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Os Passos Em Volta
A Cafetra da Paixão
Esta mão que escreve a ardente melancolia da idade é a mesma que encontrou o punk e a cultura DIY quando jovem imberbe à procura de aventura sónica e um antÃdoto à apatia estudantil generalizada. Hoje tal como dantes, esse fascÃnio por aqueles que combatem os seus próprios fantasmas recorrendo à linguagem universal do riff e à terapia do ruÃdo permanece. E é por isso que se gosta tanto da Cafetra. São jovens, abraçaram essa mesma cultura, ligaram os amplificadores e trouxeram uma dose enorme de boa disposição, barulho rock n´ roll e a eloquência de miúdos educados pela internet e pela street em doses iguais. Ora homenageiam Herberto Hélder ora elogiam Lil´ B sem elitismo que o valha. Os Passos Em Volta não são os salvadores do indie nacional, não são poster children do Do-It-Yourself e da messthetics , nem são putos que não tocam um caralho: são eles próprios. Para o bem e para o mal. Mas quando se é desta forma genuÃno, só pode ser para o bem. Aqui fica a entrevista possÃvel com João Marcelo, alias Éme.
Não acham má onda mandar o Sócrates para o caralho agora que ele praticamente já não se encontra entre nós?
Essa canção não tem tanto a ver com o Sócrates ou com alguma mensagem polÃtica. Foi uma coisa que se gritou nos Santos Populares de 2010 e a canção é sobre esses Santos Populares, ou seja, não estamos a mandá-lo para lado nenhum, só reproduzimos o que se passou.
O que têm achado das reacções ao disco, tanto da parte de quem tem adorado como da parte dos haters ?
Nós temos todos opiniões diferentes sobre isso. Claro que não curtimos muito haters (embora achemos alguma graça ao hating ), e não damos importância a isso. Do mesmo modo, também não damos muito cred a quem fala bem só por falar, embora seja fixe saber. Não fazemos isto a pensar nisso, e já estávamos à espera que as opiniões divergissem.
Há alguma história especial por detrás da “Petesar†que o mundo deva conhecer?
Não, tudo o que é verdade está na canção.
Até Morrer , pela sua sonoridade, funciona quase como um cruzamento entre o lado mais rock da Cafetra e o que está mais virado para a canção folk – ruidoso e calmo em quantidades semelhantes, capaz de conter num só CD canções como a “Acustiquinha†e a “De Repente…†sem soar estranho. A ideia era escrever um álbum que servisse como um conluio das diferentes vertentes musicais da editora? Um disco, digamos, mais puramente pop do que o que fazem nos restantes projectos?
Este disco tem temas que vêm de alturas diferentes e, como tal, não há nenhuma ideia por trás deste álbum, é só um conjunto de cenas que fomos juntando. Possivelmente acontece o inverso: como esta é uma das primeiras bandas (e uma das que engloba mais gente), as ideias foram-se ramificando para as outras bandas e projectos.
As cenas da Cafetra sempre me pareceram algo que, não o enfatizando, não se parece preocupar com o “erroâ€, mas o disco d´Os Passos Em Volta soa muito mais trabalhado e pensado do que o que já ouvi dos outros grupos. Foi uma forma de responder à s crÃticas básicas de que «não sabem tocar», ou de que «não são a sério»...?
Não, claro que o erro não é importante, mas se fazemos um disco tentamos fazê-lo bem. Não foi preocupação nossa responder a nenhuma crÃtica, fizemos o álbum que querÃamos e isso é o mais fixe. Quanto a essas crÃticas ainda as recebemos.
Os Passos foram a primeira banda da Cafetra, e são agora também a primeira a lançar um LP, depois de a editora ter “explodido†com os EPs de Pega Monstro, Éme, 100 Leio, etc.... sentem que é o zénite do trabalho que têm vindo a desenvolver? Que o primeiro LP da Cafetra não podia ser senão d´Os Passos?
Na verdade, a primeira banda foi Kimo Ameba. Os Passos em Volta apareceram pouco depois. O primeiro LP da Cafetra teria de ser de uma dessas bandas. Sendo que o de Passos ficou pronto primeiro, saiu primeiro.
Também se aliaram à Mbari, que passou a distribuir os vossos discos. Como surgiu esta ligação?
O João Santos (Mbari) ouviu por via do B Fachada e gostou.
O que transparece da forma como trabalham – e já o disseram nalgumas entrevistas - é que vocês não se importam muito que vos vejam e tratem como “putosâ€... É uma forma de descartarem qualquer tipo de responsabilidade, e assim poderem continuar a fazer o que vos apetece sem preocupações?
Não pensamos muito nisso. Não é nada bacano ser tratado como puto quando querem tirar partido disso para não nos levarem a sério, mas fora isso é mais fixe ser novo que velho.
Juntamente com os Kimo Ameba, vão dar o vosso próximo concerto em fevereiro. Visto que a noite é só vossa e num espaço como a ZdB, o que é que se pode esperar que não tenha acontecido noutros concertos? Acham “bizarro†irem lá tocar, como disse o Quintela?
É fixe ir tocar a um sitio onde estamos habituados a ver grandes concertos. Prognósticos, só no final do jogo, como diria o Diego Armés.
Que momentos destacam deste ano que passou, em que a Cafetra se deu a conhecer ao mundo?
Pega Monstro no Milhões de Festa, o fundraising da ´fetra no teatro da Barraca. E termos feito a primeira parte do R. Stevie Moore.
O que é que podemos esperar d´Os Passos, e da Cafetra em geral, para 2012?
Já saiu o [EP] de Go Suck a Fuck, em janeiro. Prevemos lançamentos de Kimo Ameba, Pega Monstro, Smiley Face, Éme, 100 Leio. E muitas outras coisas que se nos apareçam a frente. De resto, continuar a tocar, gravar e editar.
Qual é o vosso poema preferido do Herberto?
Isso é cada um o seu, todos d´Os Passos em Volta: Mary - "O Grito", Petesar - "Os Comboios Que Vão Para a Antuérpia", Junória - "Cães e Marinheiros", Jules - "A Teoria das Cores", Éme - "Estilo"
Paulo CecÃlio pauloandrececilio@gmail.com
11/02/2012