A canção-tÃtulo do disco de estreia do cantautor Pedro Esteves foi escrita há catorze anos. Ao longo dos anos, com o passar do tempo, sem pressas nem correrias, a composição foi dando os seus frutos, as canções foram surgindo, os concertos formaram os restantes traços de personalidade musical, o desejo foi-se tornando realidade e foi com os convites da regressada Orfeu que tudo se tornou possÃvel para Pedro Esteves. Primeiro para gravar uma das canções de Zeca Afonso na compilação
ReIntervenção, depois para gravar o seu disco de estreia,
Mais um dia, um conjunto que canções que não deixam de homenagear nomes como Fausto, Sérgio Godinho, José Mário Branco, entre outros, mas que procura dar uma nova voz à tradição cantautora nacional. Em entrevista com Pedro Esteves, trilhamos o mesmo caminho que percorreu até chegar ao seu disco de estreia e tentamos perceber o que motiva o seu trabalho. Ou seja: quisemos saber de onde vem para perceber para onde vai.
Como descreverias o teu trajecto até chegar a este disco de estreia?
De um certo ponto de vista, longo. Resumidamente, tudo começou às portas do ensino universitário quando fiz as primeiras canções. A partir desse momento fui sempre compondo. Compunha, mas raramente subia a palco. Só de há 3 ou 4 anos para cá é que as apresentações passaram a acontecer com alguma regularidade. Propus-me em diversas casas, maioritariamente em Lisboa salvo uma ou outra fora da zona metropolitana. O repertório foi crescendo e a dada altura desejei de forma convicta tomar a via da música e avançar com a intenção de gravar um disco. Gravei uma maquete e fui tentando chegar às editoras. Surge então, através da Orfeu, o convite para aquela que foi a minha primeira participação discográfica. Gravei um tema de Zeca Afonso para integrar o CD
ReIntervenção e era simultaneamente uma homenagem ao próprio Zeca Afonso e sua obra e um novo arranque para esta histórica editora. Logo depois, a Orfeu abriu-me a oportunidade para gravar este primeiro CD que agora edito.
Sei que o tema-tÃtulo deste disco foi escrito há 14 anos. O que mudou desde então na forma como vives a música?
Estou mais consciente das questões que envolvem a composição das canções. Fui desenvolvendo essa consciência num processo de esbarrar e ultrapassar os problemas e impasses que surgiam. Todavia, também posso afirmar que tal não significou nem significa que o acto de compôr seja hoje mais fácil. Antes pelo contrário, obriga-me a pensar em tantas outras coisas que de inicio não pensava. Acrescente-se a isto, a preocupação de não repetir caminhos, seja nos textos seja nos desenvolvimentos melódicos e harmónicos.
Chegado a este disco, ao momento de o conceber, como foi escrevê-lo, gravá-lo e mandá-lo cá para fora?
Não foi pensado de forma linear. Tinha temas compostos em épocas muito diferentes, por isso acabei por fazer um apanhado de todos esses momentos que foram o caminho através do qual algumas canções nasceram, passaram e sobreviveram. Reunido o repertório, seguiu-se a questão da entrada dos músicos, embarcados de primeira linha como lhes chamei, para dar a devida consistência ao trabalho. Com a boa experiência que tinha tido anteriormente na gravação do tema “A presença das formigas†para o CD
ReIntervenção, voltei a chamar o Filipe Raposo e o António Quintino para formar o núcleo duro do disco. O Joaquim Teles (Quiné) viria depois a ser convidado para dar outra côr nalguns temas do alinhamento. Uma particularidade deste trabalho foi a opção de o fazer gravando em simultâneo (inclusive a voz) com o referido núcleo. Tudo isto sob a direcção musical do Filipe Raposo. Por fim, para dar nome ao disco decidi chamar-lhe
Mais um dia. Foi uma escolha que fiz não só por ter sido a primeira composição, mas também por encerrar de alguma forma, e em si mesmo, as fontes de inspiração para o meu trabalho. O encarte gráfico que a Égle Bazaraité fez traduziu muito bem essa ideia.
Fala-me um pouco das parcerias deste disco. Que papel tiveram no seu desenvolvimento?
No tempo em que eu estava dedicado apenas à composição, o meu irmão Filipe, andou sempre atento ao que ia fazendo. Tinha um olhar critico sobre o que estava a compôr e sendo também ele músico, acabou por se envolver e escrever algumas canções para as quais me propôs parceria. Com a parte musical já resolvida e acabada, o desafio que agora se colocava era fazer a letra com um grau de liberdade a menos, ou seja, colocar a palavra numa estrutura musical pré-concebida. Dessa experiência partilhada escolhi dois temas: o “Pote Quebrado†e “Ao fim da noite (Eu e tu)â€.
Que convidados gostarias de ter tido neste disco?
Na realidade não me preocupei com eventuais convidados para além dos músicos que estiveram envolvidos no disco e com quem tive o prazer de trabalhar e aprender, mas certamente há muita gente cujo trabalho eu admiro e com quem seria uma honra também poder partilhar caminho.
Quais foram os maiores desafios que enfrentaste neste disco?
O primeiro grande desafio talvez tenha sido o simples facto de entrar em estúdio pela primeira vez para a gravação de um disco. Depois, foi seguir o caminho de gravar em simultâneo com o núcleo de músicos. É curioso que este facto tenha tido um duplo impacto em mim. Se por um lado pesou-me a responsabilidade das coisas sairem bem a cada “ataque†aos temas, por outro houve um reforço da minha concentração aliado à confiança que estes músicos inspiram.
Que outras inspirações existem neste disco para além daquela que advém dos grandes cantautores lusófonos?
Para mim, com uma boa dose de curiosidade e atenção, todo o aspecto do quotidiano é fonte de possibilidades para me inspirar. Ali pode estar a fagulha ou a chispa inspiradora para começar a trabalhar. Depois a vontade, a insistência e perseverança como motores para levar adiante esse acto de compôr através da procura de melodias, harmonias e o desenvolvimento de histórias e letras de que me sirvo para as contar.
Qual é a sensação de lançar o disco de estreia numa editora com tanta história?
É um momento de muita alegria e uma honra poder ter tido a oportunidade de gravar por uma editora que foi casa de tanta gente cuja obra eu muito admiro.
Como é – e vai ser - a apresentação deste disco? Existem planos nesse sentido?
Nesta fase estou a passar pelas Fnac´s em formato showcase. Passei pela Fnac do Chiado e segue-se agora a Fnac de Almada a 29 de Abril. Depois, a cada concerto conto fazer a apresentação completa deste mesmo trabalho. Por agora tenho agendado para dia 11 de Maio na Escola de Música do Conservatório de Lisboa e para dia 8 de Junho no Café-Concerto do Auditório da Guarda. Em breve, espero poder anunciar outras datas. A agenda será continuamente actualizada no site
http://www.pedroestevesmusica.com.