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Apenino
Um raio de Sol


Com residência em Vigo, Apenino é o epiteto que Marco escolheu para mostrar a todos as canções que cozinha na sua paz. E aquilo que Apenino tem para dar são canções cuidadosamente construídas com um ukulele e electrónica de trazer por casa (elogio), democraticamente doseadas em discos delicados. O último deles, Un rayo de sol, editado em 2007, é um conjunto de temas onde habita uma quantidade de beleza suficiente para fazer com que a viagem seja proveitosa. Em entrevista ao Bodyspace, na convivência entre o português e o galego, Marco esboça uma possível explicação para o que é então isso de ser Apenino.
Como é que adoptaste Apenino como o teu veículo para fazer música? Sei que tiveste outros projectos musicais no passado… O que é que nos podes contar acerca disso?

Mesmo quando formei parte de algum grupo, eu sempre tive o desassossego de fazer canções sozinho, fechado no meu quarto. Na verdade, Dar Fulful, o meu anterior projecto, começou como uma experiência em solitário até que se juntou o Xabi. E quando aquilo terminou, decidi converter-me em Apenino, que é o que eu sou agora. Ainda que o facto de fazer música em solitário seja às vezes difícil, para mim é muito emocionante e muito cómodo, não discutes com ninguém.

No teu site oficial dizer que Apenino é Marco a brincar a músico, fechado num quarto cheio de brinquedos. É essa a tua forma de estar na música?

Custa-me assumir que sou músico, não sei, não me vejo assim como músico propriamente dito. Vejo-me mais como um intruso que está a brincar com isso que se chama música. A mim encanta-me fazer canções e brincar com instrumentos, mas não tenho um domínio sério sobre nenhum deles. O virtuosismo é algo que não me tira o sono e também não tenho muita paciência para centrar-me no estudo das teorias musicais. Bem, isso suponho que é algo que passa com muitos dos que estão a fazer canções. A grandeza da tecnologia é que nos permite fazer música sem sermos músicos.

Dizes que as tuas maiores influências são tocar ukulele e beber chá. O ukelele é neste momento o teu instrumento favorito?

Isso tem parte de brincadeira e parte de verdade. Encanta-me beber chá, sobretudo quando estou a gravar relaxadamente no meu quarto, por isso o chá é um elemento que tem muita presença na minha vida e na minha música. E o ukelele é um instrumento que amo e que não paro de tocar, é o meu preferido. Pelo seu tamanho, pelo seu som, pela sua fragilidade. Desde que o comprei deixei de tocar guitarra. No disco novo já não há guitarras, só há ukeleles, acústicos ou eléctricos, mas só ukeleles. Além disso, o facto de que a origem do ukelele seja o cavaquinho, um instrumento que os portugueses levaram para o Hawai, fez-me reflectir sobre muitas coisas. Eu vivo muito perto de Portugal, a vinte minutos da fronteira, e é um país que sinto muito perto e tem muita presença na minha vida, por isso o facto de que também o ukelele seja agora o meu instrumento principal, não deixa de ser curioso.

E achas que o chá combina bem com a tua música?

Perfeitamente, tem influência no meu corpo e na minha música.

Foi fácil para ti encontrar uma casa para mostrar as tuas canções ao mundo. Como é que acabas a editar na Jabalina? Como funciona a editora?

O certo e que não foi difícil, tive sorte. O Xabi, a outra parte de Dar Fulful, já tinha editado um disco com a Jabalina, com o nome de Loopside, por isso o contacto com a editora já estava feito. Quando eu mudei para Apenino o seu interesse pela minha música continuava intacto e o Tanis, o responsável da editora, decidiu continuar a apostar nas minhas canções. Eu sinto-me muito bem com a Jabalina e, nesse aspecto, considero-me com sorte. Jabalina é um selo pequeno mas muito conhecido na cena indie espanhola e já tem um catálogo amplo. É como uma pequena família e o Tanis mima muito cada uma das referências que descobre.

Como te sentes ao viver em Vigo? Como é que a cidade recebeu a tua música em termos de concertos e de público no geral?

Em Vigo sinto-me muito bem, é uma cidade muito musical, há muita gente a fazer coisas, algumas muito interessantes. De todas as formas, eu não faço muitos concertos nem exponho muito a minha música, por isso também não sou especialmente conhecido. Como vinha de outra cidade, ao princípio custa entrar na sua dinâmica, mas pouco a pouco estou a fazer-me a ela.

Nos últimos tempos quer-me parecer que a Galiza tem visto nascer muitos projectos musicais digamos indie. Como vês tu o cenário nesse aspecto?

A verdade é que sim, estão a sair muitos grupos. Recordo que na minha época com Dar Fulful estávamos quase sozinhos, mas agora há muitas propostas bem interessantes. O curioso é que não foi provocado por nenhum tipo de ajuda institucional, algo que faz com que isto seja muito mais atractivo.

E a Espanha em geral? Como é fazer música na Espanha?

Em Espanha também há muitos grupos mas pouco público interessado neles, creio. As vendas de discos baixaram muito, as discográficas pensam muito mais as suas contratações, mas o certo é que há muita criatividade e saem muitos grupos novos. Suponho que o myspace terá muito que ver nesta inundação. Mas a quantidade de bandas não traz consigo um aumento do público, para isso faz falta que os meios de comunicação mais potentes se decidam a dar a conhecer estas novas bandas, penso eu.

Que nomes de bandas espanholas apontarias como as melhores do país neste momento?

Bem, eu posso dizer as que mais gosto neste momento: Mus, Souvenir, Single, Parade, La Buena Vida, Ama, Triángulo de Amor Bizarro... Há muitas e isso está bem, há muita variedade.

O teu último disco é já de 2004. Quando pensas mostrar um novo álbum? Tens planos para isso?

Sim, já está pronto o meu novo disco, Un rayo de sol. Além disso, durante este tempo, estive e estou a fazer outras coisas, como o meu projecto El Oso Goloso ou a minha colaboração com Raro. No meu site, http://www.apenino.net, há informação acerca de tudo isso e estão as canções para serem descarregadas livremente.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
28/03/2008