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Society for the Big Nothing
Free Pop, S.A.


Do encontro de vários projectos nacionais, algures em 2008, nasceram os Society for the Big Nothing, um colectivo com sede na Sublime Impulse, espécie de indústria criativa da música. Os membros fundadores são The Weatherman, LittleFriend, Sandy Kilpatrick, The Pilgrims of Light, Neutral Reporter e pouco mais se conhece sobre esta sociedade que não está na bolsa mas aposta grande nos próximos anos nos territórios da pop - eminentemente livre, dizem. Tudo aconteceu muito rápido. Foi ainda em 2008 que gravaram canções numa produtiva estadia no Gerês, foi também nesse mesmo ano que se deram as primeiras aparições ao vivo.

Para 2009 fica a confirmação de todas as apostas. Eles que pensam em grande, querem agir em grande. Fica no ar a promessa de uma caravana de festa - à semelhança da Magical Mystery Tour dos Beatles - com paragens em muitos locais do país. Tudo apoiado e justificado por um disco de estreia, que estará apenas dependente de uma concretização de todas ideias musicais que andam na cabeça dos fundadores da sociedade por estes dias. Alexandre Monteiro (The Weatherman) e André Tentúgal (Neutral Reporter) assumiram as funções de representantes dos Society for the Big Nothing e quiserem contar os pormenores deste colectivo, experiência em constante desenvolvimento, que actua no Maxime, em Lisboa, no próximo sábado, dia 24 de Janeiro.
Como é que surge esta superbanda? Pretendem colmatar algum vazio específico na música portuguesa, queriam fazer coisas diferentes daquilo que fazem nos vossos projectos próprios?

André Tentúgal: Acho que foi inevitável a banda surgir e não foi com a missão de preencher um vazio na música portuguesa, foi mais para dar mais um lugar à nossa criatividade mas neste caso um lugar-comum. Embora os nossos projectos sejam bastante distintos a nível sonoro há uma identidade que nos une, há uma liberdade nos caracteriza e, claro, uma grande amizade.

Alexandre Monteiro: Para mim a grande motivação foi a oportunidade de escrever música colectivamente, coisa que eu nunca tinha experimentado antes.

Os Society for the Big Nothing nasceram muito rapidamente. A vossa personalidade musical nasceu também assim tão rápido?

A.T.: Acho que ainda não encontramos a nossa personalidade musical, ou melhor, se ela já existe é com certeza bipolar, esquizofrénica… o que lhe quiseres chamar. Para já temos percorrido vários caminhos. Talvez quando pensarmos mais concretamente num álbum talvez as coisas ganhem mais definição, ou não.

A.M.: Nascemos assim que nos apercebemos que juntos formamos uma força criativa interessante, que não se restringe só a nível musical. Fizemos uma curta-metragem que venceu um concurso com larga margem, e isso encheu-nos logo de confiança – percebemos logo que a partir dali era urgente fazermos também música juntos. O John e o Sandy são escritores de letras fora de série, conseguem escrever boas letras em poucos minutos, e puxam as músicas para um lado mais melancólico. Eu faço um pouco o papel de produtor ao procurar a sonoridade da banda e juntamente com o André escrevemos melodias optimistas.

Sei que fizeram algumas gravações no Gerês. Como é que correram essas sessões? Foram produtivas?

A.T.: Foi incrível… Uma semana mesmo inesquecível. Aquele cliché de o artista ir em retiro para a montanha e criar isolado de tudo… foi mesmo isso. E resultou. Acordávamos, íamos almoçar a um restaurante local (ao único num raio gigante) – há que referir que a comida era brutal e completamente inspiradora… [risos] – voltávamos para casa e ficávamos lá a deixar as coisas fluírem naturalmente; aquecedor no máximo e as televendas japonesas a dar. Foi muito bom.

A.M.: Sim, em cinco dias fizemos cerca de sete demos. Eu gosto de sentir aquela pressão gigante de ter que fazer as coisas ali, naquele momento, e nunca acontecer o “ooh, amanhã vemos issoâ€. Foi muito bom, muitas vezes quando tocamos as músicas sou transportado para lá. Para mim ainda teve um efeito terapêutico porque tinha acabado de perder a namorada e isso ajudou-me a ultrapassar a situação. Foi uma roda-viva de emoções numa semana só.

