Nesta altura,
Engravings já não é segredo para ninguém. O disco de estreia de Forest Swords, que parece querer contar muito mais do que aquilo que conta, é uma viagem por uma parte (perdida?) da memória e do tempo e resgatada com brio. Mas o que está por detrás de Forest Swords? O que esconde a sua música, etérea e misteriosa, com uma carga que roça o ameaçador, mas não deixa de ser humana? Quem está por detrás de Forest Swords? Perdoada a nossa curiosidade – podemos dizer já que o disco é um relato musical da relação de uma pessoa com o seu lugar -, aproveitámos as vésperas do Semibreve, onde Matthew Barnes vai actuar já no dia 16 de novembro, para saber mais. Falou-se pouco de música, mas ficámos a conhecer melhor o homem e a sua criação.
A primeira coisa notei em Forest Swords, é que a música é naturalmente bonita, o que me faz pensar que talvez seja algo pessoal. Há muito de ti na música, no processo de a compor e criar?
Em tudo – fazer música para mim é um processo muito fluido, orgânico até. Às vezes acontece, outras nem por isso. Chego a atravessar períodos em que não consigo encontrar inspiração ou em que lido com canções difíceis, então paro com aquilo e faço outra coisa durante um tempo. Acho que é por isso que muita da minha música soa pessoal e as pessoas acabam por se ligar a ela. Não a forço. É como uma conversa – as melhores são as que acontecem facilmente.
E vês o teu projecto como sendo uma necessidade pessoal ou é uma soma de todas as tuas influências?
É definitivamente uma soma de tudo o que eu gosto de ouvir. Dub, punk, house, drone, hip-hop, metal, pop… Está tudo ali dentro, algures, mas nunca te conseguiria dizer exactamente onde.
Ainda falando da tua música, aqui e ali parecem ouvir-se elementos mais folclóricos, tradicionais. É complicado encontrar equilíbrio entre música mais “tradicional” e outra mais “moderna”?
Não acho [complicado], mas não estou interessado em sons modernos, ou que estão na moda, ou que são trendy. Expiram demasiado depressa e eu quero que a minha música tenha mais longevidade que isso. Prefiro experimentar melodias de outro sítio ou de outro tempo. Ligo-me mais facilmente a esse tipo de som - e espero que as pessoas também.
Quando começaste a compor o Engravings já sabias o que querias, a que ia soar?
Aconteceu tudo muito naturalmente. O “meu” som chegou-me muito rapidamente. Até nas primeiras demos que tenho, de mim a tocar, todas têm o mesmo sentimento que continuo a ter agora. É interessante reparar nisso. Estou ansioso por gravar material novo e ver onde é que isso me vai levar a seguir.
Cresceste numa zona costeira de Inglaterra, junto do mar. Essa geografia influencia-te de alguma forma?
Sim, definitivamente. A zona onde eu vivo chega a ser desafiante no que toca ao tempo. É na costa, tem imensa chuva e imenso vento e no verão é muito popular entre os turistas. Acabo por ter um espectro bastante completo a nível paisagístico e meteorológico. Acho que era estranho se não influenciasse a minha música já que é uma parte tão grande (e difícil) de viver aqui.
As baterias parecem muito orgânicas ao longo do disco - gravaste-as, são field recordings…?
Todas as baterias são programadas no computador, mas passei muito tempo a afiná-las para soarem o mais orgânicas e humanas possível.
És um viciado em equipamento?
Sou o contrário, na verdade. O meu setup é muito mais básico do que se possa pensar. Não gosto de gastar dinheiro em equipamento caro. Trabalho num portátil antigo, alguns teclados e uma guitarra. É isto. Falando “de onde vêm os sons”, para o
Engravings toquei ou programei tudo, mas é possível que a raiz das melodias venha de um sample que tirei de algum lado. A coisa boa de trabalhar em computadores é que podes tirar um sample e retocá-lo ou cortá-lo; então acabas por sentir que é mais teu. Ia-me sentir mal por usar um bocado do trabalho de alguém sem o trabalhar de alguma forma. Mas sim, a maior parte das coisas neste disco foi escrita, tocada e gravada por mim.
É mesmo verdade que masterizaste o disco ao ar livre? Achas que isso acabou por afectar ou influenciar o resultado final do disco?
Sim, é verdade. Foi bom sair do quarto escuro onde gravei o disco e ir para o exterior. Mudou a minha forma de ouvir música e a minha abordagem à forma como o espaço influencia os instrumentos, as batidas, etc. Bastaram alguns dias com o meu portátil, lá fora, para acabar a mistura – muito simples e rápida, mas intensa.
Segundo a Wikipedia, o The Wirral, onde vives, é uma zona cheia de história, com indícios pré-históricos e romanos. É algo muito notório?
Acho que isso influencia tudo aqui. Todos os sítios têm nomes que de alguma forma têm raízes nórdicas, há imensos sítios antigos e nota-se uma energia antiga, ancestral por aqui. Mas não nos ensinam isso na escola e só ao ficar mais velho é que me comecei a interessar por isso, em explorar esses temas e a história do próprio lugar. Comecei a ler muitos livros sobre a história de The Wirral.
Já pensaste em mudar de cidade, para ver se isso muda de alguma forma a tua música?
Sim e estou a pensar fazê-lo para o próximo disco, embora ainda não saiba bem para onde vou. Gosto da ideia de que cada disco que faço esteja ligado, ou sea influenciado por uma cidade ou área específica. É uma boa forma de tentar descobrir a energia de um lugar e destilá-lo para a música.
Gostavas de ter mais gente no The Wirral com quem pudesses tocar?
Nem por isso. Liverpool é muito perto, então acabo por andar por lá - e a cena musical e artística é muito vibrante. Também é bom para mim estar de fora disso, de certa forma. Posso simplesmente entrar quando quero sem me sentir pressionado a fazer parte de algo. Posso trabalhar no meu canto e continuar a ter o melhor de dois mundos. Não tenho irmãos ou irmãs, então estou habituado a estar e a trabalhar sozinho. Gosto das coisas assim.
Para além de compor, também trabalhas com instalações sonoras. É uma foram de te sentires mais livre, se calhar?
Sim, é bom experimentar com coisas que não são taxativamente um álbum ou um concerto, que são formas mais tradicionais de trabalhar. Trabalhar nesse ambiente de galeria de arte dá-me muita liberdade para tocar à vontade e explorar ideias e temas sem afectar nada. É uma boa forma de adquirir novas capacidades e conhecimentos, que – aí sim - acabam por afectar a forma como abordo a música em Forest Swords.
Vais estar em Portugal, para um concerto no Semibreve. Que podemos esperar da tua actuação?
Agora tenho andado a tocar com um baixista. Eu lanço e programo as pistas [electrónicas], ele toca e dá algum peso e um elemento live à música. Também temos elementos visuais que vão estar a passar ao mesmo tempo. A maior parte do concerto baseia-se no último disco, porque com o passar do tempo tenho-me sentido cada vez mais desligado do
Dagger Paths - o que acho que faz parte de crescer como artista. As músicas do
Engravings são muito mais divertidas e interessantes de tocar ao vivo.