bodyspace.net
Akron/Family
A Bondade cósmica e o significado
Não são de um terra chamada Akron, nem são parentes. São um dos nomes que primeiro surgiram no começo do século na vaga free-folk e que tiveram a habilidade de se consolidarem a cada álbum que passa. Acima de tudo, os Akron/Family demonstram uma capacidade de ser Bom e espalham uma energia positiva pouco comum (um dos antigos membros abandonou a banda para se juntar a um centro budista), sendo os seus concertos conhecidos pela intensidade do acto. Michael Gira, dos Swans, lançou-os, o que causa alguma estranheza, mas será daqueles fenómenos gerados pela honestidade de quem compõe música de forma dedicada e aberta, seja em que direcção for. Os Akron/Family trazem a Portugal The Cosmic Birth and Journey of Shinju TNT e tocam hoje em Lisboa, na ZDB, e amanhã no Hard Club, no Porto. O baixista Miles Seaton respondeu às nossas questões por e-mail, um dia antes dos concertos.
Vocês parecem ter adquirido um som mais maduro e controlado ao longo do tempo. Acredita ser esse o caso ou estou completamente enganado?
Sinto que, ao longo do tempo, nos tornámos mais focados enquanto artistas e penso que isso, à s vezes, se manifesta por muito controlo. Penso, também, que podemos ser mais desregulados e selvagens de maneiras que não podÃamos antes porque aprendemos a tocar melhor. À medida que ficamos mais velhos, temos menos e menos uma sensação de precisar de parecer cool. Então é um pouco de ambos.
Porque é que decidiram chamar “Destroy refinement†a esta digressão?
Penso que é, maioritariamente, um desafio a nós próprios para ultrapassar o “refinar†que vem naturalmente com o fazer um espectáculo (relativamente) semelhante por uns tempos. Uma lembrança para “sair da caixa†em que nos colocamos enquanto banda.
Como tem sido a experiência enquanto trio? Falta-vos algo?
Nesta altura, já somos um trio há quase tanto tempo como fomos um quarteto. Honestamente, não sei como seria ter um quarto membro. Temos ideias suficientes para 20 elementos! Hah! E depois se acrescentares o público que transformamos na nossa banda todas as noites... Isto é DEMASIADO complicado.
Mais a sério, penso que estamos a apreciar o desequilÃbrio positivo de três, sendo também um número primo, parece mais forte, mais substancial de alguma forma.
Trabalharam este último álbum no Japão e em “Island†dizem querer nadar no Golfo do México. A experiência importa mais do que o local?
Muitas vezes os dois estão ligados, mas diria que sim, claro. Há, muitas vezes, várias camadas de metáfora em torno de cada experiência. Contar histórias é sobre qual delas decides destacar.
Quão conscientes estão deste sentimento de Bondade que a vossa música emite? Quão intencional é? Pergunto porque sinto-vos como uma das poucas bandas que irradia com sucesso uma onda de comunidade e de Bem comum.
Tomo isto como um verdadeiro elogio. Muito obrigado. Acredito que tu irradias o que está por dentro. Nós tentamos ser muito positivos, criativos e temos boas intenções, ainda que, muitas vezes, não tenho a certeza sobre quanto disto transparece. É intencional, mas é mais o desejo natural de querer ter um impacto positivo no mundo. Viver uma vida de significado, sem que seja qualquer tipo de trip messiânica.
Ainda acreditam que o amor é simples?
Claro. O amor é muito simples. Romance pode ser complicado, na medida em que os humanos são complicados, mas o AMOR (de agape [conceito grego de amor]) é mesmo sempre irremediavelmente inocente e universal.
Desculpas pela questão banal, mas quais diriam ser as vossas influências neste momento? Como têm evoluÃdo?
Pessoalmente, tenho ouvido imensa música xamânica coreana e música tradicional coreana. Os meus álbuns favoritos sendo do falecido Kim Soek-Chul. Toca um instrumento de palheta dupla que é um tipo de oboé cónico e há uma percussão selvagem de gongo e cÃmbalo a apoiá-lo. É incrÃvel. Também tenho andado a ouvir Boredoms sem parar. E acabo de me mudar para Los Angeles, então tenho sido MUITO influenciado pelo sol. Tanto sol. SIM!
Tiago Dias
tdiasferreira@gmail.com
19/11/2011