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PAPAYA
Fruta da época


Um dia Adorno pariu um filho chamado PAPAYA. O filho foi crescendo, foi-se tornando independente, foi fazendo coisas aqui e ali e agora partiu de mochila às costas à descoberta da Europa, num InterRail que passará por várias cidades e que servirá para dar calo a Dois/II, EP editado este ano pela Revolve. Ao passarem pelas Astúrias, os PAPAYA, pela voz (ou pelo teclado) de Bráulio Amado, com uma ajudinha de Ricardo Martins e Óscar Silva a dar dicas por trás do monitor, responderam-nos a algumas perguntas - estas mesmo que se seguem. Cientistas punk sem plano, ora pois.
Porquê papaia e não abacaxi?

Chega uma altura em que percebemos que já não somos uns putos e já temos potencialidade de sermos papás, ya? PAPAYA.

O que é que está na génese dos PAPAYA? Que vos motivou para se juntarem, vocês que têm todos currículo noutros projectos?

Houve um dia que nos encontrámos os três sozinhos na sala de ensaios e começámos a explorar outros caminhos para além daqueles que já estávamos a explorar juntos [e/ou] com outras pessoas. Fizemos uma música nesse dia, gostámos, gravámos, [e] decidimos fazer um disco todo naquela onda. Passado uns tempos percebemos que nos estávamos a divertir bastante e não fazia sentido parar.



Vocês estão espalhados por três cidades diferentes. Isso impede-vos de darem tanta atenção à banda como quereriam?

Na altura que gravámos/começámos estávamos por três cidades, mas actualmente estamos apenas divididos entre Lisboa e Nova Iorque. Por sermos apenas três pessoas as coisas conseguem fluir de maneira saudável e ter a devida atenção. Talvez se vivêssemos todos na mesma cidade as coisas seriam diferentes, ou então não haveria a mesma pica e gozo para fazer o que fazemos.

No espaço de duas semanas irão andar por Espanha, França, Bélgica, Reino Unido e Alemanha. O que é que esperam desta tour? Como surgiu a oportunidade de ir até lá fora?

Com Adorno (a outra banda onde os três tocamos) conseguimos ir em tour várias vezes nos últimos anos, de maneira que temos uma lista extensa de amigos espalhados pela Europa que faz com que as coisas sejam relativamente mais fáceis. Mas, contudo, é a primeira vez que vamos em tour com esta banda, com um som diferente de Adorno, por isso vai ser um pouco apalpar terreno e tentar divertirmo-nos ao máximo.

Está quase a sair o vosso novo EP. Como decorreu o processo de composição? Porquê a escolha da Revolve, e que importância atribuem ao facto de serem a primeira banda a editar por eles?

O processo decorreu durante o verão de 2013, numa altura em que estávamos os três em Lisboa. Não tínhamos um plano muito concreto para além de querer gravar algo - acabou por ser um EP. O convite da Revolve para nos editar surgiu numa troca de e-mails, no meio de outras conversas e projectos que temos com o Miguel. Para além da Revolve o EP também vai ser editado por uma editora de um amigo nosso, o Frances (Sieve And Sand Records). Basicamente, fazer projectos com amigos, meter coisas cá para fora com pessoas que já conhecemos, faz mais sentido do que lidar com um estranho total.



À primeira audição noto que não é muito diferente do vosso primeiro lançamento – e ainda bem. Os PAPAYA têm uma blueprint pré-definida daquilo que devem ser, ou no futuro haverá espaço para a experimentação?

PAPAYA existe para continuarmos a experimentar novas sonoridades. Ao mesmo tempo que procuramos uma identidade, tentamos subverter o nosso próprio plano.

Quem teve a ideia do vídeo para a "Bad Connection" e que tal foi gravá-lo?

Um amigo meu joga na equipa de rugby gay de NYC e estavam a fazer um evento para angariar fundos. Os membros da equipa iam-se vestir de drag queens para a festa e eu e outro meu amigo decidimos que teríamos de documentar o acontecimento. Na altura PAPAYA tinha gravado e queríamos um videoclip, então as duas coisas uniram-se.

O Bráulio fez o artwork do Um/I, dirigiu o vídeo supracitado e toca baixo nos PAPAYA. Não acham que estão a colocar-lhe demasiado peso em cima?

Exactamente. Por isso é que o novo EP (Dois/II) e o próximo vídeo estão a cargo do baterista, Ricardo Martins, e da sua namorada e companheira de crime, Margarida Borges. O terceiro disco é bom que fique para o Óscar (guitarrista).

Já está em vista mais alguma coisa para além da tour e do EP, ou trabalham ao sabor da maré?

Mais gravações, mais discos, mais tours - quando e como é que não sabemos ainda. PAPAYA é um grupo de cientistas punk sem um plano.


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
15/07/2014