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Gui Boratto
Techno multicolor


Há que dizê-lo com toda a frontalidade: Chromophobia é um dos discos techno do ano, e um dos discos ano assim sem mais títulos e catalogações. Por detrás dele está um brasileiro que dá pelo nome de Gui Boratto e uma editora que fala pelo seu nome, a Kompact. Ele que é arquitecto e também produtor, lá encontrou finalmente o tempo e a oportunidade para se lançar a sério num disco com principio, meio e fim e os resultados são óptimos - e muito apreciáveis. Os primeiros temas de Chromophobia apresentam um disco que merece ser ouvido até ao fim. Em entrevista, Gui Boratto revela algumas das questões em redor do seu trabalho e fala também do seu país, da sua cidade (a inevitabilidade que responde pelo nome de São Paulo) e sobretudo da sua relação com o mundo. Até porque Gui Boratto e o seu techno multicolor extravasaram há muito as barreiras do Brasil.
Arquitecto, músico e produtor. Como é que se gerem todos estes títulos? Alguma vez se cruza a arquitectura com a música?

Acho que música e arquitectura são praticamente a mesma coisa, porém, de diferentes formas de expressão da arte, de espaços, de cheios e vazios. Não autuo na arquitectura. Mas sou músico e produtor há alguns anos.

De 1994 até 2004 executou trabalhos para inúmeras editoras brasileiras e e internacionais. Ao todo foram 10 anos de trabalho para nomes como Pato Banton, Garth Brooks, Steel Pulse, Desiree, Mano Chao, Gal Costa, Chico Buarque, Fernanda Porto, Kaleidoscópio, Leila Pinheiro, entre outros. O que é que aprendeu nesses tempos que utilize agora?

Não só como engenheiro, mas como produtor, utilizo muito das técnicas de estúdio. Acho que um produtor não é aquele cara que fez umas musiquinhas num software qualquer, mas um indivíduo capaz de executar qualquer necessidade da música, como gravar vocais, instrumentos como cordas, baixo, guitarra, etc..

Como foi o passo de começar a fazer a sua própria música em 2005? Sentiu a necessidade de fazê-lo?

Sempre fiz meu som entre 4 paredes, mas acho que após os remixes do filme Cidade de Deus, em 2004, ocorreu aquele estalo em mim. Resolvi mandar algumas músicas para a Kompakt na Alemanha e lançamos nosso primeiro single: “Arquipâ€lago".

Como foram os primeiros tempos de descoberta de uma identidade musical e dos primeiros temas?

Como já fazia meu próprio techno há algum tempo, já tinha minhas manias, meu próprio estilo. Um techno lento, melódico, experimental.

Quando sentiu que estava pronto para um disco de estreia? Como foi a concepção de Chromophobia? Optou por não lançar nenhum dos temas dos vários 12†que editou…

Decidimos (eu, o Michael e o Wolfgang) fazer um álbum em Setembro de 2006. A primeira coisa foi de não colocar os hits anteriores lançados, como Arquipélago, Sozinho, etc. Não queria que o álbum soasse como uma compilação, como um “The Best of...â€....além de que, quis contar uma história no disco. Com começo meio e fim.

Como surgiu o enlace com a Kompakt? Imagino que esteja muito contente com a casa do seu novo disco…

Sim, claro. Somos uma grande família. O contacto foi como disse anteriormente. Mandei um CD e eles gostaram.

Como é que o resto do Brasil – fora de São Paulo – recebeu a sua música?

Com muita receptividade. Principalmente em Campo Grande, Cuiabá. Eles adoram minha música. Fico muito feliz.

Como vê o techno que é feito no Brasil hoje em dia? Que outros nomes avançaria?

Existem muitos talentos aqui no Brasil. Sempre gostei do som do Renato Garga. Um cara extremamente talentoso. Tem o Dudu Marote também, aka Prztz, que é talvez um dos caras mais experientes do nosso pais. É difícil dizer. Cada um tem seu estilo

Fora do Brasil a sua música tem sido muito bem recebida. Tem a noção disso? Desloca-se muitas vezes para actuar na Europa. Como são essas experiências?

Meu som tem uma característica europeia mesmo. Principalmente que eu não utilizo elementos típicos brasileiros, como conga, cuica, atabaques, etc.

É também director artístico e um dos donos, juntamente com o outro sócio e irmão Tchorta, do selo independente brasileiro, Megamusic, distribuído pela Trama. O que é que nos pode contar sobre a editora?

Nos últimos anos, lançamos alguns artistas, como DJ Zé Pedro, Kaleidoscópio, mas hoje, posso dizer que uma pequena plataforma e também nosso principal estúdio, onde realizamos as produções mais comerciais. Na verdade, estou por fora disso. Meu irmão que cuida dessa parte mais comercial.

Como é para você viver em São Paulo? Confirma a ideia que é uma cidade muito perigosa mas bastante forte culturalmente?

Bastante forte culturalmente, claro. Tem um dos melhores restaurantes do mundo e uma vida nocturna muito agitada. Perigosa? Sim, claro, como em qualquer grande metrópole. Estamos falando de uma cidade com quase 20 milhões de habitantes. Mas acho que o perigo maior está nas periferias da cidade.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
16/11/2007