Quantas canções têm já neste momento. Pretendem continuar com todas elas, compor mais algumas? Com que regularidade se reúnem?

A.T.: Bem, pergunta difícil ainda que quantitativa… [risos Temos, assim dentro do aceitável, uma dúzia de canções que poderão ter um futuro próspero… Algumas poderão fazer parte do álbum, outras foram feitas com outros propósitos (estou a lembrar-me que fizemos uma canção dedicada ao Halloween, por exemplo). Nós estamos juntos várias vezes por semana mas nem sempre para compor ou tocar. Como sabes fazemos os quatro parte da Sublime Impulse e isso ocupa-nos bastante tempo. Mas não temos pressa. O Weatherman vai lançar o álbum agora, segue-se o John e o Sandy (LittleFriend e Sandy Kilpatrick and the Pilgrims of Light) e se calhar eu próprio lanço um álbum ainda este ano. Já temos muito trabalho pela frente. Mas que a Society vai acontecer e ter um lugar, isso é certo.

Como correram os primeiros concertos de apresentação dos Society for the big Nothing? Atingiram as vossas expectativas?

A.T.: A nível de público foi surpreendente. Noites cheias. A nível musical claro que ainda houve muitas imperfeições que com o tempo vão desaparecer. Arestas a ser limadas. Mas a essência das músicas esteve lá e acho que as pessoas ficaram bem surpreendidas.

Tive a oportunidade de vos ver ao vivo há pouco tempo numa dessas ocasiões. Dividiam-se entre a folk e o rock, pisavam diferentes territórios. Pretendem continuar nessa divisão ou fixar-se num único território? Ainda andam a fazer descobertas?

A.T.: Sim, como te disse atrás, ainda não temos um caminho definido, estamos a fazer músicas que gostamos mas provavelmente vai haver um momento em que iremos escolher uma linha, talvez quando pensarmos o álbum. Acima de tudo acho que há pop nas músicas… pop livre como alguns dizem.

Esta sociedade, segundo sei, tem intenções de festa, de um certo gozo de vida, de celebração. Algo que se pode ver no vídeo que gravaram em Espinho recentemente. Estavam fartos de tanto pessimismo?

A.T.: Isso sem dúvida. Cansados de ouvir falar de problemas, crises e tristezas. Há muito mais a viver do que isso. Há sempre maneiras de dar a volta à negatividade. Nós temos esta solução: a nossa amizade, liberdade e vontade de ser felizes. O que agora queremos fazer é levar isso às pessoas, trazê-las para o nosso autocarro e fazê-las viajar connosco.

A Sublime Impulse é o impulso que esta sociedade precisa para crescer?

A.T.: Agrada-me essa tua forma de o dizer e achar que isso pode ser verdade. Acho que de certa forma pode ser um impulso. A Sublime Impulse é uma celebração da arte e da liberdade. Claro que a arte não reconstrói países, não salva economias, mas dá espaço às mentes, possibilita a experiência e nesse sentido leva a um crescimento. Nós vamos até onde nos deixarem.

Começa-se a falar de um tal free pop que estará relacionado com o vosso colectivo. O que é que nos podem contar acerca disso?

A.T.: Curioso que ainda há pouco referi isso. Já ouvimos falar dessa expressão associada ao que andamos a fazer. Inclusive que estamos a criar um movimento musical novo, esse tal “free popâ€. A nossa arte é pop e é livre. Como o nome me agrada a única coisa que te posso dizer é que acho que é uma boa designação, e se tivermos de ser catalogados, que seja por aí.

A.M.: Free pop from free pop...

Pretendem materializar todas estas intenções em breve num disco? Existem planos nesse sentido?

A.T.: Acho que até agora todos os projectos envolvidos na Sublime Impulse partilham as mesmas intenções e a mesma essência, por isso ao fim ao cabo os álbuns que vamos editar desde o primeiro – o Jamboree Park at The Milky Way, do Weatherman – até ao álbum do Sandy, do John ou mesmo o meu, representam essas características de que falei em algumas das perguntas anteriores: liberdade, amizade, alegria, festa, poesia e beleza. Isto tudo misturado de uma forma intimista e natural e acima de tudo muito despretensiosa. É esse o nosso plano.

A.M.: Eu diria que muito provavelmente 2010 vai ser o ano da Society. Vamos dar tudo!


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
22/01/2009