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Guadalupe Plata
Os três pastorinhos


Os Guadalupe Plata são espanhóis e fazem blues. Blues sujinho, dizem, blues do pântano. Naturais de Úbeda (Jaén), são um dos nomes mais interessantes da produção musical espanhola recente. Pedro de Dios, Carlos Jimena e Paco Luis Martos nasceram com a influência dos blues e um dia encontraram a coragem para fazer dessa música a música deles. Um EP e dois discos depois estão no ponto e querem prová-lo em terras lusas. Os Guadalupe Plata actuam hoje no Lounge, em Lisboa, e amanhã no primeiro dia do Optimus Primavera Sound, no Porto. Antes disso, falamos com o baterista Carlos Jimena para saber um pouco mais acerca das motivações da banda que parece ter um estranho acordo entre o sagrado e o profano. Parece cada vez mais inverosímil o ditado que nos diz que de Espanha nem bons ventos nem bons casamentos.
Como nasceram os Guadalupe Plata? Como é que se conta a vossa ainda curta história até agora?
 
Os Guadalupe Plata nasceram entre oliveiras e pântanos, debaixo do calor das pedras da cidade de Úbeda, onde a Chiquitilla del Gavellar é presidente honorífica. O grupo começou como um duo, Pedro (guitarra) e Jimena (bateria). Foi na gravação do nosso primeiro EP que o nosso amigo e irmão Paco Luis entrou de rompante, uma espécie de chain shaw massacre. E o grupo formou-se. Um disco branco e outro disco negro, um com gatos e outro com um cão, esta é a curta história da banda.
 
O que é que nos podem contar do último disco? Foi fácil chegar a este som?
 
O primeiro disco (o EP lançado em 2009), veio do desejo de fazer de blues puro e duro, naquela época só queríamos blues e foi isso que gravamos. Depois no Guadalupe Plata (2011) queríamos fazer blues mas queríamos que fosse mais “podre”, queríamos mais sujidade e pântano. No último Guadalupe Plata (2013) queríamos continuar a fazer blues e estar mais perto das nossas raízes andaluzes e ao mesmo tempo que o som fosse mais “podre”, com mais sujidade e mais pântano. Ao fim e ao cabo os blues saem-te das tripas.
 
Li algures que se assumem como uma banda de “americana made outside of America”. Como é essa sensação de estar fora e dentro desse território?
 
Nós somos uma banda da Andaluzia mas é verdade que não podemos negar a nossa grande devoção pela música americana, sempre a ouvimos e foi sempre o fundamento da nossa vida musical. Quando vamos aos Estados Unidos sentimo-nos muito bem, estamos à vontade e sentimo-nos sempre bem-vindos, nota-se o grande poço de rock and roll que há naquela cultura. Sentimo-nos parte dessa cultura da mesma forma como nos sentimos parte da cordilheira Penibética.
 

Estas influências são sentidas por todos vocês há muito tempo? Pode-se dizer que cresceram com essa música?
 
Desde que o meu irmão me deu num dos meus aniversários um disco de Sonny Terry e Brownie McGhee os blues entraram na minha vida. A partir daí só me lembro de bons amigos tocando juntos sempre.
 
Quanto de Jaen há disco?
 
Há muita coisa porque somos de Úbeda, em particular há Lamentos de Trompetes tocados em slide e bombos da Semana Santa da irmandade do Santo Entierro de Cristo de Úbeda. Quando nasces num sítio levas tudo dentro de ti. Há muitas coisas que se gravam na tua cabeça desde a tua infância e nunca te livras disso. Nunca.
 
Foi difícil para vocês o processo de mostrar o disco a uma editora e de editar esse mesmo disco? Como está o panorama discográfico em Espanha?
 
Com a Everlasting foi tudo muito simples, são pessoas da mesma laia e tivemos uma ligação instantânea. Atiraram-se logo de cabeça e sem nenhuma dúvida nem qualquer tipo de paleio. O panorama acho que é bom.
 
Como acham que na Espanha olham para os Guadalupe Plata? Que pares musicais sentem que têm no país, se é que têm alguns?
 
Aqui olham para nós como uma banda ao vivo. A única maneira que existe é a de defender o teu disco com um concerto.


 
Que retrato de Espanha fazem hoje em dia? Acreditam que a vossa música pode ser uma espécie de banda-sonora para estes dias agitados no país?
 
A música foi sempre uma forma de empurrar as agitações por ser um meio livre, que fala de tudo e expressa opiniões e sentimentos. Mas… Nós não queremos política. 
 
Que promessas podem fazer relativamente a estes dois concertos em Portugal?
 
A melhor promessa será voltar e fazer uma porrada de concertos no nosso país vizinho, Portugal.
 
De onde vem afinal o vosso nome? Quem é afinal Guadalupe Plata?
 
Guadalupe: Virgem de Guadalupe, Padroeira e Presidente honorífica de Úbeda, Chiquitilla del Gavellar. Plata: potências protectoras de prata que rodeiam a imagem da nossa padroeira. Quando se anda com o demónio, temos de ter as costas bem protegidas.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
29/05/2013