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Efterklang
Os mistérios de Piramida


Os Efterklang não são uma banda qualquer. E o último disco nos dinamarqueses mostra isso mesmo como nenhum outro até à data. Para Piramida​, Casper Clausen, Mads Christian Brauer e Rasmus Stolberg foram até a uma cidade abandonada na Rússia e descobriram lá os sons que serviriam de base para o quarto disco da banda. Piramida é isso mesmo; um disco que parte do lixo, dos escombros, da solidão e do abandono para se fazer beleza, espanto, sofisticação. Nas vésperas de dois concertos certamente piramidais no Porto (30 de Abril, no Hard Club) e em Lisboa (2 de Maio, no Lux), fomos falar com Rasmus Stolberg para perceber a génese criativa e logística de uma banda como os Efterklang, mas sobretudo para perceber melhor quais são os mistérios de Piramida. E descobrimos, entre outras coisas, que a probabilidade de encontrar Casper Clausen, Mads Christian Brauer e Rasmus Stolberg na zona mais popular de Copenhaga é mais baixa do que podíamos imaginar.
Neste novo disco decidiram capturar os sons da cidade fantasma de Pyramiden, na Rússia, e escrever o disco a partir daí. Como é que chegaram a essa ideia?
 
A nossa ideia inicial era ver se conseguíamos, através das field recordings, relacionar um lugar específico com o nosso próximo álbum. Estávamos à procura de locais interessantes e de repente, do nada, recebemos um e-mail com fotos de Pyramiden (Piramida em russo) e ficamos imediatamente apaixonados. Lemos que o grand piano mais a norte no mundo ainda permanece por lá e depois disso não tivemos qualquer tipo de dúvida. Soubemos imediatamente que queríamos ir até lá.
 
Sentiram a necessidade de mudar o processo de gravação do disco depois de três álbuns? Sentem constantemente essa necessidade de mudar a forma como fazem as coisas?
 
Nós mudamos sempre o processo. Fizemos isso em todos os nossos discos até agora, nos quatro discos. Existem tantas formas diferentes de fazer um disco e nós queremos tenta-las todas. 
 

Como foi depois trabalhar esses sons em estúdio. Qual foi a vossa estratégia? Foi um grande desafio para vocês?
 
O resultado chegou até nós através da experimentação. Especialmente o Mads, que investiu muitas horas naquele material a criar batidas e melodias e pequenas ideias para canções que o Casper depois continuou, adicionando coisas. Depois começou a escrita de canções propriamente dita. Alguns dos sons foram utilizados na sua forma natural, mas a maior parte deles foram manipulados e transformados numa coisa completamente nova. 
 
Ficaram contentes com o resultado do documentário, The Ghost of Piramida, que documenta a experiência que antecedeu a gravação do vosso quarto disco? Sentiram que significou de alguma forma um certo completar do processo total?
 
Ficamos mesmo muito contentes. Adoramos o facto de o filme não ser na verdade muito sobre os Efterklang. É sobre uma cidade abandonada e é uma história de amor. O Andreas Koefoed fez um excelente trabalho com este filme. Nós não podíamos estar mais felizes. 
 
© Nick Bourland
Ainda no seguimento deste disco, desenvolveram as The Piramida Concert Series e tocaram o álbum inteiro com orquestras clássicas em salas como a Sydney Opera House, o Metropolitan Museum of Art em Nova Iorque, o Barbican Concert Hall em Londres, entre outras. Como foi essa experiência? O que nos podes contar acerca do processo? Foi difícil escrever os arranjos para essas canções?
 
Nós vemos o Piramida, o The Ghost of Piramida e as The Piramida Concert Series como uma trilogia. Tornara todos estes sonhos realidade é um milagre e sentimo-nos muito agradecidos por tudo ter acontecido e corrido da melhor maneira. Tocar o album inteiro com uma Orquestra é simplesmente alucinante. Adoramos faze-lo. Dá imenso trabalho mas vale totalmente a pena. Temos uma boa equipa para projectos como este, mas nós estamos sempre a segurar o leme das operações por isso a coisa pode ser bastante cansativa.
 
Uma vez que gostam de mudanças… Como é que acham que podem mudar o processo para o vosso próximo disco? Já têm algumas ideias para trabalhar no próximo álbum?
 
Sim, temos algumas ideias. [risos] Mas não vamos contar mais nada por enquanto. 
 
Acho que a vossa música tem um sentimento muito profundo de humanidade. Concordas? Soa quase catártica e muito adequada para estes tempos de incerteza. Ou é só de mim?
 
Não tenho bem a certeza acerca do que responder, mas sinto-me lisonjeado e tocado ao ouvir a tua interpretação.
 
© Nick Bourland
O que nos podes dizer acerca destes dois concertos em Portugal? O que é que ambas as partes podem esperar destas duas datas?
 
Nós adoramos Portugal. Temos sempre concertos incríveis no vosso país.
 
Se eu for outra vez a Copenhaga e for até Nyhavn, quais são as hipóteses de vos ver por lá?
 
Cerca de 0.01%. [risos]


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
29/04/2013