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The Black Angels
Ouvir as cores


A história começou quando, um dia, escutaram "The Black Angel's Death Song", dos Velvet Underground, e de logo ficaram fascinados com o nome, com o som, com a possibilidade da guitarra. <i>Fast forward</i> alguns anos e encontramos os Black Angels a encabeçar a longa lista do <i>psych</i> moderno, esse género que anda a deixar a cabeça às voltas dos ressacados do revivalismo <i>garage</i> da década passada e, convenhamos, a fazer com que continuemos a acreditar nesse tal de rock n' roll. Eles, que também organizam o Austin Psych Fest, lançaram o belo <i>Indigo Meadow</i> no ano transacto, o seu quarto disco numa carreira que vai fazer dez anos. A efeméride é também assinalada com a estreia em Portugal e logo no Reverence, na Valada do Ribatejo. Antes de vir até cá, Christian Bland acedeu a dar-nos uma entrevista.
Lançaram um novo EP, Clear Lake Forest, para o Record Store Day. São todos entusiastas do vinil? Acham que eventos como este podem levar as pessoas a comprar e a descobrir mais música nova, por oposição a apenas ouvi-la no Youtube? Enquanto fãs e compositores de música, qual a vossa opinião relativamente ao download ilegal?

Definitivamente, todos nós coleccionamos vinil. O Record Store Day é óptimo para os artistas e para as lojas de discos. Enquanto fã de música, gosto de ter o vinil no seu formato físico. Ouvir [um disco] no Youtube simplesmente não funciona para mim, não é como ouvir uma cópia do álbum em questão. Há algo de mágico em fazer tocar um LP, não se consegue superar a qualidade do som. O download ilegal acaba por acontecer de uma maneira ou de outra, portanto aprendi a aceitar isso, desde que as pessoas oiçam a nossa música. Espero que os verdadeiros fãs comprem o álbum.

Como descreveriam "música psicadélica" a alguém que nunca a tenha ouvido antes? Parece que nos dias que correm quase todas as bandas de rock são influenciadas pelo psicadelismo - o que acham do revivalismo pelo qual o género tem passado nos últimos anos?

É música que imita a experiência psicadélica. Humphry Osmond disse: «Para sondar o inferno ou elevar-se angélico, tome uma pitada de psicodélico». Acho que esse revivalismo tem sido óptimo. Os festivais psicadélicos estão a surgir por todo o lado: EUA, Europa, Grã-Bretanha, África do Sul e Austrália.



Muitas das vossas canções são sobre guerra - desde Passover a Indigo Meadow, são muitas as referências ao tema. O que é que há no assunto que vos atrai e vos leva a escrever sobre ele? Considerar-se-iam uma banda politica? Estão, enquanto indivíduos, activamente envolvidos na política?

Gostamos de observar e escrever sobre o que vemos no mundo. Estamos a documentar o que vemos.

2014 vai marcar o décimo aniversário da banda. Estão a planear algo de especial, seja em termos de concertos ou lançamentos? Existe alguma hipótese de trazerem um grande bolo de chocolate para Portugal e celebrarem connosco?

O nosso décimo aniversário foi a 1 de Maio, durante o Austin Psych Fest, portanto foi lá que celebrámos com todos os nossos amigos, mas se vocês quiserem celebrar connosco outra vez, ficaríamos mais do que contentes, até porque é a nossa primeira vez em Portugal. Mas... podemos antes ter um bolo de cenoura?

Vocês não só são uma grande banda de rock n' roll como também criaram o Austin Psych Fest, um festival que se tornou conhecido mundialmente. Como é que classificam esta experiência, agora que passaram tantas edições? O que é que vos levou a criar o festival, em primeiro lugar? Têm algum conselho que queiram dar a um jovem fã de música que queira começar o seu próprio festival na sua comunidade?

Começámos o festival em 2008, depois de termos andado em digressão durante três anos e conhecido montes de bandas ao longo do caminho. Decidimos que queríamos dar uma festa psicadélica em Austin, Texas, onde o rock n' roll psicadélico começou. Assim, convidámos onze das bandas que conhecemos durante a tour, juntamente com amigos de Austin, e demos a festa num Sábado, oito de Março. Acho que vieram cerca de 700 pessoas, e de ano para ano tem crescido. Tivemos mais de 5000 pessoas no último ano. O conselho que dou a alguém que esteja a tentar começar um festival é que deve começar por ter uma banda, primeiro, [depois] andar em digressão durante alguns anos, fazer amizade com bandas de todo o mundo, e no final unir forças com eles e montar um festival.

Li numa entrevista onde diziam que as sessões de gravação do Indigo Meadow foram "uma batalha para ver quem conseguia arranjar o som de pedal mais único e raro". Quem ganhou essa batalha? O Christian ou o Kyle? Em Portugal vão tocar no mesmo festival que o Oliver, dos A Place To Bury Strangers. Vão-lhe comprar alguns pedais?

Estávamos sempre a encontrar pedais estranhos dos anos sessenta no eBay, e comprávamo-los para ver qual é que soava pior. Acho que provavelmente empatámos. Encontrei um pedal Mica "Fuzzder" muito porreiro que soa como ao fuzz da "Satisfaction" e ele encontrou um Univox Super-Fuzz que soava como uma banshee selvagem a morrer. Temos uma data de pedais do Oliver. Eles soam sempre bem.



Relativamente ao álbum, de onde é que vem o título? Qual foi o processo criativo para este álbum, que bandas ouviram na altura, que livros leram? Porque é que escolheram o John Congleton para produtor?

O Alex é que deu a ideia de lhe chamar Indigo Meadow. Para mim, é o capítulo seguinte no conto de fadas depois do Phosphene Dream e do Phosgene Nightmare. Começámos a escrever o álbum em Janeiro de 2012 e tínhamos mais de trinta canções, e acabámos por gravar as nossas dezassete favoritas em Julho desse ano. As que não estavam bem terminadas acabaram no Clear Lake Forest.

Para as pessoas que nos lêem e que não sabem o que é, em que consiste a Reverberation Appreciation Society?

A Reverberation Appreciation Society são quatro gajos (Rob Fitzpatrick, James Oswald, Alex Maas, e eu) que começaram o Austin Psych Fest. É também a nossa editora. Temos conseguido editar álbuns das nossas bandas de Austin e dos arredores.

Por último, permite-me ser um pouco mesquinho: porque é que fizeram uma versão da "Soul Kitchen" quando a "Strange Days" é obviamente a melhor canção dos Doors?

A "Soul Kitchen" é melhor...

Tradução por Inês Vieira


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
05/09/2014