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Simone White
Aloha Simone


Ao passo que Simone é já nome de cantora dados factos consumados, ironicamente a raíz etimológica da palavra prende-se com o acto de ouvir. Invertam-se os papéis. Nascida no Hawaii, no seio de uma família de músicos, com direito a tudo o que suscita no vosso imaginário, desde as cabanas às palmeiras, Simone White, começou a tocar ukulele quando visitava uma tia. Da avó guardou as primeiras aulas de piano clássico, ainda em criança. A guitarra empunhada só aparece após a adolescência. Simone já morava em Seattle e a necessidade de compor levou-a a optar pelo instrumento cordofónico bastante popularizado na época. Inspirada em nomes como Bonnie Prince Billy e Joni Mitchell, é então como cantautora folk que se distingue no meio, lançando quatro álbuns desde 2003. Entre participações em compilações anti-guerra ou anúncios publicitários de uma famosa marca de automóveis, Simone White tem vindo a revelar- se uma compositora cada vez mais completa e uma voz sem igual. Amanhã regressa a Portugal para apresentar Silver Silver nos Maus Hábitos e deixa recado.
Nasceste no meio de uma família de artistas no Hawaii. Que memórias guardas desses tempos? Familiarizaste-te com o ukulele?

Eu comecei a tocar ukulele há muitos anos atrás, aquando uma visita à minha tia, em Waikiki. É um instrumento muito doce. As minhas primeiras memórias estão recheadas de oceano, areia, palmeiras, papaias, cabanas em palha e lagartixas.

Primeiro aprendeste a tocar piano. Foi um processo natural, uma vez que a tua mãe também tocava, ou foi totalmente independente?

A minha avó era pianista e ensinou-me a tocar piano clássico quando era criança. A minha mãe era cantora folk mas parou antes de eu nascer. Não tinha pegado numa guitarra até ter vinte anos. Parece independente da minha história familiar mas agora consigo ver que talvez tenha sido influenciada, inconscientemente.



Li algures que começaste a tocar guitarra já em Seattle. Esta mudança de instrumento aconteceu por alguma razão em especial? De alguma maneira, o movimento musical alternativo da cidade te influenciou?

Guitarra era o instrumento que lá estava. Eu criava canções vocalmente e queria um instrumento para compor, para ser capaz de transmiti-lo. Nessa altura ouvia bandas como Pixies, Sonic Youth, Kristen Hirsch, Stereolab.

Acabas a tocar em alguns bares, clubes e festas em casas. Numa entrevista falaste sobre esses tempos de um certo modo nostálgico… “Era de outros tempos, toda a gente tocava jazz e fazia teatro surrealista.” O que pensas ter mudado nos últimos 20 anos?

O tempo de que falas, quando comecei a tocar em bares e clubes, foi em 2000, em Nova Iorque. Apenas há 12 anos. Obviamente a internet fez uma grande diferença para aqueles que estão a tentar expôr a sua música ao mundo. É mesmo fixe poder comunicar directamente com fãs em lugares distantes.

O segundo álbum aparece de uma forma engraçado, tendo como principal leitmotiv Master and Everyone de Bonnie Prince Billy. Além dele, quem mais poderias apontar com uma fonte de inspiração?

Diria que as minhas principais inspirações - a música que me provoca claros momentos de epifania - são Low, Bert Jansch, Betty Carter, Chet Baker e Joni Mitchell.

Nesse episódio ligas ao teu produtor e rapidamente te diriges à casa/estúdio dele para começar as gravações de Im Am The Man. Assim, o teu processo de criação é instintivo?

Penso que toda a criação é instintiva.

Esse disco foi bastante bem recebido pelos críticos e uma das canções acabou a ser usada numa publicidade da Audi e a ser tocada no intervalo da final da World Rugby Cup em 2007. Sentiste que, de alguma forma, desse momento em diante, atingiste mais pessoas e subsequentemente houve um maior reconhecimento do teu trabalho?

Completamente. O anúncio da Audi ajudou muito a levar a minha música às pessoas.



É evidente que a maioria das tuas letras fala sobre ti ou sobre a tua visão das coisas e do mundo. Nesse sentido, gravar ou subir ao palco com uma banda significa partilhar e reflectir esses mesmos pensamentos?

É mesmo fixe ter uma banda em palco. Quando toco sozinha é muito cru e vulnerável. Com outros é muito mais divertido.

Pensas que, de algum modo, uma mulher a tocar guitarra e uma voz suave pode perpetuar todo o tipo de mensagem de forma mais abrangente? O que digo é, mesmo havendo letras contestatárias, essas características podem facilitar a recepção?

Talvez. Não gosto de compor canções onde aponto o dedo aos outros, culpando-os. Prefiro canções políticas onde falo sobre “Nós”, como todos somos cúmplices.

No último álbum, Silver Silver, as diferenças e a aposta no experimental nas composições são notórias. O que te levou a isso?

Trabalhei com os produtores de uma maneira diferente do que aconteceu nos outros álbuns. Fizemos as músicas em estúdio, cresceram muito organicamente.

Mas vamos ao que interessa… O que podemos esperar da tua performance ao vivo amanhã?

Vou tocar um set a solo e depois vamos tocar Silver Silver. Para as pessoas que apenas me viram tocar sozinha vai ser uma grande diferença. Fazemos algum barulho!


Alexandra João Martins
alexandrajoaomartins@gmail.com
04/02/2013