou do "exotismo" ou algo mais?

Na minha opinião isso conta, sim. Como exotismo e tudo mais. Mas nada foi planeado, não estávamos esperando nada.

Goiânia é mais conhecida pela música sertaneja que pelo rock n' roll. Os Boogarins surgiram como reacção a isto?

Pode-se dizer que é parte de uma reacção a tudo. Temos festivais independentes que chegaram à vigésima edição. Bandas alternativas de Goiânia, com sete discos lançados, mas que não são conhecidas por nem 2% da cidade. É o nosso caso também. A coisa ainda funciona como resistência a algo mais. A cidade como um todo não conhece, entende ou abraça a música alternativa produzida. E isso nem quer dizer que não exista algo forte na cidade, claro que existe. Imagina os 2% que falei em uma cidade com mais de um milhão de habitantes. Se conseguíssemos fazer festivais com 20 mil pessoas com atracções locais, já seria incrível. Acho que exagerei então, talvez 1% esteja acompanhando e sendo afectada pela "reacção".



O que é que se segue na vida dos Boogarins?

Shows, disco novo, viajar e tudo o resto.

Como foram os concertos que deram em Portugal?

Foram incríveis, de longe dos melhores shows que fizemos no ano passado. É incrível ter as pessoas cantando suas canções depois de tanto tempo cantando para pessoas que não entendiam nosso idioma.

Querem falar da copa ou nem por isso? Ou das eleições no Brasil?

Estávamos gravando na Espanha durante a copa. Mal assistimos aos jogos. E acompanhámos o processo podre da eleição, [mas] no fim nem conseguimos votar, pois estávamos tocando em alguma outra cidade no dia.


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
02/02/2015