Nasceu em Essex na Inglaterra, no seio de uma família que respirava música por todos os cantos, gira-discos e grafonolas da casa e aos seis anos começou a ter aulas de piano. O sonho de escrever canções e correr o mundo a partilhá-las foi-se tornando, pouco a pouco, uma realidade.
Clocktower Park, o disco de estreia editado pela Kitchenware, a casa de alguns dos discos dos Prefab Sprout como o conhecido
Steve McQueen, é a materialização desse sonho e agora Kate Walsh, com uma guitarra na mão e tenra idade, partilha as suas histórias com quem esteja disposto a ouvi-las - Portugal parece ser um país acolhedor, tendo em conta o número de vezes que nos visitou nos últimos tempos. Em entrevista, Kate Walsh partilha as memórias dos tempos passados no largo de Burnham On Crouch - é daí que vem o nome do disco - e traz-nos até aos dias de hoje, por entre referências a quem mais admira na música, experiências e motivações. Sempre com um olhar sobre o futuro.
Então,
qual é a sensação de ter apenas vinte e um anos e andar
a viajar o mundo inteiro apenas com uma guitarra nas tuas mãos?
É
uma sensação óptima. Tenho muita sorte de ter tido esta
oportunidade, apesar de não a ter como concedida. Sei que tenho de trabalhar
muito duro por esta oportunidade que me foi dada. Estou muito satisfeita por
me terem convidado para vir até Portugal e tocar as minhas canções.
Todas as pessoas daqui têm sido muito simpáticas e espero que isso
estabeleça uma precedência para o resto das minhas viagens.
És
muitas vezes comparada a cantoras como a Janis Joplin, a Joni Mitchell, a Joan
Baez ou mesmo a Aimee Mann…
Sou
uma grande fã da Joni Mitchell e sou bastante inspirada por ela, por
isso tomo isso como um verdadeiro elogio, ser comparada com ela. As minhas letras
são muito importantes para mim por isso ser comparada com a Aimee Mann,
cujas letras acho serem muito inteligentes e pensadas cuidadosamente, é
também muito lisonjeador.
Clocktower
Park, o teu álbum de estreia, é uma colecção
de canções simples sobre coisas simples da vida. É o disco
que sempre esperaste?
Na
verdade, acabámos de gravar
Clocktower Park em Janeiro de 2003,
e nessa altura as canções e a minha escrita foram muito relevantes
para a minha vida. Desde então cresci bastante, o meu estilo de escrita
desenvolveu-se e, agora, há diferentes coisas que importam mais na minha
vida.
Clocktower Park era o disco que eu queria e precisava de ter
feito naquela altura da minha vida. Agora o tempo seguiu em frente e estou pronta
para gravar um novo capitulo da minha vida.
O
que é que te leva a escrever uma canção? Onde encontras
a inspiração para escrever as canções e as letras?
Agrada-te transportar pessoas para os locais que tu crias?
As
minhas canções tendem a ser sobre as emoções que
sinto como resultado de uma experiência ou sobre a maneira como me sinto
em relação a uma pessoa ou alguma coisa. Não consigo simplesmente
sentar-te e decidir escrever uma canção de um momento para o outro.
Tenho de me sentir de uma certa forma com a guitarra nas minhas mãos,
depois a música, as palavras e a melodia surgem todas de uma forma espontânea,
de lugar nenhum. Às vezes assusta-me porque penso que talvez um dia possa
não ter esses sentimentos e não consiga escrever outras canções,
mas até agora tenho conseguido sempre fazer com que as coisas surjam
(bater na madeira!).
Uma
das coisas mais excitantes de se ser uma cantautora é a experiência
ao vivo. Como é, para ti, partilhar as tuas canções, pessoais
e íntimas, em frente de uma audiência?
Adoro
tocar ao vivo, claro. Fico sempre nervosa mas acho que isso é uma das
razões pela qual o fazemos, a adrenalina. Os meus concertos favoritos
são nos lugares mais pequenos e íntimos onde se pode mesmo criar
uma relação com a audiência, em vez dos lugares maiores
onde parece se sente que se está a tocar apenas para um mar de caras
anónimas. Gosto de pensar que as minhas letras são muito acessíveis
para quem me ouve e que nos possamos relacionar com as mesmas emoções.
É muito bom. Quando toco ao vivo e vejo na cara de alguém que
essa mesma pessoa está a perceber exactamente aquilo que estou a dizer,
mas ao mesmo tempo gosto de guardar algumas das coisas das canções
simplesmente para mim. Afinal de contas, as minhas canções são
a minha terapia.

Que
outras cantautoras ouves? Que discos é que tens sempre próximos
do teus leitor de cds?
Eu
acho que o Ed Harcourt é um dos
singer-songwriters mais talentosos
dos dias de hoje. Raramente estou mais do que uma semana sem ouvir um dos seus
discos. A Tori Amos é também muito importante para mim já
que foi depois de ouvir “Cornflake Girls” que eu decidi começar
a escrever canções. Apercebi-me pouco tempo depois que uma guitarra
era muito mais portátil e acessível para escrever e comecei a
aprender a tocar. Também admiro bastante o Rufus Wainwright, o Jeff Buckley,
os Longpigs e os Velvet Underground.
Regressando
a Clocktower Park. De onde surge o nome do disco? Qual é a mensagem
que tentas passar?
O
nome “Clocktower Park” surgiu de dois sítios verdadeiros
de Burnham-on-Crouch, o local onde eu cresci. A torre com um relógio
e o parque eram ambos locais onde as pessoas se reuniam, onde todos nós
estávamos. Por isso tudo o que aconteceu de realmente significativo,
tudo o que eu senti que queria escrever sobre aconteceu junto a esses locais.
Parecia apenas natural chamar o álbum de “Clocktower Park”.
Não há nenhuma mensagem para ninguém neste álbum,
apenas canções que explicam uma parte da minha vida e que, espero
eu, outras pessoas consigam relacionar consigo próprias.
Voltando
a Janis Joplin, ou a Joni Mitchell, por exemplo. Porque é que achas que
elas foram e são tão especiais? Os tempos são diferentes
agora, e as causas também…
Gosto
da Joni Mitchell e da Janis Joplin por diferentes razões. A Janis Joplin
era uma
performer apaixonada, teve uma vida tão problemática
e parecia sempre lançar tanta energia e raiva através das suas
canções e concertos. Acho que esse tipo de ligação
que uma pessoa pode ter com a música de uma forma tão natural
valerá sempre a pena ser recordada. Em relação a Joni Mitchell,
adoro-a porque seja lá o que for que ela escreve, seja sobre arrependimento,
amor, perda, alegria ou raiva, parece sempre cantar directamente do coração,
e é honesta sobre aquilo que escreve. A sua bela voz e as suas letras
serão sempre intemporais para mim.
O
que é podemos esperar de ti no futuro? Mais canções intimas,
mais discos?
Quem
sabe o que esperar. Tudo o que eu sei é que adoro aquilo que estou a
fazer e se eu se puder continuar a fazer discos e a escrever de forma verdadeira
e do coração, ficarei feliz. O meu estilo de escrita está
a desenvolver-se e a amadurecer a todo o tempo. Questiono-me sobre aquilo que
estarei a escrever daqui a cinco anos. É muito excitante não saber
muito bem onde a minha música me vai levar, apenas espero poder continuar
a fazê-lo para sempre.