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Tó Trips
Viagens


Tó Trips é quem o diz; viajar, e a vontade de o fazer, deve ser algo inerente a todos os humanos. E percebemos porquê: Guitarra 66, o primeiro disco a solo desta metade dos Dead Combo é um disco pleno de viagens de navegações; não necessariamente aquelas feitas por Tó Trips para a criação do álbum, mas sim aquelas que são acessíveis a quem pura e simplesmente o escutar. É um disco que já lhe estava no sangue e nas mãos; só precisava do timing certo. A guitarra eléctrica que domina as composições dos Dead Combo foi encostada para dar protagonismo ao trabalho acústico numa guitarra que continua enfeitiçada. Guitarra 66 não é só um dos melhores discos portugueses que 2009 nos devolveu; é também um retrato fiel daquilo que Tó Trips é enquanto músico e humano. Porque este é um disco tremendamente transparente. Tó Trips aceitou o convite para o ajudar ainda mais transparente, conhecer-lhe os caminhos e as faces. Não como se fosse um manual de instruções mas sim como um pequeno complemento à entrada nos territórios férteis de Guitarra 66.
Este é o teu primeiro disco a solo. Sentiste a necessidade de sair fora dos Dead Combo e percorrer este caminho sozinho?

Senti a necessidade de pôr cá para fora um disco que fosse só meu com as composições que faço no meu dia-a-dia de trabalho, sem mais nada somente eu, como sou um tipo que toco muito sozinho estava na hora de mostrar o que faço sozinho.

Disseste que este era um disco pessoal. De que forma é pessoal e com que intensidade? A começar pela capa?

É pessoal, porque dedico este meu disco á minha mulher, a qual aparece na capa e no interior do disco em fotografias que eu próprio tirei, a da capa é no Cairo e no interior, fotos de São Tomé, Nova Iorque, e Marrocos.

Este é assumidamente um disco de viagens. Foram fundamentais para construir este disco? De que forma?

Foram fundamentais, porque foram essas mesmas viagens que me fizeram e deram força e espírito para pôr este disco cá fora, também foram viagens que me ensinaram bastantes coisas e me fizeram um tipo mais feliz.

Viajar é essencial para ti? É algo prioritário na tua vida, no teu percurso?

Viajar deve ser uma das coisas obrigatórias na vida de qualquer ser humano. É uma prioridade, quem viaja sabe sempre mais. Alimenta o espírito e abre o intelecto. Sempre viajei desde a minha adolescência e sempre foi muito enriquecedor.

Neste disco trocas a guitarra eléctrica pela acústica. Há quanto tempo trazias isso dentro de ti? Ou é uma paixão mais recente?

A paixão surgiu ao ouvir música clássica e guitarra flamenca romântica já à uns anos, alem disso a minha mãe também toca guitarra já à uns anos, sempre houve uma guitarra clássica lá em casa dos meus pais, é uma coisa que já vem de família.

Achas que este é um disco que pode, de alguma forma, resumir toda a tua carreira até hoje? Na sua essência, mais do que musicalmente?

Acho que não, mas acho que é um disco onde tudo o que aprendi nestes anos todos, está lá na técnica e na atitude, é o disco mais cru que já fiz, estou farto de arranjos e rococós, uma música pode ser bonita com o mínimo possível, e foi isso que fiz. O que é mais difícil, mas também é mais verdadeiro e honesto.

Até onde esperas que este disco possa chegar? Quais são as reais expectativas deste disco, para lá das musicais e artísticas? Como esperas que a música portuguesa receba este disco?

Penso que é um disco, até agora bem aceite, tem tido boa aceitação por parte dos críticos e media, e é um disco que pode ser ouvido por qualquer pessoa de qualquer idade, que queira estar bem na vida e ser feliz.

Este é um disco isolado, no tempo e no espaço, ou pretendes continuar a editar música a solo com regularidade?

Pretendo editar música a solo, pois sou um gajo que não pára de tocar e compor em casa.

O projecto On The Road com o Tiago Gomes foi também importante para a construção deste Guitarra 66? Consegues medir isso?

O projecto On The Road com o Tiago foi uma experiência muito gratificante pois deu me a liberdade de fazer o que me apetecia e testar coisas ao vivo e em directo, de malhas que depois até gravei para o Guitarra 66 duas malhas delas estão lá em ambos os discos. É lógico com arranjos e sons diferentes.

A que guitarristas gostarias de ter mostrado este disco? John Fahey, Carlos Paredes, Marc Ribot? Ou qualquer outro? Ou a nenhum?

A todos eles, são pessoas que eu admiro bastante.

Não posso deixar de reparar na canção chamada Esmoriz. Que lugar ocupa essa cidade no teu disco e na tua vida?

Essa cidade foi onde gravei o disco em Junho de 2008 e é a casa de família da parte da minha mulher Raquel Castro. È uma cidade que descobri á muito pouco tempo, e gosto muito dessa parte da costa portuguesa que eu desconhecia. Normalmente ia sempre para sul para a costa Alentejana.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
03/09/2009