Com a ida da Margarida [Garcia] para Nova Iorque sentimos todos que os Curia ficaram um bocado em suspenso. Tudo o resto surgiu naturalmente, numa sequência natural de acontecimentos. O Riccardo comprou um Fender Rhodes, eu e o Manuel achámos que fazia sentido dar uma forma de grupo a estas colaborações que tÃnhamos vindo a fazer, o Fender era o instrumento que encaixava na perfeição no som que tÃnhamos vindo a construir. E assim no princÃpio de Outubro começámos a conversar sobre o que querÃamos fazer.
É curioso notar que dois meses depois da conversa que fundou o trio vocês já têm um disco cá fora. É sinal da vossa cumplicidade ou da própria natureza da música que praticam?
De que forma projectos como os Curia, em que vocês já tocam, "contaminam" o que fazem nos Dru?
D.M. – Olhando para os resultados, eu diria que não há contaminação.
M.M. - Curia não contamina nada, mas eu e o David contaminamos os dois. Esses grupos são constituÃdos por músicos com percurso individual relevante, ou seja, antes de existirem Curia e Dru, já existia o Riccardo Dillon Wanke, o Afonso Simões, a Margarida Garcia, o David Maranha e eu. Curia e Dru são nomes só, representam entidades diferentes precisamente porque cada uma delas integra músicos que, sem excepção, sabem o que querem fazer, e acham que estas mesmas formações fazem sentido no seu percurso (artÃstico, não social, note-se).
D.M. - A meu ver não faria sentido criar um novo grupo para fazer algo que não tenha uma identidade própria. Pode ser que quem veja de fora lhe pareça tudo o mesmo. Isso não consigo controlar e não me preocupa muito a maneira como os outros entendem a música.
Terão os Frango como banda de abertura. Nos últimos tempos, detecto uma aproximação entre os diferentes universos da música dita experimental portuguesa, uma mais ligada ao rock, outra menos. Concordam?
D.M. – Não me revejo muito na experimental… Prefiro pop.
M.M. - É-me complicado responder. Quando se fala em estilos e não se os definem só se conseguem mal-entendidos e pretextos para conversa de bêbedos. Já me disseram que toco jazz, experimental, blues, rock, improvisada. À partida, não direi que não a nada disso. Consigo encontrar elementos no que faço possÃveis de ser enquadrados em possÃveis definições desses estilos todos e se calhar em mais. Mas prefiro não me meter nisso, não penso as coisas dessa forma.
Como pessoas que fazem música há muito tempo, que caracterÃsticas detectam nesta nova geração, onde se incluem os Frango, o Afonso Simões, que tem tocado convosco em Curia, os Loosers e outros?
L' Aiguille parece-me andar algures entre um lado ambiental, textural, e outro lado mais jazz, quase de baladas, mas elÃptico, que está patente sobretudo na guitarra. Tiveram estas linhas em mente antes de partir para as gravações?
M.M. - O lado ambiental que o disco reflecte não foi de todo uma direcção mas o disco possui-o, concordo. A balada, o fraseado, a permanência e a respiração foram as linhas. E, pelo menos no meu trabalho mais recente, são sempre, mesmo a balada.
D.M. - Desde as conversas iniciais que a nossa procura sempre se fixou nesse campo e não podemos deixar de nos sentir satisfeitos de isso ser perceptÃvel na audição do disco.
M.M. - Desculpa, mas não te consigo, honestamente, justificar a escolha de uma montanha, mas assumo alguma responsabilidade.
Que notÃcias podem revelar dos vários projectos em que estão envolvidos?
D.M. – Da minha parte estou a trabalhar num disco a solo para a Sonoris e a começar as gravações do que será o novo dos Organ Eye.
M.M. - Disco a solo para Janeiro na Headlights, duo com a Margarida [Garcia] na Monotype de Varsóvia, se não me apetecer editar antes na Headlights, LP do duo com o Afonso [Simões] na Searching Records. Estes devem ser os próximos, mas não garanto.